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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A falta de ética de gente honesta

Imagem copiada da internet sem indicação de autoria
A mídia nacional vem dando destaque às decisões do STF no julgamento dos envolvidos no escândalo de corrupção apelidado de "mensalão". É digna de admiração a atuação do relator Joaquim Barbosa. Suas considerações são claras e baseadas em farta documentação que resultaram na condenação dos culpados.
Verdade que ainda falta saber se algum dos condenados vai realmente cumprir pena na cadeia, em especial aqueles mais intimamente ligados ao ex-Presidente Lula.
Infelizmente, este é apenas mais um dos inúmeros escândalos de corrupção que pipocam pelo país a todo momento, embora seja o maior e mais abrangente já apurado pela justiça. A cada novo escândalo, a palavra "ética" volta às manchetes, como se apenas nessas ocasiões a falta de ética estivesse presente, aparecendo sempre relacionada unicamente à falta de honestidade.
Assim, no artigo de hoje gostaria de tratar da falta de ética de pessoas honestas. 
Ética e honestidade são aspectos humanos que estão estreitamente ligados, mas são muito diferentes.
A pessoa desonesta é, obrigatoriamente, também antiética. Penso que desonestidade é atentar contra a propriedade alheia, seja ela pública ou privada e inclui o ato de enganar, trapecear, mentir, desonrar e outras tantas ações indignas.
Já o antiético pode faltar com a ética sem mentir, sem enganar e sem furtar ou roubar.
Falta com a ética aquelas pessoas que agem em benefício próprio sem respeitar as regras de convivência, sem se importar em estar desrespeitando o direito do outro e coloca os seus interesses acima do bem estar comum.
Isso acontece a todo momento e em todos os lugares. Pior que esse tipo de conduta não costuma provocar nenhum tipo de punição ao autor.
Embora meu foco análise seja a conduta ética no ambiente de trabalho, onde todo tipo de atitude antiética acontece., para variar e incluir também as pessoas que não trabalham em grandes empresas, hoje prefiro tratar da falta de ética em outros ambientes, com especial destaque para o trânsito das grandes cidades e as relações de convivência dos moradores de um mesmo condomínio.
O trânsito, como todos já sabem, tem o poder de transformar e transtornar as pessoas mais honestas. A vaidade humana de não ser colocado em situação de demérito ou desvantagem, seja ao ser fechado, ser ultrapassado ou quando disputa uma vaga no shopping, ou ainda quando decide ocupar a qualquer custo os próximos quatro metros de asfalto com outro carro, tem o poder de criar seres momentaneamente irascíveis, grosseiros ou mesmo insanos.
Quantas vidas já se perderam por discussões claramente irrelevantes?
Já nos condomínios, onde todos se sentem (e são) donos do pedaço, a coisa ganha ares inacreditáveis!
Condomínios apresentam as condições ideais para que as pessoas de caráter duvidoso, caráter esse que permanece contido em outros ambientes, não consigam esconder a verdadeira criatura que habita seu ser verdadeiro e deixa transparecer todo o seu potencial destrutivo.
Para essas pessoas, as regras estabelecidas na convenção ou no regulamento interno pouco importam - a menos que sejam úteis para defender seus interesses pessoais. Caso contrário, acreditam que, por serem donos do pedaço onde moram, sentem-se no direito de fazer o que querem sem a menor preocupação com o direito do vizinho.
Outro dia vi afixado no elevador de um grande condomínio da Barra o seguinte aviso: "Cientistas do mundo inteiro estão buscando desenvolver um mecanismo que faça com que os carrinhos de compra aprendam a utilizar o elevador sozinhos para retornar ao local onde devem permanecer disponíveis para os demais moradores. Enquanto isso não é possível, pedimos que retornem os carrinhos à garagem."
Escrito assim, pode até parecer engraçado, mas tudo fica muito irritante quando você chega do mercado com seu carro cheio de compras e não encontra um único carrinho disponível para levar tudo até seu apartamento.
São inúmeros os casos de falta de respeito ao direito dos outros, ou seja, falta de ética:

  • Recusa em executar consertos hidráulicos de problemas que estão provocando infiltrações e vazamentos no apartamento do vizinho;
  • Cachorros de grande porte passeando em locais públicos sem focinheira;
  • Festas barulhentas que invadem a madrugada;
  • Lixo tratado sem os devidos cuidados de despejados de qualquer maneira;
  • Críticas e acusações falsas que são alardeadas sem qualquer prévia averiguação e causam danos à reputação de alguém;
  • Carros, motos e bicicletas que circulam em locais impróprios e/ou em velocidade inadequada, colocando em risco a integridade física dos outros;
  • Tratamento grosseiro das pessoas que prestam serviço ao condomínio como porteiros e faxineiros e até mesmo do próprio síndico.
Curioso é que até mesmo desembargadores, juízes, advogados e outros profissionais que, pelo menos na teoria, estudaram para fazer valer a Lei para todos, são capazes de assumir ares de superioridade e não se intimidam em desrespeitar as regras quando acham que seus interesses são mais importantes que o direito dos demais!
Enfim, são muitos os casos de desrespeito às regras e de incivilidade que acontecem todos os dias e que revelam a triste realidade de que alguns seres humanos, apesar de honestos, ainda precisam evoluir muito, precisam aprender muito para serem éticos!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Criatividade Usurpada

