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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Medo da Inteligência

Recebi hoje de uma de minhas primas uma mensagem que trata desse assunto. Eu já tinha percebido essa realidade, mas tinha minhas dúvidas se isso era uma prática generalizada.
Como muitas das mensagens que vemos na net, não dá para ter certeza da veracidade dos fatos ali relatados, mas, vale a pena citar o início do texto.
"Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: “Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta".
Isso, na Inglaterra do século passado. Imagina no competitivo mercado de trabalho atual, em especial num país como o Brasil, onde a conduta ética ainda é tão pouco valorizada?
Pensei em alguns exemplos práticos e reais sobre como isso acontece.
Em 1997, quando assumi pela primeira vez a gerência geral de uma agência bancária, já na primeira semana, identifiquei que um dos caixas executivos tinha uma percepção negocial mais apurada que os demais funcionários. Sua preocupação não estava limitada ao número de autenticações que era capaz de atingir a cada dia, mas sim com o resultado global da agência. Percebendo meu interesse em suas observações,  ele foi passando algumas sugestões muito interessantes. Achei estranho que um rapaz com tanto talento já estivesse há mais sete anos na empresa e continuasse exercendo uma função com poder de atuação bastante limitado. Assim que foi possível, optei por retirá-lo do repetitivo trabalho executado no guichê e alocá-lo na área negocial da agência.
A reação de algumas outras pessoas da equipe não foi nada boa. Fui questionada a respeito do "privilégio concedido a ele". Era incrível como, mesmo sendo indiscutível a dedicação e os bons resultados que ele alcançava, alguns colegas não escondiam a "raiva" que sentiam dele. Implicavam até com a pasta que ele gostava de carregar porque diziam que ele agia como gerente, mas não era gerente. Isso incomodava muito!
Entreguei a ele alguns trabalhos desafiadores. Uma vez, chegou a me perguntar porque eu passava para ele justamente os mais complicados. Eu disse: "Resolva esse abacaxi e você vai se destacar na visão do superintendente regional!". Nossa agência cresceu muito!
Eu fui promovida para uma agência maior e continuei dando espaço para que ele desenvolvesse seu talento. Cinco anos depois, nos separamos porque eu fui novamente promovida e ele assumiu a gerência geral de outra agência. Esse rapaz cresceu muito na empresa. Já recebeu convites para cargos de gestão nacional na matriz da empresa. Seu talento foi reconhecido por todos, mas sei que, até hoje, muitos implicam com ele.
Por outro lado, anos antes, quando ainda trabalhava na área de comunicação social, entreguei à minha chefe alguns projetos de marketing esportivo e cultural. Estando na mão dela, ela poderia ter autorizado que eu os executasse e o mérito seria da área como um todo, certo? Mas, o que ela fez? Engavetou os projetos! Não deu a menor atenção às minhas propostas. Sequer conversou a respeito com o superintendente regional. O tempo passou e, meses depois, quando ela estava de férias e eu a estava substituindo, o superintendente perguntou se eu teria alguma sugestão de ações de marketing. Claro que não perdi tempo e apresentei os projetos que estavam na gaveta. Ele  adorou e pediu que os implementasse imediatamente. Felizmente, ambos foram muito bem sucedidos! Entretanto, ficou claro que eu era a mentora dos projetos. No lugar de receber os parabéns pelo trabalho realizado pela equipe, minha ex-chefe foi questionada sobre o porquê de não ter apresentado os trabalhos antes.
Houve outras ocasiões em que vi gestores inseguros tentarem esconder o mérito de um dos membros de sua equipe. Certa vez, além de "roubar" a ideia de um colaborador, um verdadeiro "mau caráter" ainda procurou denegrir a imagem do talentoso funcionário colocando em dúvida a sua credibilidade. Ele conseguiu prejudicar temporariamente a carreira do talentoso profissional, mas pouco tempo depois novas oportunidades surgiram e ele prosseguiu em sua ascensão dentro da empresa. 
Em todas essas ocasiões, o tempo trouxe a verdade. O talento, a inteligência, a atuação ética e o comprometimento podem até dificultar o acesso a cargos mais poderosos, mas a persistência e o tempo são antídotos que costumam funcionar muito bem.
