Quem sou eu

Minha foto
Porto, Porto, Brazil
Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Vale a Pena ser Ético?

Aproveito a onda e a polêmica criada a partir da publicação do artigo de Gustavo Ioschpe na edição da Veja.com de 14/09/2013, onde ele questiona se deve insistir em educar seus filhos para serem éticos já que terão que viver num mundo onde a maioria não compartilha desses mesmos valores. 

http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/o-dilema-da-criacao-dos-filhos-a-etica-compensa
Esta semana, Veja.com voltou ao tema com a publicação de matéria de Gabriela Loureiro cujo título é: 
O dilema da criação de filhos no Brasil: a ética compensa?



O texto abaixo é um resumo de um dos capítulos de meu novo livro, ainda não publicado.
==================================================

Depois e tentar descrever o que é “ser ético” e supondo que a tentativa tenha sido bem sucedida, podemos passar a pensar na questão: “Qual é a vantagem de ser ético?”.

Trata-se de uma pergunta capciosa! Entretanto, já que ainda existem muitas pessoas que gostam de agir com esperteza, sempre levando vantagem em cima dos outros, quem sabe se, sendo possível demonstrar as vantagens de agir com correção, algumas se vejam tentadas a experimentar a sensação de “ser ético”? Aliás, já dizia Jorge Ben Jor na música Galileu da Galiléia, “se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”.

Somos humanos, muito longe da perfeição divina. Estamos, portanto, sujeitos a erros de avaliação, julgamento ou incapazes de resistir a algumas tentações que se apresentam tão mais vantajosas.

Uma mentirinha boba aqui, uma pequena vantagem em algum negócio ali, algum lucro mais interessante acolá... Isso significa que seremos pessoas más, condenadas ao inferno ou seja lá pra que lugar vão as almas que pecaram ou agiram de forma contrária ao que seria bom e correto?

Em se tratando de seres humanos, jamais estaremos livres dos erros. Já diz o velhíssimo ditado....”errar é humano!”. Uma verdade inquestionável. Erramos mesmo quando tentamos acertar.

Outro ditado diz que “de pessoas com boas intenções o inferno está cheio”.

Não obstante, a maior batalha na defesa da conduta ética é a de evitar o erro consciente, muitas vezes arquitetado por quem sabe que está agindo mal e, ainda assim, assume o risco inerente às atitudes condenáveis ou desonestas.

Todos nós sabemos que roubar é uma atitude errada, ou melhor, criminosa. Então, por que tanta gente rouba? Certamente, na maioria das vezes, os ladrões não estão sendo motivados pela fome. Da mesma maneira, todos os motoristas sabem que ultrapassar no meio de uma curva, sem ter a menor idéia do que pode estar vindo na direção oposta, é muito perigoso. Ainda assim, muitos aceleram e ultrapassam, arriscando inclusive a própria vida! As duas atitudes – ser antiético e ultrapassar em local proibido, têm em comum o risco dos acidentes de percurso.

Claro que quem respeita as regras não está livre de um acidente, mas o risco é muito menor. Além disso, se não podemos controlar o destino, podemos, pelo menos, tentar minimizar riscos, certo?

Quem nunca viu alguém ultrapassando perigosamente nas estradas? A impaciência e a pressa fazem com que muitos se arrisquem não apenas a perder suas vidas, mas a acabar com outras vidas inocentes. É possível que a maioria dessas pessoas não tenha pensado antes de decidir ultrapassar, apenas imaginou que, por alguma proteção divina, estaria livre de encarar um caminhão pela frente. Arrisca-se e, às vezes, dá errado....

Optar por não ser ético é mais ou menos a mesma coisa.

Por que será que tantas empresas, de uma hora para outra, começaram a se preocupar com a ética nos negócios? Será que elas optaram por reduzir lucros apenas para melhorar a imagem e conquistar a admiração pública? Uma mera questão de correção de princípios e vaidade corporativa?

Com certeza não!

O que fez o mercado internacional começar a mudar foi a tomada de consciência do risco inerente aos negócios realizados sem comprometimento ético. Grandes empresas sucumbiram por causa de um único negócio mal trabalhado.

Evidentemente que, no curto prazo, não agir com ética traz muitas vantagens. Mas se o foco está no futuro, na manutenção da reputação e da própria permanência no mercado ao longo do tempo, é muito mais vantajoso e seguro agir com ética.

Quem não age com ética consegue muitas coisas rapidamente, seja dinheiro, reconhecimento e, até mesmo, prestígio.

A conduta baseada na falta de ética tem como agravante algo em comum com as drogas: o perigo do primeiro contato. Se a pessoa age de maneira errada, consegue alguma vantagem, não é descoberta e convive em paz com sua consciência, ela deverá ter muito mais dificuldade em resistir a agir errado em situações futuras.

Ser ético exige reduzir lucros com negócios escusos, envolve perder oportunidades tentadoras e abrir mão de interesses próprios em benefício de interesses nobres e coletivos.

Ser ético só será vantajoso para aqueles que pretendem assegurar a sua própria reputação e a da empresa, é vantajoso para aqueles que pretendem crescer apoiados em seu próprio mérito, talento e autoconfiança com a segurança de quem pode ser absolutamente transparente quanto à sua conduta e aos meios utilizados para obter sucesso.

Ser ético é vantajoso para quem não suporta viver sob a ameaça de perder sua credibilidade, sua reputação e a admiração das outras pessoas, incluindo pais, cônjuge, filhos e amigos.

Ser ético tem a ver com permanência, com longo prazo, com sustentabilidade.

Claro que nada na vida pode ser considerado matematicamente seguro. As pessoas éticas estão sujeitas a sofrer injustiças e tornarem-se vítimas de atitudes antiéticas de outras pessoas. Podem ser taxadas de ingênuas ou "otárias". Podem também cometer erros involuntários e se torturarem com suas próprias culpas.

Existe ainda outro perigo que cerca as pessoas de bem: elas costumam incomodar muito. Isso acontece porque elas representam um risco para aqueles que agem sem compromisso com o que é correto e honesto. Assim, podem ser vítimas de “armações” para derrubá-las, neutralizando o poder de fogo de suas denúncias.