Imagem copiada da internet (sem identificação de autoria)
Profissionais talentosos costumam ser inteligentes, comprometidos e criativos, mesmo quando não apresentam alto nível de escolaridade. Essa combinação de habilidades é muito valorizada nas boas empresas, pois são fundamentais na busca de soluções e inovações em rotinas e produtos.
Novas e boas ideias têm potencial para gerar um diferencial competitivo importante, além de contribuir para redução de custos e/ou aumento da produtividade e dos lucros.
Por isso, profissionais criativos são tão importantes e disputados por empresas que têm a cultura de dar espaço para que seus empregados apresentem sugestões, independentemente do nível hierárquico ao qual pertençam.
Provavelmente o caso recente mais famoso de roubo de ideia seja o que aparece no filme "A Rede Social", que conta a história da criação do Facebook.
Nem todos os gestores de equipes são criativos. Mas a falta dessa habilidade não o desqualifica para a função de comando. Entretanto, só quando um gestor exerce também o papel de líder, ele é capaz de estimular a criatividade de sua equipe, ouvir sugestões e, quando percebe que está diante de uma boa ideia, apresentá-la aos seus superiores, juntamente com o autor daquela ideia.
Como sabemos, o mundo corporativo está muito longe de ser um mar de rosas sem espinhos.... Poucos profissionais que ocupam cargos de comando são também líderes. O poder, por mais insignificante que seja, tem a capacidade de despertar o pior nos seres humanos, e entre as piores características está o medo de perder o poder. O desejo de manter o status é capaz de calar o bom senso e aflorar o lado mais sombrio de pessoas medíocres e de caráter duvidoso.
Os chefes que se enquadram nesse perfil, quando se vêm diante de um empregado talentoso e criativo que apresenta boas ideias tendem a adotar um dos seguintes comportamentos:
1 - Não percebem o valor e não dão espaço para desenvolvimento das propostas apresentadas;
2 - Percebem a boa qualidade da ideia, mas temem que seu subordinado ganhe visibilidade e se torne uma ameaça à manutenção do próprio cargo;
3 - Estão demasiadamente ocupados para "arrumar mais trabalho" ou são avessos a inovações e preferem "engavetar" a proposta;
4 - Percebem a boa qualidade daquela ideia e apresentam-na a seus superiores como se a ideia fosse de sua própria autoria.
Qual dessas atitudes é pior? Em todas as hipóteses, a grande prejudicada é a empresa; seja porque deixou de implementar alguma melhoria em suas operações/produtos ou porque vai ganhar mais um empregado desmotivado que, na primeira oportunidade, vai tentar deixar a empresa e procurar outra que lhe dê mais oportunidades de crescimento.
Por mais que alguém se esforce para assumir a autoria de uma nova e boa ideia alheia, provavelmente seus superiores vão acabar percebendo que se trata de uma armação. Seja por meio da "rádio corredor", pela  denúncia de quem teve sua criatividade usurpada ou porque o próprio usurpador não sabe como apontar os caminhos que o levaram àquela ideia e nem é capaz de implementar adequadamente as mudanças. Por outro lado, às vezes é difícil saber de quem foi a ideia original em um ambiente de desenvolvimento de projetos em que todos participam. O ideal é documentar tudo.
Ainda assim, o que se verifica nessas ocasiões é que os superiores não parecem estar dispostos a "comprar a briga" do empregado prejudicado e preferem aproveitar a ideia sem questionar a autoria.
Não obstante, líderes que sabem a maneira correta de aproveitar a criatividade alheia acabam por conquistar prestígio e reconhecimento porque os resultados advindos do aproveitamento das boas ideias vai a melhorar o desempenho de sua equipe e de sua área,ou seja, seu papel como gestor tende a ser enaltecido.
Além disso, o reconhecimento do mérito de todos os envolvidos estimula a participação dos demais empregados que passam a observar com mais atenção suas rotinas em busca de alguma sugestão de melhoria. Todos querem ter seus méritos reconhecidos e ninguém é tão desapegado que não se incomode em ser lesado.
Escrevo sobre este assunto com total conhecimento de causa, porque fui vítima de "roubos" diversos durante meu tempo de trabalho na empresa onde permaneci por 28 anos.
Nas ocasiões em que a chefia "engavetou" meus projetos, tão logo surgiu uma nova oportunidade, reapresentei os mesmos trabalhos ao chefe imediato de quem havia engavetado. Minhas propostas foram implementadas e eu ganhei todos os méritos sozinha, ou seja, nem precisei dividir ou louros com o chefinho.
Houve outras duas ocasiões em que meus projetos foram roubados de forma descarada. Nessas duas ocasiões, ficou claro para os superiores envolvidos que minhas ideias haviam sido indevidamente apropriadas, mas, pelo menos a princípio, nenhum dos usurpadores sofreu qualquer repreensão por sua atitude.
Da primeira vez que fui vítima de roubo, foi ainda mais difícil porque o gestor do processo alvo do meu projeto de otimização elogiou muito as minhas propostas, mas informou oficialmente que meu trabalho não fora aprovado, o que prejudicou muito a minha avaliação de desempenho. Poucos meses depois, ele implantou praticamente todas as propostas que constavam daquele projeto, mas como se tivessem sido criadas por ele...
A frustração é grande! Leva um tempo para recuperar a disposição de pensar, preparar e apresentar uma nova ideia.
Já passou da hora da direção das melhores empresas agirem para não permitir a permanência em cargos de comando de profissionais sabidamente desonestos.
É importante prestar mais atenção na conduta de seus gestores e inibir atitudes que só contribuem para desmotivar bons profissionais, afugentar talentos e incentivar a formação de novos profissionais que vão incorporar a cultura do vale-tudo na defesa dos próprios interesses.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O papel do gestor na conduta ética dos colaboradores