Já os medrosos, os medíocres, os que tentam esconder o mérito de seus subordinados, tempos depois, (às vezes, anos depois, é verdade....) sucumbem no descrédito e na própria incompetência.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Conduta ética nos negócios

A prática de denegrir os produtos da concorrência ainda é adotada por profissionais que pensam que agindo assim vão aumentar suas chances de fechar a venda
A necessidade das empresas crescerem e sobreviverem em mercados altamente competitivos, como é o caso do mercado brasileiro, envolve a realização de negócios que variam da venda no varejo até aqueles que envolvem cifras que chegam aos milhões de dólares e exigem pessoal altamente qualificado tanto em conhecimento técnico no que se refere aos produtos e projetos, como na condução dos relacionamentos negociais/pessoais e contratuais. É comum que as grandes negociações demorem anos até a concretização de uma única venda que pode nem vir a acontecer, como acontece, por exemplo, no segmento da indústria de aviões. Depois de anos de muitas reuniões, o negócio pode ser cancelado por uma pequena vantagem oferecida pelo concorrente.
Porém, a despeito da alta capacitação técnica e profissional, o treinamento do pessoal envolvido na maioria das empresas, não inclui questões importantes como a conduta ética. Não raramente, casos de comportamento antiético são registrados, sendo que muitos são motivados pela pressão sofrida para o cumprimento de metas ou pela atração exercida pelo valor da comissão envolvida.
A necessidade de gerar faturamento que viabilize a lucratividade e, portanto, a sobrevivência das empresas ou, no campo individual, os ganhos e promoções dos colaboradores que apresentam resultados mais expressivos, costuma gerar ansiedade na equipe da área comercial. Muitos se vêem tentados a utilizar argumentos de venda inadequados para convencer o comprador sobre a superioridade de seus produtos. Um desses argumentos bastante inadequado é o de desmerecer a qualidade do produto oferecido pela concorrência.
A partir da década de 1980, quando o mundo viveu uma fase de crescimento no comércio mundial, algumas empresas lançaram mão de estratégias corporativas antiéticas para tentar desqualificar o produto do concorrente, incluindo entre seus alvos empresas de mesma nacionalidade.
Empresas brasileiras participaram ativamente desta prática. Com o objetivo de conquistar novos mercados, empresas ou profissionais brasileiros que disputavam um mesmo negócio preferiam antes depreciar a concorrência, em vez de focar sua atuação em destacar a qualidade e as vantagens de seus produtos.
Assim, empresas éticas precisavam desatar os nós traçados pela concorrência para depois poder promover seus próprios produtos.
É claro que a compra de produtos de elevado valor agregado envolve a análise detalhada por parte dos compradores. As características intrínsecas e o preço dos produtos são diferenciais importantes, mas, sem dúvida, a credibilidade quanto à qualidade e durabilidade desses produtos, assim como a confiança nos serviços de pós-venda e assistência técnica pesam muito na hora de escolher o fornecedor.
Será que agindo de forma antiética as empresas que utilizaram esses artifícios conseguiram conquistar a confiança e semear a própria credibilidade?
O que esses profissionais não percebem é que um argumento inconsistente costuma provocar nos compradores comprometidos com a ética uma percepção oposta àquela que se pretende passar. Além disso, atitudes assim contribuem para semear o descrédito no próprio setor que representam. Se cada vendedor defende seus produtos colocando dúvidas na qualidade do produto oferecido pela concorrência, como o comprador var saber qual deles merece crédito? Então, é correto supor que todos podem estar mentindo, certo? Dessa forma, quem fica com maior chance de fechar a venda é o concorrente que agiu com ética e que se preocupou unicamente em demonstrar as qualidades de seu produto de forma honesta e objetiva, visando atender as necessidades do comprador. Agindo assim, conquistam a confiança e asseguram ainda novas vendas no futuro.
Neste momento de aumento significativo do volume de negócios entre as empresas brasileiras e estrangeiras, é fundamental que nossas empresas estejam atentas ao perigo que correm de comprometer não apenas a própria credibilidade, como também a credibilidade da nação, a credibilidade dos brasileiros.