A questão maior envolvida na conduta ética é a consciência, pelo menos para pessoas mentalmente saudáveis que têm consciência, que pensam e analisam suas próprias atitudes. Para essas pessoas, a ética compensa porque traz a tranquilidade de não estar correndo o risco de ser descoberto, julgado e condenado.

Transformar uma pessoa habituada à prática de atitudes antiéticas, que já conhece todos os riscos e consequências aos quais está submetida, é tarefa quase impossível. Talvez, se for desmascarada e sentir o castigo na própria carne ou no próprio bolso, ela possa concluir que não valeu a pena.

Por outro lado, não é justo negar a qualquer pessoa, independente de sua origem e de sua história de vida, a oportunidade de receber informações que permitam a ela desenvolver sua consciência ética. Essa oportunidade pode ser determinante para construção de sua visão e decisão diante de situações futuras. Conhecendo e debatendo sobre o que é considerado certo ou errado, seja pela sociedade ou pela empresa, estando informadas dos riscos e penalidades previstas, todos poderão avaliar melhor as inúmeras variáveis das consequências de seus atos.

Por fim, é de fundamental importância para quem acredita que pode colaborar com a reforma de valores saber que seu comportamento está sendo observado e que vai servir de exemplo para seu círculo de relacionamento, em especial, filhos e colegas de trabalho.

Um bom exemplo fala mais que milhares de palavras. É com bons exemplos que se demonstra que é possível alcançar o sucesso perene sem transigir valores, compreendendo que a sociedade é a soma das atitudes de cada pessoa no seu dia-a-dia.

O consultor em gestão de pessoas, liderança e qualidade de vida, Carlos Legal, alerta que “conseguir ser ético no trabalho é um processo um pouco complicado e que, para algumas pessoas, leva um tempo para ser incorporado. “Há dois caminhos para desenvolver os valores: o primeiro é treinar, treinar e treinar tais comportamentos. O segundo é ter consciência do prejuízo da ausência da falta desses valores”. Legal também afirma que devemos mudar para mudar os outros. “Como disse Gandhi: ‘seja você próprio a mudança que quer ver no mundo’. Começa da célula, começa no indivíduo a mudança de qualquer organização a qual pertencemos. Se mesmo praticando o bem e seguindo a ética você não consegue realizar seus sonhos, talvez seja hora de repensar sua vida e suas prioridades. Ou procurar uma empresa na qual você se sinta mais confortável.” Carlos Legal afirma que existem muitas empresas que gostam de pessoas com bons valores. “As companhias apreciam comportamentos éticos e a ética é balizada por valores. A propósito, cerca de 70% dos executivos são demitidos mais por ausência de ética do que por não alcançar resultados. Se o salário for menor, reflita atentamente sobre o que é importante para você. Às “vezes, vale mais a pena ganhar menos e ser feliz” finalizou.

Para mudar, é necessário parar de esperar que o governo e os políticos façam o que é considerado certo, e passemos a fazer o certo que está ao nosso alcance. Assim, fazendo a nossa parte, estaremos agregando valor à sociedade.

É um processo lento? Sem dúvida! Mas talvez seja o único que podemos começar agora.

Se as maiores e melhores empresas, geridas pelas cabeças mais bem preparadas do mundo, que estudaram nas melhores universidades, chegaram à conclusão que ser ético é o melhor caminho e estão investindo pesado nesse objetivo, é melhor não duvidar disso.

Afinal, em qual carro você prefere viajar? Naquele que comete infrações e se arrisca em ultrapassagens perigosas, mas pode chegar mais rápido, ou naquele que é guiado por um motorista responsável, obediente às regras, que tem uma chance muito maior de chegar ao destino, mesmo que um pouco mais tarde?





segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O que é "ser ético"?



Definir ética não é muito simples. Definir o que é “ser ético” é ainda mais complicado.
Ética é aquele conceito que todo mundo sabe o que é, mas não sabe explicar direito. Ser ético é um comportamento que busca sempre fazer o que é certo, mas que não evita que alguém diga que aquela atitude não foi correta, ou não foi ética.
De repente a ética entrou na moda. Já não era sem tempo!
A palavra ética se origina do termo grego ethos, que significa "modo de ser", "caráter", "costume", "comportamento". Em filosofia, a ética é o estudo desses aspectos do ser humano: por um lado, procurando descobrir o que está por trás do nosso modo de ser e de agir; por outro, procurando estabelecer as maneiras mais convenientes de sermos e agirmos.
Não há unanimidade sobre a origem etimológica da palavra ética. Alguns teóricos defendem que o termo “ética” corresponde à palavra latina “morale”, que tem o mesmo significado. Vamos então considerar que ética e moral são palavras sinônimas, pelo menos em sua origem.
Entretanto, a Moral estabelece regras comuns a uma sociedade, que são assumidas pela pessoa. Ética é o que diferencia o que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, conceitos esses que podem variar de pessoa para pessoa. Ou seja, a ética é pessoal e flexível. Varia conforme o ponto de vista do indivíduo que analisa cada situação, ou cada dilema ético, com base em concepções próprias.
Imagem copiada do site www.neadsenaies.com.br
Os Dilemas Éticos

Os dilemas éticos estão presentes na vida de todas as pessoas com muita freqüência, mesmo que a maioria delas nem se dê conta disso. Dilemas éticos podem ser decididos em frações de segundo, mas sempre serão guiados por um dos três focos de avaliação possíveis.
1.     Visão utilitarista - considera as perdas e os benefícios que a decisão vai ou pode provocar;
2.     Visão focada nos princípios - que se ampara nas convicções pessoais de quem decide, sem considerar as consequências possíveis;
3.     Visão focada na integridade - justificada pelas razões que motivaram aquela decisão.
As decisões costumam sofrer interferência da cultura na qual o indivíduo está inserido. Quando a cultura estabelecida aceita o egocentrismo e o materialismo, e valoriza o poder e o dinheiro, as decisões certamente sofrerão influência desses aspectos e podem ficar eticamente comprometidas, principalmente no que tange aos valores morais de honestidade e de sinceridade.