Muito se tem falado sobre ética nos últimos anos. Mas pouco desse discurso em prol da ética se transforma em ação. Falar de ética, exigir ética, cobrar que os outros pratiquem a ética é lugar comum. Difícil mesmo é praticar a ética quando outros interesses pessoais estão envolvidos.
No início do século XXI, a ética empresarial ganhou destaque na gestão estratégica das maiores empresas.
É verdade que, de uma maneira geral, a preocupação com a ética influenciou positivamente na qualidade dos produtos, serviços e negócios realizados pelas  melhores empresas. Também aumentou significativamente a preocupação das indústrias em considerar o impacto ambiental provocado por toda a cadeia produtiva a fim de fazer cumprir os objetivos estabelecidos pelos órgãos de proteção ao meio ambiente. Se ética objetiva o bem estar comum, as questões da sustentabilidade surgiram a partir do desenvolvimento de uma maior consciência ética, certo?
Na mesma época, normas negociais foram revistas com o propósito de dedicar mais respeito aos interesses de fornecedores e clientes. A política do "ganha x ganha" passou a ser compreendida e valorizada, pelo menos em teoria.
Entretanto, o que transparece quando ouvimos relatos de pessoas que trabalham nas empresas que publicamente assumiram compromisso em atuar baseadas no respeito aos valores éticos, é que o ambiente de trabalho permanece sem grandes mudanças, havendo registro de ocorrências de condutas antiéticas que permanecem não sendo consideradas, muito menos punidas. Assim, é possível afirmar que pouca atenção vem sendo dada ao comportamento ético das pessoas que atuam em nome da empresa.
Com o objetivo de atender aos requisitos estabelecidos para que a empresa conquistasse a imagem de "ética", seus executivos criaram o Código de Ética, divulgaram esse código junto aos stakeholders, dedicaram mais atenção às suas áreas de compliance e... pronto! Tornaram-se empresas éticas e dignas de toda confiança por parte de seus públicos!
Apesar disso, infelizmente, ainda hoje, são comuns na grande maioria das empresas os registros de ocorrências antiéticas graves como assédio moral, assédio sexual e recebimento de propinas, entre outras.
Mas, insisto em focar na qualidade do ambiente de trabalho dessas empresas e na pouca ou nenhuma atenção dispensada para desenvolver a cultura ética corporativa.
Considerando que as ações empresariais percebidas externamente refletem a decisão e a conduta de seus agentes humanos, é natural concluir que a falta de uma política interna de desenvolvimento da consciência ética pode comprometer a percepção de credibilidade quanto aos verdadeiros objetivos da empresa no que se refere aos valores éticos em seu aspecto mais amplo.
Afinal, no momento crucial em que um colaborador precisa decidir entre cumprir metas e apresentar resultados que podem somar para sua promoção em detrimento da correção ética de suas atitudes, é bem possível que ele opte pela decisão que apresenta vantagens mais rápidas e facilmente mensuráveis, ou seja, desconsiderar a correção ética de sua decisão.
Dessa forma, se não houver um esforço empresarial para estimular a prática da conduta ética, valorizando a credibilidade, a reputação, a transparência e a correção na condução dos negócios, execução de rotinas, e, principalmente, no relacionamento pessoal com os colegas, gestores, clientes e fornecedores, a imagem da empresa, assim como a rentabilidade de seus negócios pode estar sob constante ameaça.
Desenvolver a consciência ética é um objetivo que exige dedicação permanente das áreas estratégicas.
Acompanhar e avaliar as atitudes de todos os colaboradores é uma atividade que exige o comprometimento de cada um dos gestores de todos os níveis, desde o supervisor da equipe de limpeza (ainda que terceirizado) até os gerentes e a diretoria, com destaque para as áreas de gestão de RH e compliance.
É fundamental que a direção valorize o papel dos gestores, pois eles exercem a função de inspirar suas equipes.
Além disso, gestores que usam a fantasia de "chefe", costumam desmotivar os empregados mais qualificados e talentosos, que se sentem oprimidos diante da ineficiência e das consequentes injustiças.  Todo esse quadro, interfere diretamente na manutenção de um ambiente de trabalho pouco saudável.