Durante anos, turistas do Brasil foram vistos com muita desconfiança pelos comerciantes estrangeiros, especialmente nos Estados Unidos. Um exemplo disso é a obrigatoriedade direcionada aos brasileiros que fazem cruzeiros pela costa americana que, diferentemente dos turistas de outras nacionalidades, precisam pagar antecipadamente a gorjeta dos tripulantes. O motivo? Anteriormente, muitos tinham o costume de entregar vazios os envelopes destinados às gorjetas dos garçons e camareiros. A gorjeta é, na verdade, a maior parte dos salários da tripulação menos graduada e os valores a serem entregues costumam ser oficialmente “sugeridos” pela empresa.
Para analisar e decidir sobre um dilema ético as pessoas são influenciadas por suas experiências passadas, por sua consciência, caráter e personalidade. Exige análise de ganhos, benefícios, prejuízos e consequências, seja na visão utilitarista ou de princípios éticos adotados institucionalmente pelas empresas.
Para evitar que os diversos dilemas éticos sejam decididos com base apenas na percepção pessoal de cada profissional é que as empresas passaram a criar e divulgar seus próprios “Códigos de Ética”.
O que se percebe agora é que não basta criar e lançar esses códigos de conduta sem que haja também um trabalho efetivo de divulgação e de acompanhamento do comportamento dos colaboradores. É preciso discutir com as equipes o teor do código como forma de assegurar seu entendimento sobre o que a empresa considera certo na execução de suas rotinas. Alertar as pessoas sobre o que será ou não aceito é também uma questão de justiça na relação da empresa com seus colaboradores, pois evita que eles comentam erros e sejam punidos por desconhecimento ou ingenuidade.
Optar pela ética nem sempre é uma decisão fácil. Abrir mão de uma venda que pode envolver milhões de dólares e reduzir lucros imediatos para investir na conquista de credibilidade e de tranqüilidade na consciência corporativa. É muito complicado! Mas é a melhor maneira de assegurar a sustentabilidade da empresa e, como conseqüência, empregos e carreiras bem sucedidas.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A batalha pela Ética

Foi muito bom ler o artigo da jornalista Cláudia Pereira na revista "Brasíla em Dia" que trata da ética a partir da exigência contratual na nova diretora do FMI, Christine Lagarde, onde fica expressa a obrigação de adotar “o mais alto padrão de conduta ética”. http://migre.me/5eHT3
Em 2009, lancei, pela Editora Campus/Elsevier, o livro “Ética no Ambiente de Trabalho – uma abordagem franca sobre a conduta ética dos colaboradores”. Empolgada por conseguir editar meu livro por uma editora altamente respeitada, já que muitos dos livros que usei nas minhas duas pós-graduações eram editados pela Campus, antecipei minha aposentadoria para dedicar-me ao trabalho de divulgar o conteúdo do meu livro por meio de palestras, workshops e consultoria. Na mesma época, criei meu site www.trabalhoetico.com.br .
               Grande frustração!! Apesar do reconhecimento do valor do conteúdo do meu livro por pessoas gabaritadas como Mario Sérgio Cortella, Joel Dutra e Maria do Carmo Whitaker, meu trabalho não tem encontrado campo fértil para ser desenvolvido.
                No livro, por meio de exemplos verídicos por mim vivenciados ou presenciados em 28 anos de carreira, questiono a aceitação passiva de condutas que não apenas causam prejuízos a empresas, que muitas vezes passam despercebidos porque se perderem em meio ao “custo invisível”, como também destroem carreiras, causam desmotivação e muitas injustiças.
