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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Ex-Ministro defende Carlinhos Cachoeira. Um Dilema Ético?

Já faz algum tempo que minha empolgação pelas questões éticas anda meio amortecida. Afinal, diante de tantos exemplos de condutas eticamente questionáveis que permanecem impunes, é natural reavaliar a validade de levantar percepções de um aspecto da conduta humana que parecem tão pouco valorizadas.
Existe um enorme diferença entre o que é legal e o que é eticamente correto. Estou me referindo a questões que envolvem valores morais, princípios, caráter e convicções. Ao encararmos um dilema ético, precisamos nos basear nessas percepções para decidirmos como devemos agir. É a forma de procurar fazer o que é certo.
Precisei amadurecer minhas ideias antes de decidir se devia ou não escrever sobre este assunto. De imediato fiquei chocada ao ver que o famoso advogado e ex-Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, era o advogado de defesa de um contraventor que mantém ligações tão íntimas com vários ocupantes de cargos públicos, tanto no poder legislativo quanto no executivo.
Vendo pelo lado prático da situação, é inquestionável o direito à defesa que todo cidadão deve ter quando acusado de qualquer tipo de crime. Sob esse aspecto, nada há que ser censurado na conduta do brilhante advogado.
Então, por que o desconforto sentido por mim ao ver tão eminente profissional defendendo um contraventor que se dedicou a sangrar os cofres públicos? Carlinhos Cachoeira está sendo acusado de cometer crimes ainda mais graves que os praticados por dezenas de outros bicheiros tão ou mais famosos que ele. Suas ligações com políticos poderosos, que participavam do esquema de favorecimento de grandes empresários em troca de "favores e recompensas" valiosas originadas no desvio de dinheiro público, é motivo de revolta quando lembramos da quantidade de problemas enfrentados pelas pessoas mais carentes desse nosso Brasil no que se refere à saúde, educação e transporte provocados pela carência (ou má gestão) de recursos governamentais.
Para mim, incomoda (e muito!) ver um ex-Ministro da Justiça, cargo que deveria ser ocupado por pessoas de absoluta integridade ética, já que são responsáveis por defender os interesses da nação e do povo brasileiro, defendendo alguém que demonstra total descaso com a carência alheia, que age descaradamente em benefício próprio, pouco se importando com as abomináveis consequências de suas atitudes egoístas, criminosas e desprovidas de um mínimo de consciência ética e social.
Apesar de todos os pesares, Carlinhos Cachoeira  tem direito a uma defesa competente para enfrentar as inúmeras acusações que lhe estão sendo direcionadas. Qualquer advogado pode, e deve, aceitar defender qualquer cidadão a fim de utilizar tudo o que a lei oferece para atenuar a pena prevista para seus crimes, mesmo os mais hediondos.
Verdade que o valor dos honorários recebidos pela defesa, que, segundo divulgado na imprensa, está na casa dos 15 milhões de reais (ou mais!), é um argumento bastante sedutor para a maioria dos advogados.
Ainda assim, será que podemos classificar como sendo uma atitude eticamente correta vermos um profissional com o histórico que inclui o cargo de ex-Ministro da Justiça aceitar defender um homem que agiu contra tudo o que era combatido pelo então Ministro até pouco tempo atrás? Um homem acusado de delitos apurados pela Polícia Federal, uma instituição subordinada ao ministério que ele mesmo comandava?
Vamos combinar que estamos diante de uma grande incoerência! Atitudes incoerentes dão margem a críticas, certo? Então, será que o Sr. Márcio Thomaz Bastos não passou por nenhum exame de consciência antes de aceitar a tarefa de defender um homem acusado de ações prejudiciais ao Brasil? Será que o fato evidente de agir de forma incoerente para defender tudo o que ele combatia não foi avaliado quando decidiu aceitar ser contratado pelo contraventor goiano?
Qual será o preço da honra e da dignidade de um profissional que dedicou sua vida a construir uma reputação ilibada? Principalmente se considerarmos que a situação financeira do Sr. Márcio Thomaz Bastos, ao que tudo indica,  há muito tempo deixou de ser motivo de preocupação ou frustrações quanto a capacidade de usufruir das boas coisas que o dinheiro pode comprar.
O fato de ser a Justiça cega não diminui a tristeza e a decepção de ver o famoso advogado orientando seu cliente a respeito de como fazer para evitar ou dificultar as investigações que podem resultar no esclarecimento dos fatos e na identificação dos demais envolvidos. Descobrir o "modus operandi" dessa verdadeira quadrilha pode ajudar na criação de mecanismos que possibilitem dificultar novas ocorrências semelhantes. Assim, a competente orientação do ex-Ministro, que conhece também os meandros de órgãos governamentais envolvidos na apuração dos fatos, no caso a PF, pode dificultar a aplicação da justa pena prevista em lei para os crimes cometidos. Apesar de não violentos no aspecto físico, os crimes praticados por todos os envolvidos aviltam a expectativa de que um dia será possível confiar na Justiça e na condução ética da gestão dos recursos originados no recolhimento de altos impostos.
Ainda mais considerando que a maioria desses impostos são pagos pelos cidadãos de bem, em especial pelos trabalhadores assalariados que contribuem inexoravelmente com altas parcelas de seus rendimentos e são forçados a abrir mão de necessidades até mesmo básicas para contribuir com tantos I's (IRPF, IPTU, IPI, IOF, IPVA, ICMS, ISS....). Além disso, são esses mesmos pagadores de impostos que sofrem com a falta de investimentos públicos.
Desconheço maiores detalhes da atuação passada do advogado de defesa do Carlinhos Cachoeira, portanto, não posso julgar os caminhos que o levaram a ocupar um cargo tão importante como o de Ministro da Justiça. Nem mesmo o estreito vínculo com a política partidária pode servir de argumento para questionar seu trabalho como advogado. Mas, será que o Sr. Márcio Thomaz Bastos  continua olhando nos olhos de seus parentes, amigos e demais cidadãos com o mesmo orgulho que só as pessoas que prezam sua própria honra e dignidade podem nutrir por suas respectivas condutas? Sinceramente, penso que ele devia estar, pelo menos, constrangido com sua decisão porque, no mínimo, ele está desrespeitando os valores e princípios que nortearam sua atuação como ministro.
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