Nesse cenário, os resultados até podem aparecer, mas, provavelmente, não serão consistentes.
Não se pode dourar a pílula de que a missão de desenvolver a consciência ética seja um objetivo facilmente alcançável. Pelo contrário! É um desafio que vai exigir enorme desgaste pessoal, vai dar origem a muitos atritos e mexer com energias negativas que podem provocar grande incômodo e muito estresse ao profissional responsável. Afinal, ele vai ter que cobrar a correção da conduta de profissionais com anos de trabalho e que se acostumaram a fazer muitas coisas eticamente condenáveis. É provável que muitos desses"heróis" acabem sendo desrespeitados, cortados e sofram prejuízos em suas carreiras.
Empresas que mantém líderes despreparados, chefes que se deixam inebriar pelo poder de mandar nos demais, que se permitem usufruir de mordomias não previstas e que cobram resultados sem contribuir pessoalmente para o alcance desses resultados, estão servindo de exemplo de conduta para suas equipes. Todos sabem a força que tem o exemplo, uma força superior a das palavras. Novatos que se acostumam com o chefe que manda, cobra, não participa e, muitas vezes, desaparece de seu posto de trabalho, preferindo investir na manutenção da rede de relacionamentos que propiciou sua ascensão dentro da empresa, entendem que essa é a postura correta. No futuro, quando esses jovens alcançarem cargos de comando, terão boa chance de adotar esse mesmo modelo de comportamento, pois aprenderam que essa é a forma correta de agir.
Quantas empresas quebraram ou assumiram enormes prejuízos por causa da atitude equivocada de seus gestores? Enron, Artur Andersen e Britsh Petroleum, apenas para citar as mais famosas, são exemplos do que práticas antiéticas e falta de controle podem provocar.
Os gestores exercem o papel do Farol que sinaliza a conduta
correta a ser adotada pelos seus subordinados 
Investir na formação da consciência ética dos gestores é o caminho mais seguro para a manutenção da boa imagem da empresa, de sua lucratividade e, consequentemente, da sustentabilidade empresarial.
Além disso, mais do que pendurar um "Código de Ética" na parede, as empresas deveriam investir em treinamentos específicos, com estudo de cases que facilitassem o entendimento dos dilemas éticos. É também de fundamental importância criar e aplicar uma política de consequências adequada para inibir as tentações de infringir o código de ética.
Valorizar a boa reputação, a credibilidade conquistada pelos gestores que investiram na priorização dos valores éticos na prática do dia-a-dia, também são formas de demonstrar o tipo de conduta que a empresa deseja de seus empregados.
Lamentavelmente, o que ainda acontece hoje nos escritórios da grande maioria das empresas, é a valorização da politicagem, dos resultados conseguidos à qualquer preço e a promoção de gestores que mais exploram os conhecimentos e o talento de seus subordinados sem reconhecer o mérito e sem valorizar o desempenho de suas equipes.
O exemplo que eles passam vai nortear o caminho a ser seguido pelos jovens que ambicionam o sucesso representado pelo exercício de cargos de comando. É um ciclo vicioso, onde o mau exemplo é premiado e contradiz muito do que está explícito no Código de Ética. Mudar essa realidade exige uma atuação concreta e permanente das empresas que pretendem transformar esse ciclo vicioso em virtuoso. Para ser verdadeiramente ética, com um ambiente de trabalho saudável, negócios rentáveis e clientes satisfeitos a empresa precisa investir no desenvolvimento ético de seu pessoal. Vamos considerar que ética também se aprende! Valores éticos podem ser assimilados quando demonstradas as suas vantagens.
Investir no desenvolvimento da consciência ética, associada a uma política de RH que valoriza os méritos de cada empregado, vai permitir que as melhores empresas mantenham seus maiores talentos, seus melhores profissionais, a qualidade de seus produtos e dos seus negócios e, consequentemente, sua imagem pública e sua sustentabilidade.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Será o comportamento ético uma questão hormonal?