                Fui aceita no site www.palestrantes.org, dei algumas poucas entrevistas,  fiz algumas palestras, (até aqui sempre gratuitas) com ótima avaliação pelos presentes, mas, até agora, não passou disso. Percebo que o tema ética no trabalho não é estimulante porque pode provocar uma queda no volume de vendas.... e isso ainda é o mais importante! Respeito ao cliente, aos colegas e parceiros, política do “ganha-ganha”, valorização do “como” os resultados são obtidos ainda hoje ficam bonitos apenas como teoria. Implementar uma política de consequências justa e coerente causa desgaste pessoal e prejudica muitos interesses. Por enquanto, ainda está muito bem avaliado e valorizado os profissionais que alcançam resultados a qualquer preço! Até mesmo quando o resultado acaba gerando prejuízos futuros porque muitas empresas ainda não controlam adequadamente o pós-venda.
                Percebo que as empresas, de uma maneira geral, estão mais preocupadas em “parecer ética” por força do marketing e da necessidade de atrair investidores. Não estão preocupadas com a conduta ética dos seus representantes.
                Fiquei ainda mais decepcionada quando, ao encaminhar meu segundo livro para editoras, cujo título provisório é “Como Desenvolver a Consciência Ética nas Empresas”, recebi a negativa com o argumento de que se tratava de uma decisão estratégica porque “livros sobre ética não vendem”!
                Em conversas com profissionais de ética da FGV/SP e da UFRJ, entre eles a professora e autora de livros sobre ética Maria Cecília Coutinho de Arruda, que fez o prefácio do meu segundo livro, ouvi que a falta de procura por assuntos relativos à ética está sendo percebida por todos os profissionais da área. Maria Cecília é também diretora da ALENE – Associação Latinoamericana de Ética nos Negócios.
                Entretanto, acredito que existe luz no fim do túnel. O contrato da nova diretora do FMI nos traz alento e esperança de que possamos realmente trabalhar no sentido de melhorar o ambiente nas empresas e na sociedade.
                Os investimentos estrangeiros que chegam ao Brasil, e que agora estão sendo direcionados não apenas ao mercado financeiro, mas também às empresas, talvez façam aumentar a necessidade de uma atuação realmente ética.
                Só resta aguardar e torcer!!!

sábado, 9 de julho de 2011

Para que desenvolver a consciência ética?

Entre tantas coisas que precisam ser tratada dentro de uma empresa, principalmente dentro das grandes empresas, por que perder tempo em trabalhar as questões éticas?
Nas maiores empresas do mundo as questões relativas à ética empresarial já estão “administradas”. Em muitas, a direção e os conselhos administrativos constituíram a comissão responsável pela criação do código de ética. Esses códigos foram impressos e distribuídos a todos os colaboradores, fornecedores, acionistas e demais stakeholders. Em muitas dessas empresas, foi desenvolvido um canal de denúncias e aprimoraram-se os sistemas de controle na execução de rotinas. As ocorrências estão sendo apuradas e resolvidas pela nova área de sustentabilidade, ou pela ouvidoria, ou ainda podem estar sob a responsabilidade da área de gestão de pessoas, auditoria, compliance, enfim, cada empresa estruturou seu organograma para cuidar dos assuntos relativos à ética.
Entretanto, ainda não foi claramente percebido que muitas das providências adotadas para dar à empresa a chancela de “empresa alinhada com os valores éticos”, com exceção ao código de conduta ética, são rotinas reativas, dedicadas a identificar, apurar e punir ocorrências já identificadas.
A maioria dessas ocorrências não chega a comprometer o resultado da empresa. Muitas são tão “insignificantes” que nem chegam ao conhecimento das demais áreas.
Entretanto, existe um volume considerável de ocorrências que não aparecem, e, portanto, não podem ser mensuradas. Passam despercebidas e vão somar-se ao custo invisível das empresas.
Um bom exemplo é o que aconteceu em 2010 com a Britsh Petroleum – BP, uma empresa de energia global com mais de 80.000 empregados e com operações em mais de 100 países.
Em abril de 2010, uma explosão na plataforma petrolífera "Deepwater Horizon", de propriedade da Transocean com concessão da BP, provocou o afundamento da plataforma e causou a morte de 11 trabalhadores. A explosão deu origem a derramamento de petróleo no Golfo do México em proporções jamais vista.
Entre muitas histórias especulativas, circularam da imprensa mundial as notícias de que alguém desligou o sistema de alarme da plataforma para que os petroleiros pudessem dormir melhor. Outra versão diz que o equipamento estava com defeito e que o concerto exigiria a suspensão dos trabalhos na plataforma, o que causaria um prejuízo de 500 mil dólares/dia.