A ética no Brasil e no Mundo

No Brasil existe um complicador: a aceitação, ou até mesmo a admiração da “esperteza” praticada por pessoas que procuram meios ilícitos para “se dar bem”. Essa prática deu origem à expressão “jeitinho brasileiro”, um costume do qual não deveríamos nos orgulhar. Por que esse tipo de conduta ainda é tão comum e tolerada pela sociedade brasileira, mesmo entre pessoas mais conscientes e esclarecidas?
Mesmo aceitando a hipótese de que o ser ético tenha um componente congênito, não podemos ignorar que cidadãos não nascem prontos, eles são formados. A cultura da sociedade em que cada ser humano está inserido, com suas crenças e costumes, assim como a religião e a educação que recebem em casa e na escola, formam conceitos de direitos e deveres que vão sendo assimilados pelas pessoas desde o berço.
Qual a diferença entre os cidadãos dos países mais desenvolvidos e os cidadãos dos países menos desenvolvidos? Por que em países da Europa Ocidental, como na Alemanha, o serviço de metrô não necessita de torniquetes ou qualquer tipo de exigência quanto ao bilhete que comprova o pagamento da passagem e, ainda assim, as pessoas pagam “espontaneamente” por suas viagens? Por que as pessoas nascidas e educadas em países desenvolvidos respeitam mais as regras e as leis? Será por que as penalidades e multas são pesadas e realmente aplicadas aos que são pegos em flagrante delito? Ou será que a formação da cidadania explica tudo? Ou será, ainda, uma soma desses dois fatores?
Um exemplo interessante acontece ainda na infância dos estudantes brasileiros. Uma ideia enraizada há décadas nas escolas, sejam elas públicas ou privadas, fomenta o conceito de que os alunos que fazem tudo muito certinho não são merecedores de admiração. Muito pelo contrário, esses alunos sofrem críticas, são alvos de deboche e acabam até mesmo sendo excluídos e marginalizados pelos alunos mais populares. São os chamados “CDF”, uma referência ao tempo que os melhores alunos gastam ficando sentados para estudar.
Esse triste costume, também alimentado pela inveja de pessoas menos talentosas, não é um padrão de comportamento universal.
O sistema de avaliação das universidades americanas para seleção de novos alunos considera o histórico escolar desde os primeiros anos de estudo para definir aqueles que têm condições de ingressar em seus cursos.
Um aluno que estuda desde cedo na rede pública americana - Elementary, Middle e High-school, é avaliado permanentemente. A partir do terceiro ano do elementary, o aluno exemplar passa a estudar numa turma "gifted". Nessa turma, todos os "grades" (notas) passam a ter um peso maior, e a matéria é sempre mais difícil. Se o aluno continuar a tirar A's e B's + ele vai manter-se como aluno especial, só que a turma muda de nome: são os "honors". E assim ele vai até o high-school. 
Nos Estados Unidos não existem universidades gratuitas, mas existem bolsas de estudo. Para conseguir esse benefício, é preciso ter as melhores notas. Também conta pontos a favor o número de horas de serviços comunitários prestados pelos estudantes, uma forma de exercitar a humildade e conviver com as necessidades de pessoas carentes.
Outra diferença entre os sistemas de ensino brasileiro e americano é que lá, antes do curso universitário propriamente dito, existe o college, um tipo de curso introdutório aos cursos específicos. Os alunos podem cursar, ainda no High School, algumas matérias dessa etapa. Quanto mais matéria de college ele fizer no High School mais ele vai ter chances na Universidade, pois estará na frente dos colegas. Alunos com os melhores desempenhos têm acesso não apenas às melhores universidades como também a maiores percentuais de bolsas de estudo.
É claro que as melhores universidades selecionam os melhores alunos. Lá, um estudante que aparece bronzeado num dia de prova e comenta que não estudou porque preferiu ir à praia, será percebido com certa desconfiança quanto às suas pretensões.
Não obstante, é provável que contribua para que os alunos das escolas americanas busquem obter melhores resultados o fato de que lá as pessoas que não são bem sucedidas são chamadas de “losers”, que significa “perdedores”. Ser chamado de “loser” é uma das maiores ofensas que podem ser feitas a um cidadão americano. Alunos que agem de forma irresponsável com relação a suas notas nas provas sabem que podem estar caminhando para se tornarem futuros perdedores.
Não estou aqui defendendo esse tipo de massacre psicológico imposto pelas regras do capitalismo impiedoso da terra do Tio Sam, onde a competição é a regra, e o resultado considera principalmente o sucesso profissional representado pelo valor do salário e dos bens acumulados. Lá, esquecem de medir a felicidade de alguém que prefira cultivar outros valores. Uso o exemplo apenas para comparação entre dois extremos de observação sobre um mesmo comportamento.
O que chama a atenção é que no Brasil bons estudantes chegam ao extremo de sentir vergonha em assumir que estudaram para a prova. Preferem dizer que “chutaram” as respostas e que contam com a sorte para justificar bons resultados. Agem assim porque buscam ser bem aceitos pela turma.
Um costume brasileiro tolerado, mas que devia causar indignação, é a pratica da “cola” ou “pesca”. Muito professores sabem que a cola acontece durante as provas, mas não têm coragem de reprimir e optam por não criar conflito ao inibir a troca de informações entre os alunos. Muitos alunos que estudaram e estão preparados aceitam passar a cola para não serem marginalizados e excluídos.
Esse costume é preservado porque está protegido pela omissão dos professores, dos pais e dos diretores das escolas. Criou-se até uma expressão para justificar essa prática desonesta: “Quem não cola não sai da escola”! No Brasil a “cola” está institucionalizada, e raros professores se esforçam para combater essa praga.
Qual o tipo de cidadãos estamos formando ao permitir que essas praticas sejam perpetuadas?
Por outro lado, não é verdadeiro afirmar que a mudança no sistema educacional é a solução definitiva para a falta de ética. Se fosse assim, não haveria casos de conduta antiética registrados entre americanos e europeus.
É preciso considerar a índole, o caráter ou a situação que cada pessoa está vivendo no momento que toma uma decisão errada.
A decisão de um pai de corromper dois policiais que cobraram propina para não registrar a ocorrência de um atropelamento ocorrido de madrugada  em um túnel da zona sul do Rio de Janeiro foi muito comentada na imprensa. O rapaz invadiu com o carro a pista que estava interditada e acabou matando um jovem de 18 anos que aproveitava a pista fechada ao tráfego para praticar “skate”. Na manhã seguinte, esse mesmo pai apressou-se em deixar o carro na oficina com o objetivo de “apagar” os vestígios do atropelamento. Que tipo de ensinamento esse pai pretendia passar a seu filho? Que o dinheiro deve ser usado como instrumento de perdão de erros irreparáveis? Será que o comportamento desse mesmo pai em situações anteriores serviram para incentivar o filho a achar que sua condição social lhe permitia violar leis e regras diversas? Talvez sim, talvez não, só a família pode responder a essa pergunta.
A compra do silêncio dos policiais corruptos só não aconteceu porque a vítima era filho de uma atriz famosa e o acidente tornou-se motivo de comoção nacional.
Não obstante, o fato de que a vítima também desrespeitou a ordem de interdição ao tráfego, há que se destacar que um passeio de skate não oferece maiores riscos de acidentes, já um automóvel em alta velocidade configura uma ameaça à integridade física dos eventuais trabalhadores que poderiam estar fazendo a manutenção daquela via.
O que precisa ser questionado é a intenção desse pai que, ao tentar usar de meios ilícitos para preservar a impunidade do filho, não demonstrou preocupação em saber que tipo de lição estava passando a ele no que se refere a cidadania, respeito a vida alheia e a ética.
Por outro lado, é muito fácil condenar alguém que buscou uma forma, digamos, alternativa de conseguir algum dinheiro. Entretanto, qual seria a própria atitude de quem condena, se estivesse passando pela mesma dificuldade da pessoa que agiu de forma incorreta? Quem nunca viu a despensa de sua casa vazia ou sentiu a dor da falta de dinheiro para comprar um remédio para um filho doente, não pode afirmar categoricamente que não cometeria alguma falta.
Além disso, ser considerada uma pessoas ética não é nada fácil, ainda mais quando se busca a unanimidade de julgamento.
Filosofando um pouco a esse respeito, lembrando que uma das definições da ética é “fazer o bem”, não se pode deixar de ressaltar que o que representa o “bem” para uma pessoa pode representar o “mal”, na visão de outra pessoa.
Cada decisão de um dilema ético exige uma opção por um caminho ou por alguém. Provavelmente, a pessoa que foi preterida, ou que não teve seus objetivos atendidos, vai considerar que foi prejudicada e que o decisor não agiu corretamente e, portanto, não foi ético porque não considerou esse ou aquele aspecto em sua decisão.
Diante de tantas situações com variadas nuances envolvidas em cada dilema e que embasam escolhas feitas durante a vida, é importante para quem pretende ser ético ter a convicção de que as decisões estão sendo tomadas com as melhores intenções e que podem ser justificadas de forma transparente e coerente.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