O site de Veja desta semana traz uma matéria em que o neurocientista Paul Zak, economista e diretor do Centro de Neuroeconomia da Universidade Claremont, na Califórnia, tem outro nome para a compaixão descrita por Adam Smith: oxitocina. Em seu mais recente livro A Molécula da Moralidade (Editora Elsevier), que será publicado em julho no Brasil, Zak defende que esse hormônio, ao promover a confiança entre indivíduos, é a 'cola' que une famílias e sociedades.


http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/oxitocina-a-molecula-da-moral

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ética nos relacionamentos românticos

No programa de Ana Maria Braga que foi ao ar hoje, o colunista social Bruno Astuto comentava sobre as notícias de casamentos de celebridades que chegaram ao fim neste primeiro semestre de 2012. Em meio aos comentários que lamentavam a separação desses casais, ele falou que a falta de ética no casamento pode acabar com a relação.
Taí um assunto que há tempos venho observando.
Entretanto, para minha surpresa, entra um vídeo com uma charge de Maurício Ricardo falando que a falta de ética no casamento é:

  • Jamais cortar as unhas ou limpar sobrancelha ou outros pelos do rosto na frente do cônjuge; 
  • Não aparecer com bobes no cabelo;
  • Não usar descolorante para os pelos na frente do cônjuge;
  • Preservar a maior privacidade possível sobre o que se faz no banheiro.
Fiquei surpresa demais com essas observações!
Não que ele esteja errado quanto a esses conselhos. Concordo que o excesso de intimidade atrapalha a sensualidade e o romantismo. O que me surpreendeu, foi ele se referir a essas condutas como sendo condutas antiéticas!!
Em meu artigo anterior, falo do conceito pessoal de ética, mas uma coisa é avaliar a correção ética de nossas atitudes, outra coisa é preservar a intimidade no momento em que fazemos coisas relativas a nossa higiene pessoal! Ser higiênico não é antiético! Muito pelo contrário, cuidar da higiene é uma forma primária de prevenir doenças em nós mesmos e nos outros.
Que espécie de confusão é essa que banaliza o significado de ética? Ainda mais quando acontece numa emissora campeã de audiência, partindo de uma pessoa de bom nível cultural e apoiada pela produção de um programa que alcança altos índices de audiência!
Falta de ética no casamento e nos relacionamentos amorosos de uma maneira geral tem a ver com o costume amplamente adotado de mentir, enganar, trapacear e até mesmo roubar ou esconder assuntos relativos à dinheiro.
Não é raro vemos pessoas de excelente reputação, que agem com honestidade e verdade em vários campos de suas vidas profissional e pessoal, serem pegas em atitudes antiéticas que envolvem justamente o cônjuge - que, pelo menos na teoria, deveria ser a pessoa mais querida e, portanto, respeitada e preservada para que a relação permaneça saudável e feliz.
Teoricamente, quando amamos uma pessoa, não queremos perdê-la. Quem ama verdadeiramente, quer manter a relação. Entretanto, é amplamente praticado por pessoas que se consideram e agem como alguém de bom caráter em todos os demais aspectos da vida o costume de trair, mentir, omitir e enganar justamente a pessoa que escolheu para compartilhar a vida. 
Agem sorrateiramente com medo de serem descobertos, mas não deixam de conseguir mentir olhando nos olhos de quem estão enganando. 
Não estou aqui para crucificar ninguém! Não me coloco acima de ninguém e não afirmo que nunca traí e nunca enganei ou que jamais agirei assim. 
Também é questionável a conduta de quem aceita se envolver com alguém que já é casado, apesar de não precisar mentir nem enganar ninguém.
Só penso como é curiosa essa característica humana.
Muitos, ao serem descobertos, mentem ainda mais para tentar limpar a sujeira e preservar a relação.
A dor da traição que parte do ser amado é uma das mais duras de serem enfrentadas. A dor é física! Como  não se importar com o sofrimento que se pode provocar na pessoa que amamos? 
(Imagem copiada da Internet - www.guiadicas.com)
Interessante também é perceber a reação dos familiares quando a traição é descoberta, especialmente se os traídos são os filhos. Mesmo que a traição seja perdoada, dificilmente o cônjuge traidor será perdoado pelos familiares de quem sofreu o golpe.
O pior da traição, que muitas vezes é perdoada, é a consequente perda da confiança. Essa, nunca mais terá a mesma integridade de antes. E esse pode ser o maior desafio dos infiéis: ter que conviver com alguém que não mais acredita em nada, até mesmo quando se fala a verdade. Além disso, dificilmente o ser traído vai conseguir agir com o mesmo carinho, o mesmo envolvimento e a mesma dedicação de antes. Muitos se tornam pessoas tristes e enchem os consultórios dos psicanalistas na esperança de resolver seus medos e desconfianças.
Haja amor incondicional para superar uma traição!
Entendo que o desejo sexual pode surgir a qualquer momento, quando menos esperamos. Mas se uma pessoa é forte o suficiente para não se deixar levar pela tentação de não devolver um objeto de valor que foi encontrado na rua, porque também não é forte o suficiente para resistir à tentação de um encontro amoroso que pode ferir a quem mais se ama? Ainda mais que é impossível prever o desenrolar daquela nova relação. Mesmo que seja uma relação com a pretensão de ser passageira e sem importância, ela existe e oferece o risco de se prolongar. Afinal, em termos de sentimento sexual ou amoroso, as pessoas sempre sabem como as relações começam, mas nunca sabemos como vai terminar.
Também é interessante perceber que pessoas éticas e honestas convivem com esse jogo de esconde-esconde durante anos! Quantos políticos e atletas norte-americanos viram suas carreiras despencarem por conta da divulgação de seus casos extra-conjugais? A cultura dos Estados Unidos é bem mais radical nesse assunto, embora haja um forte componente hipócrita entre os que condenam os cônjuges infiéis.  E isso serve também para padres pedófilos, pastores evangélicos que têm amantes e tantos outros casos de total incoerência entre o que se prega e a forma como se comporta.
Se o amor acabou, se o casamento não é mais motivo de alegria e felicidade, se encontramos outra pessoa capaz de despertar a paixão, não seria melhor dar fim a essa relação que não está bem antes de provocar tanto sofrimento? O final de um casamento é sempre muito doloroso, mas terminar com dignidade é bem mais correto e menos sofrido.
Sei que vou desagradar a muita gente com esse artigo, especialmente aquelas que costumam trair seus companheiros e companheiras, mas não abro mão do direito expressar minha opinião e ressalto que não as condeno. Considero até que, no mundo ideal, não deveria haver sentimentos como ciúme ou posse do ser amado. Portanto, não gostaria de que enxergassem minha opinião como sendo uma crítica. Apenas uma constatação da incompreensível conduta do ser humano.
Se ética nos relacionamentos fosse apenas a manutenção da intimidade, certamente haveria muito mais comemorações de bodas de ouro!