O principal executivo da BP, Tony Hayward foi duramente criticado por aproveitar o tempo livre para passear de iate com seu filho poucos dias depois do acidente.
O mais extraordinário é que antes do ocorrido no Golfo do México, a BP era uma das empresas de maior credibilidade e respeitabilidade do mercado internacional por suas ações referentes à sustentabilidade.
A British Petroleum gastou bilhões de dólares nas operações para combater o vazamento de petróleo no Golfo do México, que se tornou o maior desastre ambiental dos Estados Unidos, sem contar os gastos para resolver o problema do petróleo que ficou no fundo do oceano.
Os investidores começaram a bater em retirada. A empresa foi excluída do Dow Jones Sustainability Index, índice que reúne ações de empresas preocupadas com a sustentabilidade.
A venda acelerada das ações da BP fez com que o valor da empresa caísse em US 20 bilhões.
As conseqüências desse episódio ainda provocaram o aumento dos processos judiciais movidos por pessoas que tiveram seus negócios prejudicados.
Segundo Ricardo Voltolini, editor da revista Idéia Socioambiental, o episódio BP ensina algumas coisas para quem trabalha com sustentabilidade.
(1) As questões do universo da sustentabilidade se impõem como variáveis cada vez mais críticas no sucesso ou fracasso de um negócio. Escolhas erradas, falhas estruturais, decisões infelizes e deslizes em processos que promovam impactos sociais ou ambientais serão crescentemente punidos com perda de valor econômico.
O prejuízo será tanto maior quanto maior forem a comoção pública em torno do caso e o dano causado a um ecossistema ou a um grupo da sociedade.  
(2) Quando a sustentabilidade fica só no discurso, os riscos aumentam. O caso BP é típico. Dez anos antes, a empresa anunciou, por meio de uma milionária campanha de propaganda (estima-se algo como US$ 200 milhões), que passaria a ser chamada apenas pelas iniciais, usando, como recurso para fortalecer o novo posicionamento, o mote “Beyond Petroleum.”
Os números, no entanto, mostravam que a bandeira tinha ficado apenas no discurso. Em 2008, quando o Greenpeace tentou conferir um prêmio de greenwashing à BP, os borderôs revelavam um investimento pífio de pouco mais de 1% em energia solar. Óleo e gás continuaram recebendo 93% de financiamento.
O que se pode tirar do exemplo da BP?
A consciência ética determina que as decisões devem sempre ser analisadas sob aspecto da ética.
No caso da BP, a pessoa responsável por decidir quanto ao conserto do defeito no equipamento de segurança, ou quem optou por desligar o equipamento, certamente não considerou o risco ao qual estavam expondo não apenas o pessoal que trabalhava na plataforma, mas também a companhia e todo um ecossistema, além comprometer enormemente dos meios de sobrevivência de milhares de famílias.
Essa decisão implicava num Dilema Ético, já que considerava o não o custo do conserto em si, mas o quanto a BP perderia durante os dias de interrupção na operação de extração do petróleo.     Analisada sob todos os focos de análise do dilema ético, conseqüências, integridade ou princípios, a decisão não estava alinhada aos valores éticos.
Agora surge a pergunta que não quer calar: quanto custou à Britsh Petroleum ou a “Beyond Petroleum” a falta de preparo de um empregado para tomar decisões alinhadas com os valores éticos?
A ética é por natureza flexível, pois varia conforme o ponto de vista de cada pessoa. Um bom exemplo é quando duas os mais pessoas disputam uma promoção. O selecionado para assumir o cargo vai entender que sua escolha foi justa, mas os outros, certamente, não terão a mesma opinião a respeito aquele resultado.
Pessoas preparadas para identificar os dilemas éticos e avaliá-los corretamente têm mais chances de evitar as próprias condutas equivocadas e também de perceber, criticar e denunciar as condutas antiéticas de outras pessoas.