A Consciência Ética despertou o Brasil


O Brasil acordou!
Os brasileiros descobriram a força da mobilização popular para exigir direitos e acabar com desmandos e desvios de recursos públicos.
Já não era sem tempo!
Sem tirar do atual governo o mérito democrático de aceitar o "puxão de orelha" e começar a prestar mais atenção na vontade do cidadão, fica a pergunta: Será que não dava para perceber antes das manifestações que estava havendo um abuso na defesa dos interesses pessoais dos políticos e de pequenos grupos de grandes empresários e nenhuma preocupação com o bem-estar da população?
Não quero ser óbvia, mas qualquer pessoa minimamente comprometida com os valores éticos já tinha percebido e estava incomodada com os equívocos dos governantes e políticos. O limite do bom senso foi superado quando uma emenda constitucional é proposta para impedir que o Ministério Público investigue casos de desonestidade de políticos e servidores públicos e por outra que propõe que as decisões do Poder Judiciário sejam submetidas ao Poder Legislativo! A certeza da impunidade é o maior estimulante para a conduta antiética. Chegamos a um ponto de total despreocupação dos políticos com o julgamento que o eleitor poderia fazer de suas atitudes. O foco deixou de ser a defesa de medidas que atendem ao interesse público, o crescimento do país e a melhoria da qualidade de vida da população. A prioridade estava voltada integralmente para projetos voltados para defesa de interesses pessoais, seja aumento de poder,  ganhos financeiros ou outros interesses obscuros. O comodismo do brasileiro foi explorado durante anos com medidas populistas amparadas na ingenuidade de um povo carente de educação qualificada.
A falta de investimentos no que realmente faz um país crescer como: educação, apoio à pesquisa, formação de mão-de-obra qualificada, infra-estrutura de transportes e saúde, além do alto custo Brasil, começou a gerar prejuízos e a prejudicar a competitividade dos produtos brasileiros, inviabilizando as exportações.
Para começar, o Brasil é um país com uma carga tributária absurda que onera principalmente os trabalhadores assalariados, mas que não poupa ninguém, nem empresários nem os beneficiários do Bolsa Família que pagam caro por produtos com preços carregados de ICMS, IPI, PIS, CONFINS e mais vários outros impostos específicos que chegam a somar mais de 20% ou 30% do valor da compra. Para piorar, essa carga tributária não retorna em benefícios, sendo desperdiçada em projetos difíceis de sair do papel sem que a maior parte dos recursos seja destinada à corrupção de políticos e funcionários públicos ávidos para enriquecer rapidamente.
Assalariados que descontam IRPF no contra-cheque e que arcam com uma carga tributária que chega a estonteantes 60% não têm sequer direito a se deslocar com segurança, seja nas ruas cada vez mais violentas das cidades, no trânsito caótico das capitais que compromete severamente a qualidade de vida ou nas estradas antigas e mal conservadas. Mesmo pagando tanto de impostos, são obrigados a contratar planos de saúde e a pagar fortunas para educar seus filhos com a qualidade necessária para disputar um lugar ao sol em mercados altamente competitivos e globalizados.
Não sou articulista política. Prefiro expor minhas convicções em ambientes mais restritos de amigos, e por isso não vou estender meus comentários de análise do atual governo e de nossos políticos.
Só não pude resistir à tentação de registrar minha alegria de perceber que a prática centenária da  falta de ética reinante nos ambientes de trabalho público e privado (afinal, para cada corrupto existem vários empresários corruptores) está colhendo os frutos das injustiças semeadas por decisões descoladas de valores morais, egoístas e direcionadas a atender interesses de poucos.
O caminho é longo, pode demorar muito tempo, mas acredito ser um caminho alinhado à tendência evolutiva das sociedades desenvolvidas.
Foi muito bom ver o Presidente do Senado desengavetando projetos de interesse público.
É bom ver nossos governantes preocupados em descobrir o caminho para atender o anseio dos brasileiros cansados de ver seus entes queridos morrendo por falta de leitos hospitalares ou sofrendo diariamente, durante horas, espremidos em transportes públicos caros e insuficientes que agridem a saúde e a dignidade de pessoas que trabalham arduamente para construir esse país.
É maravilhoso ver que os recursos do petróleo deverão ser destinados à educação e saúde.
Educação pública de qualidade e acessível a todos é sinônimo de oportunidade e oportunidade para todos é o máximo da democracia!
Parece que agora reaprendemos o caminho para exigir direitos. Chega de impunidade!
As redes sociais são uma poderosa ferramenta de mobilização e nossos jovens as estão usando brilhantemente para disseminar a consciência política e a importância de fiscalizar e cobrar a correta utilização do dinheiro que é pago por todos e, portanto, deve atender aos interesses de todos.
Estou torcendo para que a Presidente Dilma faça desse "limão" uma doce limonada! Para isso, é preciso aproveitar esse momento histórico e aproveitar a voz do povo como argumento para convencer deputados e senadores a aprovar ações de moralidade que atendem aos anseios dos manifestantes e que certamente vai melhorar a qualidade de vida e a perspectiva de futuro dos brasileiros.
Talvez seja cedo para comemorar, mas o que já está acontecendo cria um sentimento de esperança e crença num futuro mais justo e ético.
Acordou Brasil?
Agora MUDA BRASIL!!!