terça-feira, 19 de junho de 2012

O conceito pessoal de Ética

A definição do significado de ética é uma tarefa muito difícil. Desde a Grécia Antiga que os filósofos tentam encontrar uma explicação consensual, uma definição que atenda às exigências de todos, e até hoje isso não aconteceu.
Ética é algo que todos sabem o que é, mas não conseguem explicar.
Para facilitar, costuma-se dizer que ética é o que diferencia o que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto. Mas esses conceitos podem variar de pessoa para pessoa. A realidade é que o bem para uma pessoa pode também ser o mal para outra pessoa.
A explicação que adotei em minhas palestras é: "agir com ética é ter a certeza de que não vai sentir-se constrangida se essa atitude vier a ser amplamente divulgada". Mesmo que uma atitude tida como correta venha a ser mal interpretada, a pessoa que agiu com base em valores éticos terá uma explicação lógica, mesmo que nem todos concordem com os argumentos apresentados.
Entretanto, é curioso perceber que pessoas bem intencionadas são capazes de descobrir explicações lógicas absurdas para justificar seus atos antiéticos e/ou criminosos.
Soube de um estelionatário que aplicava golpes utilizando cartões de crédito clonados que dizia não sentir qualquer culpa por seus atos porque não estava lesando os titulares dos cartões já que as empresas costumam ressarcir seus clientes quando da comprovação da utilização fraudulenta. As verdadeiras vítimas seriam os bancos e as grandes operadoras, como Visa e Mastercard. Segundo seu conceito de ética, essas empresas alcançam lucros extraordinários com a cobrança de juros abusivos e não se importam com o transtorno que causam na vida daqueles que se endividam.
Não podemos deixar de reconhecer essa lógica "hobbin hoodiana" para justificar um crime que beneficia apenas um grupo de estelionatários.
Parte da taxa de juros cobrada pelos bancos e operadoras é para cobrir eventuais prejuízos com inadimplência e fraudes.
É comum o noticiário estampar matérias de corrupção, fraudes e tantos outros crimes cometidos por pessoas de alto nível educacional e excelente reputação que provocam a ruína de milhares famílias honestas.
Sem abordar os crimes praticados com dinheiro público, vemos alguns exemplos de como a falta de ética pode prejudicar diretamente a um grande número de pessoas.
Em janeiro deste ano a Polícia Federal fechou a empresa Piladelphia Empréstimos Consignados, com sede em Lagoa Santa - MG, que era comandada por um pastor da Igreja Evangélica Filadelphia. Apesar dos alertas emitidos pela CVM quanto às irregularidades verificadas na atuação da empresa, que pagava juros acima do mercado para seus investidores, a reputação e a credibilidade do pastor naquela região, associada à tentação do ganho fácil, fez com que inúmeras pessoas mantivessem suas aplicações. As notícias eram encaradas como boatos maldosos espalhados por desafetos políticos já que o pastor pretendia também concorrer a cargo político. 
Com o fechamento da financeira, milhares de chefes de famílias perderam suas economias e ainda se viram endividadas porque pegaram empréstimos com juros menores para aplicar na Filadelphia recebendo juros maiores.
Nos Estados Unidos, vimos o caso Madoff, detido em dezembro de 2008 pelo FBI depois de provocar um rombo estimado em 50 bilhões de dólares no mercado financeiro e que o tornou autor da maior fraude financeira de todos os tempos.
Madoff, com fama de filantropo, não só enganou entidades bancárias e grupos de investimento de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, como também são vítimas da sua fraude fundações e organizações de caridade. A página da internet da empresa exibia uma espécie de slogan: “O nome do proprietário está na porta.” A mensagem era clara. Quem não confiaria em alguém que empresta o próprio nome a uma companhia de investimentos?
Ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq, Bernard Madoff ressuscitou um velho esquema de investimentos conhecido como “pirâmide de Ponzi”, numa referência ao estelionatário Charles Ponzi, famoso na década de 20 do século passado por lesar 30 mil pequenos investidores americanos. A diferença é que Madoff enganou gente graúda e movimentou muito mais dinheiro. O esquema de Madoff era executado por meio de uma assessoria a fundos de hedge (equivalentes no Brasil aos fundos multimercados), instituições financeiras e investidores individuais. Ele oferecia retornos constantes, mesmo em épocas de queda nas ações. Para isso, usava o dinheiro de novos clientes, em vez de utilizar a receita obtida com as aplicações dos recursos. O modelo depende essencialmente do fluxo constante de novos investimentos. Se alguém interrompe a corrente, o que pode acontecer com a retirada em peso de grande volume de dinheiro, o esquema desmorona sobre seu próprio peso. Com a crise bancária a partir de outubro de 2008, Madoff teve pedidos de resgates de US$ 7 bilhões e a pirâmide desmoronou. 
Foto copiada da internet - vários sites e blogs
O episódio clama por uma pergunta inevitável: como um investidor consegue enganar tanta gente por dezenove anos? A resposta está numa única palavra: confiança. Madoff ganhou o respeito de bilionários e grandes corporações ao assegurar rendimentos entre 10% e 12%, independentemente das condições de mercado. As contas administradas pela Bernard L. Madoff Investment registraram ganhos de 1% ao mês com a pontualidade de um relógio. Por mais surpreendente que possa parecer, esse retorno absurdamente estável não despertou desconfiança
Madoff foi condenado a 150 anos de prisão por um tribunal de New York.
Em comum entre os casos mencionados temos a cegueira provocada em pessoas e até em grandes instituições que buscam atuar com ética e honestidade quando a possibilidade de ganhos fáceis bate à porta.
É mais do que sabido que dinheiro não brota do chão e que não existe mágica para fazer surgir dinheiro. Se uma aplicação oferece rendimentos tão acima dos concorrentes, alguma coisa deve estar errada. 
Nessa hora, a preocupação com a ética desaparece e o cifrão cega pessoas que economizam duramente para realizar sonhos e no fim acabam perdendo tudo.
A diferença é que nos Estados Unidos os culpados são condenados a muitos anos de prisão e cumprem suas penas na cadeia. 
Já no Brasil, a história nos mostra que depois de um rápida temporada na prisão, eles conseguem usufruir dos valores que desviaram para o exterior ou que registraram em nomes de "laranjas" antes de serem pegos. 




Fonte: Revista Isto É Dinheiro - dezembro de 2008

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Ex-Ministro defende Carlinhos Cachoeira. Um Dilema Ético?

