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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ética e Lucro

     Uma comparação entre o lucro e o ar que se respira diz que: "é impossível uma pessoa sobreviver se parar de respirar, como é impossível uma empresa sobreviver sem ter lucro. Mas ninguém vive só para respirar, respirar é simplesmente uma necessidade essencial da sobrevivência. Aumentar a quantidade de ar que se respira não implica obrigatoriamente na obtenção de melhor saúde. Assim também é o lucro - nenhuma empresa atua só para ter lucro, o lucro é um dos fatores necessários à sobrevivência da empresa."   
    A ideia de incompatibilidade entre lucro e ética está completamente superada, pelo menos entre os estudiosos do assunto. Entretanto, não é isso que se percebe nas decisões estratégicas de algumas empresas geridas por pessoas menos preparadas ou menos éticas. 
   A busca desgovernada pelo aumento permanente da lucratividade compromete a sustentabilidade empresarial. A visão de curto prazo, a ameaça das penalidades previstas para quem não consegue alcançar metas nem sempre justas ou factíveis, faz com que muitos negócios sejam fechados a qualquer custo, mesmo que esses negócios venham a causar prejuízos imediatos aos clientes e/ou para a empresa face a insatisfação gerada ou a ações judiciais decorrentes desses maus negócios.
     Embora ética e lucro não sejam incompatíveis, é inegável ser mais fácil e rápido conquistar resultados econômicos quando se deixa de lado os valores éticos. Essa verdade circunstancial acaba por seduzir profissionais cuja formação de caráter não é das mais sólidas. Afinal, mesmo que o caminho antiético seja mais atraente, o simples fato de alguém optar por resultados imediatos em detrimento da correção de conduta já demonstra o caráter de quem assim decide.
    O caminho ético será a melhor opção para as pessoas que consideram preferível ser honesto a ser desonesto. É questão de princípios. Quanto vale a honra e a credibilidade de uma pessoa ou de uma empresa? Já as pessoas que praticam a visão de longo prazo, que se preocupam com as consequências de seus atos e com sua própria reputação, sabem que optar por fechar negócios descolados da ética é a construção segura do caminho que leva à falência da empresa e compromete a própria credibilidade/carreira, assim, não hesitam em decidir e agir com lisura.
    O sucesso deve estar atrelado ao bem estar de todos os envolvidos: empresa, funcionários, fornecedores e clientes.
    A ética é pessoal e por essa razão pode haver empresários éticos e antiéticos. Como as empresas não tem vida própria, são meros entes jurídicos, elas espelham as decisões de seus dirigentes. É por isso que classificamos uma empresa como sendo ética ou não. Quem despreza a atuação empresarial pautada na ética não assume compromisso pessoal com a honestidade e, provavelmente, é cético quanto à possibilidade de se construir uma sociedade mais justa.
    Diante do acirramento da concorrência e da entrada no Brasil de novos players de mercados externos, a prática da ética exige novos desafios e criatividade. É importante que o empresário tenha firmeza para considerar que a honestidade é um valor que está acima do valor econômico e que atuar de forma ética é a melhor forma de enfrentar concorrentes sem arriscar a credibilidade da empresa e sua permanência no mercado.
   Uma empresa que foca no lucro imediato e aufere vantagens indevidas junto a clientes, parceiros ou fornecedores, provoca desgaste na sua imagem, o que pode comprometer sua participação em negócios futuros. Além disso, empresários e executivos éticos vão preferir manter relacionamento com empresas éticas, ou seja, ser antiético aumenta a probabilidade de também ter que lidar com pessoas e empresas antiéticas.
      Não se pode desconsiderar a tendência cada vez mais forte de que os clientes estão aprimorando senso crítico nesse sentido. Ninguém quer ter prejuízo nem ser enganado e os clientes acabam percebendo que foram ludibriados. Com o tempo, é certo que vão passar a cuidar mais na hora de voltar às compras e preferir empresas com boa reputação no mercado.
     A ética pode não ser o caminho mais lucrativo, mas é o caminho que trará sustentabilidade e um maior número de negócios ao longo do tempo.
     Ainda é prematuro considerar a ética como um fator de competitividade, mas já se pode observar alguns exemplos de empresas que sofreram boicotes a seus produtos por utilizarem mão-de-obra infantil/escrava ou por demonstrarem falta de preocupação com a preservação ambiental.
    Esses riscos espantam grandes e experientes investidores que preferem aplicar  seus recursos em empresas éticas como forma de fugir de perdas e assegurar lucros.
   Já existem bancos e financeiras especializadas em preparar portfolios de investimentos direcionados apenas para empresas consideradas como socialmente responsáveis e éticas. As administradoras de investimentos sabem que o retorno costuma ser mais atraente e menos arriscado, mesmo que seja menos expressivo num primeiro momento.
     Por falar em investidores, tornou-se evidente que empresas que mantêm péssimas relações trabalhistas costumam apresentar um enorme passivo e baixa produtividade, além de não conseguir manter empregados talentosos em seus quadros, o que reflete negativamente nos resultados operacionais. Empresas que poluem o meio ambiente ficam sujeitas a arcar com multas de grande valor, aplicadas por órgãos reguladores, comprometendo o resultado. 
    Apesar de tantas evidências de ser a adoção da ética o caminho mais seguro e inteligente, ainda impressiona perceber o quanto estamos longe de um mercado de maioria correta e justa.
     Entretanto, há que se perceber também que estamos evoluindo, que estamos diante de uma tendência e que melhores resultados e maior tempo de existência terão as empresas que mais rapidamente perceberem que o "ser ético" torna tudo mais fácil: os negócios, os relacionamentos e o lucro permanente.
      
Baseado no livro "Ética no Ambiente de Trabalho"