terça-feira, 4 de junho de 2013

A ética e o amor no ambiente de trabalho

Imagem copiada da Internet
Lucia, uma jovem arquiteta com seus vinte e tantos anos de idade, chamava a atenção dos homens na empresa. Moça séria, ela não se deixava levar pelos olhares gulosos nem pelas cantadas que costumava receber. Até que conheceu Nilson, charmoso assessor do diretor, elegante e com um sorriso muito simpático. Aos quarenta e poucos anos, Nilson era casado, tinha três filhos e muita disposição para aproveitar a vida em viagens, jantares e aventuras. Lucia não resistiu e caiu de amores por ele.
Um dia, numa das muitas ocasiões em que saíram escondido para almoçar e namorar, não repararam que parada no semáforo que ficava próximo da empresa, e onde Lucia costumava trocar o carro de Nilson por um taxi, estava a van que trazia vários colegas de Lucia que voltavam de uma obra. Assim, quando discretamente, Lucia desceu do carro de Nilson e começou a procurar um táxi, não reparou quem eram os ocupantes da van. Um dos colegas não havia percebido de onde ela tinha saído e ofereceu carona na van . Lucia ainda tentou fazer de conta que não estava ouvindo, mas a insistência do colega não permitiu que ela retornasse da maneira discreta que pretendia. O jeito foi entrar na van, que seguiu o carro de Nilson até o estacionamento da empresa. Durante o trajeto, os colegas se entreolhavam disfarçando os sorrisos maldosos que a situação permitia. Esse caso foi motivo de muita conversa e muita gargalhada durante muito tempo.
O ambiente de trabalho propicia a convivência diária entre pessoas de ambos os gêneros com todas as opções sexuais possíveis. Não há como controlar nem impedir que envolvimentos amorosos aconteçam com frequência. Apesar da proibição estabelecida por muitas empresas, os relacionamentos que envolvem a emoção forte da paixão intempestiva não costumam respeitar essas proibições e acabam acontecendo assim mesmo. O namoro escondido serve para apimentar a relação e podem despertar emoções amortecidas dos tempos da adolescência. Democraticamente, os relacionamentos não respeitam a hierarquia e podem envolver diretores, gestores de equipe, líderes, gerentes, enfim, todas as pessoas estão sujeitas às consequências das flechadas do cupido insensato.
Não seria justo classificar relacionamentos baseados em um sentimento tão puro quanto o amor romântico como antiético. Entretanto, nem todas as relações se baseiam no amor. Pelo contrário, a grande maioria está alicerçada numa mera atração sexual irresistível ou em interesses menos nobres como a busca de promoções ou vantagens diversas. Assim, na maior parte das vezes os namoros no trabalho costumam ser de pouca duração e o risco de alguém sair magoado é muito grande.
Após o fim do relacionamento "amoroso", a convivência entre os envolvidos pode ficar muito complicada, ou, até mesmo impossível.
Mas namorar colegas de trabalho é antiético? A princípio não, mas, como sempre, as variáveis envolvidas em cada caso podem tornar algo que a princípio seria sublime em outra coisa bastante comprometedora.
Imagem copiada da Internet (abril.com 08/08/2008)
Para começar, seu um dos pares é casado, as consequências podem ser devastadoras tanto para o casamento dessa pessoa como para a autoestima do outra.
Para a empresa, a paixão no ambiente de trabalho pode servir como excelente estimulante à maior dedicação às tarefas diárias, já que a vontade de permanecer ao lado ou de impressionar o colega/namorado faz aumentar a produtividade. Por outro lado, na hora em que a relação começa a tirar a tranquilidade do casal, ou de um dos dois, a dificuldade de concentração e de conviver com a angústia possibilita a diminuição da concentração e o desinteresse.
Sem querer ser preconceituosa, mas simplesmente realista, as mulheres que se envolvem em vários relacionamentos inconsistentes e de pouca duração, acabam colocando em risco sua reputação e podem comprometer sua carreira. Com os homens isso é menos provável que aconteça.
Quando a relação é homossexual as consequências para a carreira também podem ser desastrosas, e o resultado vai depender muito da cultura média dos demais funcionários. Obviamente que não se pode classificar uma opção sexual ou um gosto pessoal como ético ou antiético, mas, de uma maneira geral, as sociedades ocidentais ainda não convivem bem com os "diferentes" e não apenas no que diz respeito à opção sexual em si, mas também em relação aos praticantes de "swing" e outras práticas menos ortodoxas.
A divulgação dessas preferências tem um alto poder de destruição da reputação e da credibilidade, independentemente do currículo e da própria história profissional.
Pode ser injusto, porque a preferência sexual nada tem a ver com o caráter da pessoa e muito menos com sua vocação para exercer com ética as suas funções, mas a verdade é que um comportamento sexual considerado inadequado, mesmo se exercido fora do ambiente de trabalho, tem grande potencial para prejudicar a carreira.
Assim, um bom parâmetro para avaliar se uma relação amorosa ou meramente sexual com um colega de trabalho deve ou não ser mantida é imaginar as consequências que a divulgação dessa notícia poderá provocar. Claro que, por mais bem intencionados ou apaixonados que estejam os envolvidos, relacionamentos amoroso podem durar muito ou pouco tempo, mas a sabedoria na condução da relação, a avaliação antecipada do perfil da pessoa que provocou sensações tão fortes, é uma importante etapa a ser cumprida antes da entrega do próprio corpo e do coração.