Já faz algum tempo que minha empolgação pelas questões éticas anda meio amortecida. Afinal, diante de tantos exemplos de condutas eticamente questionáveis que permanecem impunes, é natural reavaliar a validade de levantar percepções de um aspecto da conduta humana que parecem tão pouco valorizadas.
Existe um enorme diferença entre o que é legal e o que é eticamente correto. Estou me referindo a questões que envolvem valores morais, princípios, caráter e convicções. Ao encararmos um dilema ético, precisamos nos basear nessas percepções para decidirmos como devemos agir. É a forma de procurar fazer o que é certo.
Precisei amadurecer minhas ideias antes de decidir se devia ou não escrever sobre este assunto. De imediato fiquei chocada ao ver que o famoso advogado e ex-Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, era o advogado de defesa de um contraventor que mantém ligações tão íntimas com vários ocupantes de cargos públicos, tanto no poder legislativo quanto no executivo.
Vendo pelo lado prático da situação, é inquestionável o direito à defesa que todo cidadão deve ter quando acusado de qualquer tipo de crime. Sob esse aspecto, nada há que ser censurado na conduta do brilhante advogado.
Então, por que o desconforto sentido por mim ao ver tão eminente profissional defendendo um contraventor que se dedicou a sangrar os cofres públicos? Carlinhos Cachoeira está sendo acusado de cometer crimes ainda mais graves que os praticados por dezenas de outros bicheiros tão ou mais famosos que ele. Suas ligações com políticos poderosos, que participavam do esquema de favorecimento de grandes empresários em troca de "favores e recompensas" valiosas originadas no desvio de dinheiro público, é motivo de revolta quando lembramos da quantidade de problemas enfrentados pelas pessoas mais carentes desse nosso Brasil no que se refere à saúde, educação e transporte provocados pela carência (ou má gestão) de recursos governamentais.
Para mim, incomoda (e muito!) ver um ex-Ministro da Justiça, cargo que deveria ser ocupado por pessoas de absoluta integridade ética, já que são responsáveis por defender os interesses da nação e do povo brasileiro, defendendo alguém que demonstra total descaso com a carência alheia, que age descaradamente em benefício próprio, pouco se importando com as abomináveis consequências de suas atitudes egoístas, criminosas e desprovidas de um mínimo de consciência ética e social.
Apesar de todos os pesares, Carlinhos Cachoeira  tem direito a uma defesa competente para enfrentar as inúmeras acusações que lhe estão sendo direcionadas. Qualquer advogado pode, e deve, aceitar defender qualquer cidadão a fim de utilizar tudo o que a lei oferece para atenuar a pena prevista para seus crimes, mesmo os mais hediondos.
Verdade que o valor dos honorários recebidos pela defesa, que, segundo divulgado na imprensa, está na casa dos 15 milhões de reais (ou mais!), é um argumento bastante sedutor para a maioria dos advogados.
Ainda assim, será que podemos classificar como sendo uma atitude eticamente correta vermos um profissional com o histórico que inclui o cargo de ex-Ministro da Justiça aceitar defender um homem que agiu contra tudo o que era combatido pelo então Ministro até pouco tempo atrás? Um homem acusado de delitos apurados pela Polícia Federal, uma instituição subordinada ao ministério que ele mesmo comandava?
Vamos combinar que estamos diante de uma grande incoerência! Atitudes incoerentes dão margem a críticas, certo? Então, será que o Sr. Márcio Thomaz Bastos não passou por nenhum exame de consciência antes de aceitar a tarefa de defender um homem acusado de ações prejudiciais ao Brasil? Será que o fato evidente de agir de forma incoerente para defender tudo o que ele combatia não foi avaliado quando decidiu aceitar ser contratado pelo contraventor goiano?
Qual será o preço da honra e da dignidade de um profissional que dedicou sua vida a construir uma reputação ilibada? Principalmente se considerarmos que a situação financeira do Sr. Márcio Thomaz Bastos, ao que tudo indica,  há muito tempo deixou de ser motivo de preocupação ou frustrações quanto a capacidade de usufruir das boas coisas que o dinheiro pode comprar.
O fato de ser a Justiça cega não diminui a tristeza e a decepção de ver o famoso advogado orientando seu cliente a respeito de como fazer para evitar ou dificultar as investigações que podem resultar no esclarecimento dos fatos e na identificação dos demais envolvidos. Descobrir o "modus operandi" dessa verdadeira quadrilha pode ajudar na criação de mecanismos que possibilitem dificultar novas ocorrências semelhantes. Assim, a competente orientação do ex-Ministro, que conhece também os meandros de órgãos governamentais envolvidos na apuração dos fatos, no caso a PF, pode dificultar a aplicação da justa pena prevista em lei para os crimes cometidos. Apesar de não violentos no aspecto físico, os crimes praticados por todos os envolvidos aviltam a expectativa de que um dia será possível confiar na Justiça e na condução ética da gestão dos recursos originados no recolhimento de altos impostos.
Ainda mais considerando que a maioria desses impostos são pagos pelos cidadãos de bem, em especial pelos trabalhadores assalariados que contribuem inexoravelmente com altas parcelas de seus rendimentos e são forçados a abrir mão de necessidades até mesmo básicas para contribuir com tantos I's (IRPF, IPTU, IPI, IOF, IPVA, ICMS, ISS....). Além disso, são esses mesmos pagadores de impostos que sofrem com a falta de investimentos públicos.
Desconheço maiores detalhes da atuação passada do advogado de defesa do Carlinhos Cachoeira, portanto, não posso julgar os caminhos que o levaram a ocupar um cargo tão importante como o de Ministro da Justiça. Nem mesmo o estreito vínculo com a política partidária pode servir de argumento para questionar seu trabalho como advogado. Mas, será que o Sr. Márcio Thomaz Bastos  continua olhando nos olhos de seus parentes, amigos e demais cidadãos com o mesmo orgulho que só as pessoas que prezam sua própria honra e dignidade podem nutrir por suas respectivas condutas? Sinceramente, penso que ele devia estar, pelo menos, constrangido com sua decisão porque, no mínimo, ele está desrespeitando os valores e princípios que nortearam sua atuação como ministro.
Wall Paper criado pela FIFA