Não obstante, o retorno do investimento no desenvolvimento de pessoas contribui para criar novas gerações mais éticas, pois os conceitos aprendidos na empresa serão, certamente, utilizados nos demais grupos sociais freqüentados pelos empregados, como: família, amigos, igreja e condomínios.
As avaliações de condutas éticas deverão influenciar também as decisões referentes ao meio ambiente, ao convívio social e as relações humanas dentro e fora da empresa.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Monumento à Incompetência

Recebi este artigo por e-mail, não sei da onde foi retirado, mas admirei a sensibilidade do autor. Reconhecer o valor das pessoas exige analisar seus feitos dentro do contexto em que foram realizados. Caso contrário, pode-se cometer grandes injustiças. Vale a pena a leitura!

Em 1999 o corpo do alpinista inglês George Mallory foi encontrado a cerca de 8.200 metros de altitude no monte Everest. Mallory desapareceu em junho de 1924 quando estava próximo ao cume. Uma afirmação de um dos alpinistas que encontrou o corpo me chamou a atenção:
“Fiquei impressionado com as roupas que ele usava. Hoje em dia, no inverno, qualquer pessoa caminhando pelas ruas de Seattle está mais protegida do que Mallory no Everest em 1924.”
Lembrei-me dessa história durante uma visita que fiz a uma empresa na qual fui recebido pelo principal executivo, que fez questão de se identificar como CEO – Chief Executive Officer. Bonito né? Depois fui apresentado para o CMO, o CFO e o COO, executivos de marketing, finanças e de operações, respectivamente. Todos jovens MBAs formados no exterior.
Ao percorrer a empresa passamos por salas vazias, mesas vazias e grandes áreas vazias. E os jovens CEO, CFO, CMO e COO diziam com orgulho: “Isto aqui já esteve apinhado de gente. Fizemos uma reestruturação ao longo dos últimos dois anos e reduzimos em 45% o numero de pessoas, enquanto nossa produtividade cresceu 22%! Fazemos questão de deixar esses lugares à vista de todos. São nosso Monumento à Incompetência.”
Em minha palestra O Meu Everest afirmo que um dos ensinamentos mais importantes da viagem ao Campo Base da maior montanha do mundo foi aprender que, a cada vez que olhasse para cima, eu deveria olhar cinco vezes para baixo. Quem pratica montanhismo sabe do que estou falando. Quando você está no pé da montanha e olha a trilha que vai subir, dá um frio na barriga. Você vê as pessoas lá em cima, como formiguinhas, e sabe que para chegar lá terá que fazer uma escalada de oito, nove horas. Então ataca a montanha. Um passinho aqui... outro ali... num processo penoso. Quando olha para cima, percebe que seu objetivo ainda está muito longe, mas ao olhar para baixo a mágica acontece. Você descobre que o campo base de onde saiu está láááááá embaixo. Cada olhada para baixo dá a certeza de que você progrediu, gerando energia para subir mais. Isso é automotivação: a certeza do progresso nos empurra para cima.
O que aqueles jovens COs chamaram de “Monumento à Incompetência” é na verdade a lembrança dos pioneiros que, com a carga às costas, sem computadores, celulares e internet, assumiram o risco de sair lá do “campo base” para desenvolver o negócio que eles hoje dirigem. Avaliar o passado pelas lentes do presente e chamar de “incompetência” o esforço das pessoas que passaram pelos anos de hiperinflação, incertezas, regime fechado, tecnologias rudimentares, abertura econômica e dólar alto é como observar hoje as roupas de George Mallory e achar que ele era um incompetente. Não era. Usou o que havia de melhor na época e por pouco não atingiu seus objetivos.
Parabenizei os COs pelo sucesso e deixei com eles uma recomendação:
- Rebatizem os “Monumentos à Incompetência” como “Memoriais aos Heróis do Passado”. Foram eles que trouxeram vocês até aqui em cima
Por Luciano Pires (Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Ética no Ambiente de Trabalho

Buscando assegurar a sustentabilidade, milhares de empresas estão investindo em ações destinadas à preservação do meio-ambiente, a utilização racional de materiais e de energia, além de buscar melhorar a qualidade de seus produtos e/ou serviços. Esses investimentos estão alinhados com a criação e manutenção da imagem de empresa ética.