terça-feira, 5 de março de 2013

Para que desenvolver a consciência ética na empresa?

Ilustração copiada do site http://ufpeadministracao.ning.com/
na página da Professora Raquel Lira
Entre tantas coisas que precisam ser tratadas dentro de uma empresa, principalmente dentro das grandes empresas, por que perder tempo em trabalhar as questões éticas?
Nas maiores empresas do mundo, este assunto já está “administrado”. A direção e os conselhos administrativos constituíram a comissão responsável pela criação do código de ética. Esses códigos foram impressos e distribuídos a todos os colaboradores, fornecedores, acionistas e todos os demais stakeholders. Em muitas dessas empresas, foi desenvolvido um canal de denúncias e aprimoraram-se os sistemas de controle na execução de rotinas. As ocorrências estão sendo apuradas e resolvidas por profissionais vinculados ao escritório responsável pelas ações de sustentabilidade, ou à ouvidoria, ou ainda podem estar sob a responsabilidade da área de gestão de pessoas, auditoria, compliance, enfim, cada empresa estruturou seu organograma para cuidar dos assuntos relativos à ética.
Entretanto, ainda não foi claramente percebido que muitas das providências adotadas para dar à empresa a chancela de “empresa alinhada com os valores éticos”, com exceção ao código de conduta ética, são rotinas reativas, dedicadas a identificar, apurar e punir as ocorrências já detectadas. A grande maioria dessas ocorrências não chega a comprometer o resultado da empresa. Muitas são tão insignificantes que nem chegam ao conhecimento das demais áreas além daquelas envolvidas diretamente em cada caso.
Não estão sendo tratadas muitas condutas antiéticas que não causaram prejuízos relevantes que justificassem a abertura de um processo de apuração. Afinal, o custo e o desgaste pessoal para punir e inibir pequenas atitudes seriam muito superiores ao prejuízo causado. Muitas vezes, esses prejuízos nem podem ser mensurados, já que não geraram perda de valores monetários, mas “apenas” interferiram na qualidade do ambiente de trabalho, causaram desmotivação e percepção de injustiça, ou comprometeram a carreira de alguns poucos desafortunados.
O que não pode ser mensurado permanece despercebido e vai engordar o custo invisível das empresas.
São pequenos desvios que, somados, alcançam valores surpreendentemente relevantes. São negócios mal realizados que resultam em devoluções, atendimentos mal feitos que dão origem a ações na justiça e que vão minando a boa imagem da empresa. Projetos não executados ou que ficam inacabados e que poderiam contribuir para aumentar a rentabilidade, a produtividade e a lucratividade, também podem compor o rol de pequenas condutas inadequadas que permanecem impunes.
Como é possível mensurar essas perdas? Como calcular prejuízos provocados por ações não realizadas? Como saber o custo que a vaidade humana representa quando altos executivos priorizam seus interesses pessoais e decidem implantar projetos que vão proporcionar-lhes melhor visibilidade e contribuir para o marketing pessoal em detrimento de projetos que reduziriam custos, eliminariam retrabalho ou poderiam contribuir para melhorar o desempenho de outra área dentro da mesma empresa?
A resposta é quase óbvia. Esse cálculo é impossível de ser realizado. Na melhor das hipóteses, pode apenas ser estimado, mesmo assim, sujeito a grande margem de erro.
A consciência ética determina que as decisões devem sempre ser analisadas sob aspecto da ética.
Acredito que muitas pessoas tomam decisões antiéticas por vaidade, ganância, inexperiência, falta de visão de futuro ou, até mesmo, ingenuidade. Em ética, a prática de antecipar as possíveis consequências de uma decisão é fundamental para buscar a manutenção da conduta virtuosa.
Seria pouco razoável afirmar que as empresas que investem no desenvolvimento da consciência ética estão imunes a erros de avaliação por parte de seus empregados. Sempre que um problema envolve o comportamento humano, o número de variáveis envolvidas é tão grande que se torna impossível qualquer tipo de afirmação.
Entretanto, penso que a criação, implantação e manutenção de um programa destinado a estimular os empregados a pensar sobre o aspecto ético de suas decisões pode não apenas alterar alguns comportamentos, como também melhorar o senso de responsabilidade de cada um em relação à observação crítica da conduta dos demais empregados.
É importante lembrar que pessoas de boa índole nascem em lugares diferentes, são educadas por pessoas com visões de mundo diferentes, em culturas regionais distintas e em meios sociais e tribos também distintas e que, certamente, tiveram vivências bem diferentes, que criaram concepções de vida e de mundo individuais. Com toda essa variedade cultural local, regional e até mesmo de diferentes nações, é absolutamente natural que elas apresentem visões diferentes sobre a ética.
A ética é flexível, pois pode variar conforme o ponto de vista de cada pessoa. Um bom exemplo é quando duas os mais pessoas disputam uma promoção. O selecionado para assumir o cargo vai entender que sua escolha foi justa, mas os que foram preteridos dificilmente terão a mesma opinião a respeito do resultado.
Portanto, ser ético não é agradar a todo mundo o tempo todo. Pelo contrário, a cobrança de uma conduta ética costuma ser muito mal vista porque incomoda, desagrada e contraria interesses pessoais.
O que se pode pretender é minimizar os efeitos das condutas antiéticas que acontecem por desconhecimento, por inexperiência ou por falta de informações. Muitas condutas diárias envolvem decisões sujeitas a uma análise prévia de riscos e possíveis desdobramentos.
Pessoas preparadas para identificar os dilemas éticos e avaliá-los corretamente têm mais chances de evitar as próprias condutas equivocadas e também de perceber, criticar e denunciar as condutas antiéticas de outras pessoas.
Assim, além de contribuir para sua própria redução dos riscos operacionais, as empresas realmente éticas estarão investindo em sua imagem institucional, no aumento de sua produtividade por meio do estímulo à amplo aproveitamento e desenvolvimento dos talentos individuais. Além disso, e ainda mais relevante, a empresa estará influenciando na formação de uma sociedade mais justa e de mundo melhor.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ética e Espiritualidade