terça-feira, 10 de abril de 2012

A falta de ética da fofoca irresponsável

 Autor: Carlucio Bicudo (imagem da internet)
Mais de uma vez me perguntaram se fazer fofoca é antiético. Eu não tinha uma resposta pronta na ocasião e pensei apenas naquele papo que a gente costuma ter com colegas durante o cafezinho e onde comentamos, sem maldade, as novidades de vidas alheias.
Comentar que alguém está se separando, casando, namorando, enfrentando problemas de saúde ou financeiros, a meu ver, não pode ser caracterizado como uma conduta antiética.
O problema é quando a crueldade humana entra em ação e começa a divulgar ou, muito pior, a inventar detalhes sórdidos.
Que tipo de satisfação essa atitude pode proporcionar às pessoas que a adotam? Não sou psicóloga, mas imagino que somente pessoas insatisfeitas com suas próprias vidas podem sentir algum tipo de prazer mórbido com a infelicidade dos outros.
Parece que o sofrimento dos outros tem o poder de tornar suas vidas menos desagradáveis, ou mais parecidas com a das pessoas que atravessam algum problema. Deve ser por isso que notícias sobre grandes desastres ou crimes hediondos costuma gerar tanto interesse. A cada tragédia da vida real os veículos de comunicação lucram com a audiência ávida pelos mínimos detalhes do fato e a insana busca pelas explicações, pelos comos e porquês...
Entretanto, as consequências dessas maldades podem incluir a alteração profunda da vida dos envolvidos. Infelizmente, a orientação acadêmica dos comunicadores de que cada fato precisa ser analisado sobre os variados ângulos de visão e interpretação dos envolvidos costuma ser negligenciada até por profissionais da área. Imagine então quando a notícia corre de boca em boca contada por pessoas sem a menor noção de que a comunicação é passível de ruídos com alto poder de distorcer completamente a realidade?
Dizem que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade inquestionável. Será?
Dependendo da quantidade de pessoas atingidas por uma fofoca maldosa, assim como da importância dessas pessoas na vida da "vítima", toda uma projeção de futuro pode ser alterada ou mesmo destruída.
No ambiente de trabalho, a prática da fofoca doentia pode causar danos muito intensos. Tudo o que acontece ali tem o poder de alterar nosso humor, nossa visão do mundo, nossa autoestima e nossa autoconfiança. É claro que quem se descobre como objeto de críticas, principalmente se forem infundadas, tem grande chance de desenvolver sentimentos prejudiciais à sua saúde física e mental.
O mais decepcionante quando percebemos essa tendência insana do ser humano em se divertir com a desgraça dos outros é perceber a total falta de compromisso com a ética nos relacionamentos interpessoais.
Infelizmente, essas pessoas não têm a preocupação de apurar a verdade dos fatos. Ao tomar conhecimento da fofoca, imaginam os motivos que deram origem ao fato e tomam esses motivos imaginários como verdade. Passam a diante essas informações inverídicas com a entonação necessária para tornar verdadeira sua própria suposição ou mesmo invenção maliciosa. Transformam algo que já era difícil para a pessoa que está no centro da fofoca em algo muito pior. E se quem ouve as invencionices for também uma pessoa insatisfeita, infeliz, invejosa ou mentalmente perturbada, vai sorver do mesmo veneno e passar adiante a cruel novidade, muitas vezes expressando uma falsa piedade em seu modo de falar.
O costume de aumentar um ponto ao recontar um conto é um mau habito enraizado em nossa sociedade que em nada contribui para a evolução do homem, seja intelectual ou espiritualmente falando.
A vaidade de passar a impressão de ser uma pessoa mais bem informada, que conhece detalhes adicionais sobre alguma coisa, faz com que as invencionices se multipliquem como uma praga.
A sede por encontrar maneiras de sentir-se melhor em suas próprias fraquezas é capaz de cegar pessoas, até mesmo aquelas que se consideram éticas e incapazes de mentir. Concluo que para essas pessoas, saber que alguém a quem elas invejam, mesmo que inconscientemente, também está sujeito aos percalços da vida, ameniza suas frustrações, suas culpas, seus traumas e seu sentimento de inferioridade.
O único jeito de neutralizar as más consequências desse péssimo hábito é aguardar a passagem do tempo. Só o tempo pode trazer à tona a verdade dos fatos. Pena que, quando o tempo passa e a verdade aparece, a maioria nem está mais interessada naquele velho assunto.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Papa Bento XVI pede mais Ética na Economia Mundial

CIDADE DO VATICANO, 9 Jan (Reuters) - A crise global mostra que o mundo precisa de ética econômica e de novas regras para que o sistema financeiro beneficie toda a humanidade, disse o papa Bento XVI nesta segunda-feira, em seu discurso para o Ano Novo.
"O momento presente é tristemente marcado por uma inquietação profunda e as várias crises - econômica, política e social - são uma expressão dramática disso", disse ele a diplomatas no que ficou conhecido como seu discurso anual sobre "o estado do mundo".

Ele disse que "os desenvolvimentos graves e inquietantes da crise financeira e econômica global" que começou nos países industrializados agora estavam contagiando o mundo e deixando muitos, principalmente os jovens, desorientados e frustrados.

Acrescentando um toque pessoal a apelos feitos em documentos recentes do Vaticano, Bento XVI pediu uma injeção de ética no modo como a economia mundial é administrada.
"A crise pode e deve ser um incentivo para refletirmos sobre a existência humana e sobre a importância de sua dimensão ética", disse, dirigindo-se em francês a diplomatas de quase 180 países.
As mudanças na economia não deveriam ser apenas "um esforço para conter as perdas privadas ou para escorar as economias nacionais, mas para nos dar novas regras que garantam que todos possamos levar uma vida digna e desenvolver nossas capacidades para o benefício da comunidade como um todo".

Desde o início da recessão, Bento XVI diz que a falta de ética suficiente no mundo das finanças não deve ser ignorada, e que decisões econômicas deveriam ser baseadas nos avanços do bem comum e não no lucro individual.

Um importante documento divulgado em outubro pelo departamento de paz e justiça do Vaticano pediu reformas extensas no mundo econômico e a criação de uma autoridade global de ética para regular o mercado financeiro. (extraído do site G1-Mundo - 
Por Philip Pullella)

O Papa pode não representar mais o grande sábio de tempos passados, mas é importante que a Igreja Católica contribua para que os governantes percebam a necessidade imperiosa de alterar a regra atual dos mercados financeiros, que priorizam o interesse e o bem individual e privado sem qualquer preocupação com os danos que podem estar causando na vida de milhões de pessoas.
O objetivo absoluto de aumentar ganhos, de fazer dinheiro a partir do dinheiro e não do trabalho, que domina a economia mundial precisa ser repensado. 
As consequências desse hábito já prejudicaram o ecossistema e agora ameaçam até a evolução da humanidade! Algumas transações baseadas em negócios muito lucrativos têm amplitude suficiente para arruinar a qualidade de vida de uma sociedade inteira, comprometendo seu desenvolvimento e sua sustentabilidade.
Até onde vamos esperar acontecer novas crises para entender que as consequências futuras dessa roda financeira podem atingir a todos nós? Muitos jovens já perceberam que os interesses econômicos da minoria (1%) estão destruindo as oportunidade de futuro da maioria da população mundial (99%) que vivem à margem das decisões emanadas dos governantes e grandes investidores. O movimento dos Occupiers Wall Street, que infelizmente não soube aproveitar a oportunidade de mídia que tiveram para divulgar novas ideias, foi silenciado pela polícia que cumpriu ordens de governantes sem visão ética suficientemente isenta para entender a grandiosidade daquela manifestação social.
2012 começa com um panorama nada favorável a novos tempos de crescimento econômico mundial e sem perspectivas de grandes mudanças, mas a sensibilização de formadores de opinião de grande influência como o Papa Bento XVI já é um sinal de que podemos ter esperança numa sociedade mais preocupada com a ética.