No que se refere à etica propriamente dita, os investimentos estão sendo direcionados não apenas às ações de marketing, como também às ações internas, especialmente na criação de Comitês e Códigos de Ética.
Entretanto, ainda falta investir junto ao segmento mais importante:  os colaboradores da empresa.
É preciso investir no desenvolvimento da consciência ética junto às pessoas que trabalham na empresa e que são, portanto, as pessoas que a representam. Uma empresa só será realmente ética se contar com o trabalho de pessoas comprometidas com a ética. Afinal, são as decisões e atitudes de cada colaborador que constroem a história e que dão vida à empresa.
Apesar de ser claramente uma necessidade absoluta, os investimentos no desenvolvimento da consciência ética ainda não está sendo priorizado pela direção da maioria das empresas.
Talvez, essa inércia esteja amparada no seguinte dilema: mais Ética ou mais Vendas?
Infelizmente, parece que o custo invisível que as condutas antiéticas representam e que influenciam negativamente nos resultados dos negócios e na lucratividade ainda não foi devidamente avaliado.
O risco existe! Os prejuízos também! Mas não são facilmente percebidos e, por isso, não estão incluídos entre as prioridades das empresas: aumentar a lucratividade.
A concepção pessoal de cada colaborador, pode variar conforme a formação, a cultura, o caráter e as vivências individuais. A ética é flexível, portanto, pode variar conforme a cultura, a origem, a vivência e o ponto de vista de cada indivíduo.
Sendo assim, diferentes interpretações de conteúdo e análises de situações cotidianas do trabalho, comumente dão origem a decisões não alinhadas com o ideal de comportamento ético desejado pela direção.
Atitudes impensadas podem gerar grandes prejuízos, destruir a reputação da empresa e/ou a carreira do empregado. Portanto, é recomendável e mais justo com as pessoas que as empresas procurem reduzir esse risco dando oportunidade a seus colaboradores de conhecer a cultura corporativa desde o momento da admissão no emprego.
Embora seja praticamente impossível controlar a conduta ética de cada colaborador, é fundamental esclarecê-los a respeito da linha de conduta considerada adequada pela empresa. Trata-se, inclusive, de uma atitude de lealdade da administração para com seus colaboradores, já que é justo que eles sejam alertados de forma clara, consistente e contínua sobre os tipos de conduta que serão ou não aceitas, impedindo assim que haja erros provocados por desconhecimento, por desinformação e, até mesmo, por ingenuidade.
Hoje, é fácil perceber que condutas antiéticas são praticadas no cotidiano das empresas e são aceitas com certa tranquilidade. Práticas desleais, conflitos de interesse, assédio moral e tantas outras práticas equivocadas são percebidas pelas equipes, mas permanecem impunes. Muitas vezes ficam restritas às conversas de corredor porque as pessoas não encontram um canal de denúncias ou não se sentem seguras para fazer essas denúncias.
Estamos vivenciando agora uma época de mudança cultural. Ela vem acontecendo de maneira lenta e gradual. Com o crescimento da economia brasileira, somado aos importantes eventos esportivos que o Brasil vai sediar, está aumentando muito os investimentos estrangeiros que agora estão sendo direcionados não apenas ao mercado financeiro, mas também às empresas.
Para ser tornarem atraentes a esses investimentos, as empresas terão que ser éticas, e não apenas parecer éticas.
Investir no desenvolvimento da consciência ética reduz o risco dos investidores e o risco dos negócios. A criação de um ambiente mais saudável, onde as pessoas tem mais espaço para desenvolver suas habilidades sem medo de serem “atropeladas”, contribui para a manutenção e atração de talentos.
Finalmente, investir no incentivo à conduta ética alimenta um ciclo virtuoso que certamente vai contribuir para que haja mais confiança e credibilidade contribuindo para melhorar o ambiente ético na sociedade como um todo, já que o que se aprende dentro da empresa poderá ser utilizado fora da empresa.
É também, sem excesso de otimismo, um caminho para a formação de futuras gerações mais éticas.