Ilustração copiada da Internet


    No Brasil, a palavra “espiritualidade”, muitas vezes confundida com espiritismo, é cercada de preconceitos que dificultam a compreensão do sentido e da riqueza antropológica do que a palavra representa. A espiritualidade é anterior às religiões. Os povos primitivos acreditavam que vários elementos da natureza como sol, lua, rios, chuva ou ventos, teriam poder de interferir nos acontecimentos humanos.
Espiritualidade envolve valores que têm a ver com a totalidade cósmica, onde o passado e o futuro se estendem pela eternidade.
Acreditando na existência de uma força ou de uma energia superior para explicar o desconhecido, mesmo que essa energia esteja dentro de cada criatura, a humanidade busca, por meio da espiritualidade, entender o universo, aceitar as adversidades, consolar as dores da vida e o medo da morte.
As religiões traduzem a espiritualidade existente nos seres humanos. A busca de explicações para os mistérios do universo, para os acontecimentos sobrenaturais, para o sentido da própria existência humana e para a incapacidade dos homens em dominar o encadeamento dos fatos, deu origem às diferentes crenças.
Apesar das origens distintas, as doutrinas religiosas e os valores éticos estão absolutamente alinhados, já que praticamente todas as crenças religiosas, místicas e esotéricas, exceto aquelas que reverenciam o diabo, pregam a necessidade de fazer o bem.
É essa a característica comum entre a espiritualidade e a ética: a orientação para o bem. A opção pelo comportamento ético é alicerçada pelo senso de justiça, do agir corretamente para manter a própria integridade de caráter.
A ética está afinada com o divino e com o sagrado, uma vez que está voltada para o bem do ser humano.
        Interessante perceber que, ao compararmos as crenças e verdades de cada uma das muitas religiões, mesmo entre aquelas seguidas por culturas muito diferentes, que seguem deuses próprios em rituais particulares, verificamos que todas elas pregam que fazer o bem é o caminho para a salvação do homem e/ou de seu espírito.
Extremismos à parte, quando a fé fundamentalista, muitas vezes manipulada, dá origem a atos violentos que provocam destruição e morte, e excluindo ainda as pseudo-igrejas, criadas unicamente com base em interesses financeiros, as maiores demonstrações de fé estão associadas a iniciativas que incentivam a prática do bem.
Ações humanitárias como a compaixão, o trabalho voluntário destinado a levar orientação educacional, alimento, ajuda financeira, atendimento médico, alento e doações diversas às camadas mais pobres e carentes da população, são atividades realizadas pela grande maioria das igrejas.
A civilização ocidental foi moldada pela tradição cristã, que tem nos mandamentos divinos sua base ética. Durante séculos, o temor a Deus e a consciência de dever para com seus mandamentos moldaram o caráter não só dos cristãos, mas de toda a sociedade.
A rejeição moderna a esses mandamentos tem suas raízes no materialismo e narcisismo contemporâneos. O individualismo exacerbado e a busca pela autorealização levam as pessoas a viverem em mundos exclusivos em que o sentir-se bem é o valor supremo.
O respeito às liberdades individuais faz com que as sociedades fiquem cada vez mais tolerantes com a desonestidade e a injustiça, uma vez que os interesses pessoais se sobrepõem aos mandamentos divinos. (*)
Não obstante, com diferentes maneiras de expressão, as diversas religiões defendem que é preciso fazer o bem para receber as bênçãos divinas e alcançar a própria felicidade. Em outras palavras, as principais teorias religiosas oferecem motivos que justificam a adoção da conduta ética.
Para o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma força perene e indestrutível. A trajetória desse espírito depende das ações do indivíduo, pois a toda ação corresponde uma reação - Lei do Carma. Assim, o espírito da pessoa que age mal segue reencarnando para sofrer as consequências dos seus erros até que aprenda a forma correta de se comportar.
Segundo o Espiritismo, a evolução do espírito precisa de muitas vidas para alcançar a plenitude. A exemplo dos hinduístas eles também crêem na reencarnação e na Lei do Carma. A vida é uma oportunidade concedida por Deus para a evolução do espírito, e cada um é responsável pelo seu destino, que é definido pela soma das atitudes presentes. Se a pessoa utilizar seu livre arbítrio para a prática do mal, ela não estará evoluindo e terá que retornar à vida em outro corpo. Cada espírito tem seu próprio ritmo de evolução. Dependendo da qualidade das ações praticadas em cada uma das vidas, a evolução pode ser mais rápida ou mais lenta.
O Judaísmo é uma religião que supervaloriza a moralidade, grande parte de seus preceitos baseia-se na recomendação de costumes e comportamentos "retos".
A prática do Budismo consiste no ensinamento de como superar o sofrimento e atingir o nirvana (estado total de paz e plenitude) por meio da disciplina mental e de uma forma correta de vida. Também crêem na Lei do Carma, segundo a qual, as ações de uma pessoa determinam sua condição na vida futura.
Católicos classificam os erros como pecados, que só serão perdoados se houver o legítimo arrependimento e o constrangimento da confissão, que consiste em assumir os erros diante de um padre, sendo que ele tem o poder de perdoar ou não. O castigo dos pecadores é o inferno, ou o purgatório, onde as almas sofrem para pagar suas dívidas.
Já os protestantes, cristãos que se subdividem em várias igrejas diferentes, com preceitos e regras que guardam algumas características diferentes entre elas, de uma maneira geral acreditam que o perdão das faltas cometidas é uma questão a ser resolvida diretamente com Deus ou Jesus Cristo, sendo que algumas dessas igrejas aceitam “vender” o perdão mediante o pagamento destinado a obras assistenciais.
No islamismo, os pecados se dividem em menores e maiores.  E a punição precisa ter o mesmo peso e a mesma natureza. Pecados menores podem ser expiados em um ritual da lavagem de certas partes do corpo antes de orar a Alá. Se não se lavarem antes, Alá não aceitará as orações. O peso dos pecados pode ser diferente para homens e mulheres. Não existe unanimidade quanto às diferentes maneiras pelas quais um muçulmano pode receber o perdão para seus pecados. As mais comuns são baseadas nos versos do Alcorão e do Hadith (ditos e ensinos de Maomé e dos Califas – seguidores de Maomé). Para os islâmicos, suas obras serão julgadas por Alá, que usa uma balança para comparar o peso das boas obras com o das más obras. Na tentativa de aumentar o peso das boas obras, os muçulmanos acreditam que existem algumas ações cujo peso Alá multiplica por dez. O jejum é uma dessas boas obras.
Como podemos perceber, todas as principais religiões encaram as más ações como faltas que precisam ser pagas.
Mudando para a área da ciência, a teoria da física quântica estabelece que tudo no universo está interconectado. Um encadeamento grandioso, mesmo que envolva um fato simples e sem importância aparente, acaba por provocar mudanças profundas na totalidade. Assim, praticar ações que causam dor, sofrimento, prejuízos ou diferentes perdas a outros, ou seja, fazer o mal, gera energia negativa, que se expande e atrai mais energia negativa para quem agiu incorretamente.
Da mesma forma, o bem realizado não se restringe ao âmbito da pessoa ou do grupo em que está inserido, mas propaga-se pelo universo. Tanto o positivo quanto o negativo se propagam e podem dar origem a outras situações boas ou más.
A Lei da Atração, bastante difundida no livro “O Segredo” de Rhonda Byrne, escritora e produtora australiana, prega que nossas vidas resultam dos pensamentos e ações que praticamos. Bons pensamentos, bons sentimentos e boas ações vibram como energias positivas e atraem bons acontecimentos. Maus pensamentos, sentimentos e ações trarão má sorte, estagnação, frustrações e doenças porque fazem circular as energias negativas.
Como é possível perceber, da mesma forma que grandes estrategistas empresariais defendem que as empresas devem agir positivamente, sendo éticas e comprometidas com a sociedade, religiosos, estudiosos místicos e teólogos pregam que a bondade é o caminho para a salvação, e que para atrair bons acontecimentos é preciso pensar e agir positivamente.
Segundo essas teorias, inveja, arrogância, vaidade, ganância, preconceito, irresponsabilidade, egoísmo e descaso com a vida e os problemas dos outros são atitudes que, muitas vezes, mesmo quando não são claramente percebidas, contribuem para construir um futuro desastroso.
Bons desejos, humildade, correção nas atitudes, busca de justiça e igualdade de oportunidades são a chave para atrair felicidade e sucesso.
O futuro pode não acontecer no momento seguinte. Os acontecimentos vão se sucedendo, geralmente de forma incontrolável e, no final da história, pode-se identificar a recompensa ou o castigo.
As forças do universo agem lentamente, mas implacavelmente, em resposta ao tipo de energia à qual corresponde o conjunto de atitudes adotadas ao longo da vida. O futuro pode até demorar muito a chegar (pelo menos no tempo percebido pela humanidade), mas quem já passou dos 40 anos, provavelmente já viu acontecer ou já vivenciou histórias que confirmam essas premissas.
Outras vezes não identificamos o castigo de alguém que sabemos ter feito muita coisa errada, mas não temos como saber como aquela pessoa se sente, se ela é feliz e realizada ou se a culpa e o remorso estão presentes em sua consciência e funcionam como castigo. Para um ser humano psicologicamente saudável, a consciência pode ser um fardo pesado que só quem vivencia pode entender.
Afinal, a sábia cultura popular diz: “aqui se faz, aqui se paga” ou “você colhe o que você plantou”.
A consciência ética espelhada no cuidado com a conduta no dia-a-dia da empresa, da família e de todos os núcleos sociais nos quais convivemos, tem o poder de construir não apenas a credibilidade, mas também o de atrair boas energias, bons acontecimentos e, por consequência, o sucesso e a prosperidade.

“Creio na verdade fundamental de todas as grandes religiões do mundo. Creio que são todas concebidas por Deus e creio que eram necessárias para os povos aos quais essas religiões foram reveladas. E creio que se pudéssemos todos ler as escrituras das diferentes fés, sob o ponto de vista de seus respectivos seguidores, haveríamos de descobrir que, no fundo, são todas a mesma coisa e sempre úteis umas às outras.” Mahatma Gandhi