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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ética e Espiritualidade


Ilustração copiada da Internet


    No Brasil, a palavra “espiritualidade”, muitas vezes confundida com espiritismo, é cercada de preconceitos que dificultam a compreensão do sentido e da riqueza antropológica do que a palavra representa. A espiritualidade é anterior às religiões. Os povos primitivos acreditavam que vários elementos da natureza como sol, lua, rios, chuva ou ventos, teriam poder de interferir nos acontecimentos humanos.
Espiritualidade envolve valores que têm a ver com a totalidade cósmica, onde o passado e o futuro se estendem pela eternidade.
Acreditando na existência de uma força ou de uma energia superior para explicar o desconhecido, mesmo que essa energia esteja dentro de cada criatura, a humanidade busca, por meio da espiritualidade, entender o universo, aceitar as adversidades, consolar as dores da vida e o medo da morte.
As religiões traduzem a espiritualidade existente nos seres humanos. A busca de explicações para os mistérios do universo, para os acontecimentos sobrenaturais, para o sentido da própria existência humana e para a incapacidade dos homens em dominar o encadeamento dos fatos, deu origem às diferentes crenças.
Apesar das origens distintas, as doutrinas religiosas e os valores éticos estão absolutamente alinhados, já que praticamente todas as crenças religiosas, místicas e esotéricas, exceto aquelas que reverenciam o diabo, pregam a necessidade de fazer o bem.
É essa a característica comum entre a espiritualidade e a ética: a orientação para o bem. A opção pelo comportamento ético é alicerçada pelo senso de justiça, do agir corretamente para manter a própria integridade de caráter.
A ética está afinada com o divino e com o sagrado, uma vez que está voltada para o bem do ser humano.
        Interessante perceber que, ao compararmos as crenças e verdades de cada uma das muitas religiões, mesmo entre aquelas seguidas por culturas muito diferentes, que seguem deuses próprios em rituais particulares, verificamos que todas elas pregam que fazer o bem é o caminho para a salvação do homem e/ou de seu espírito.
Extremismos à parte, quando a fé fundamentalista, muitas vezes manipulada, dá origem a atos violentos que provocam destruição e morte, e excluindo ainda as pseudo-igrejas, criadas unicamente com base em interesses financeiros, as maiores demonstrações de fé estão associadas a iniciativas que incentivam a prática do bem.
Ações humanitárias como a compaixão, o trabalho voluntário destinado a levar orientação educacional, alimento, ajuda financeira, atendimento médico, alento e doações diversas às camadas mais pobres e carentes da população, são atividades realizadas pela grande maioria das igrejas.
A civilização ocidental foi moldada pela tradição cristã, que tem nos mandamentos divinos sua base ética. Durante séculos, o temor a Deus e a consciência de dever para com seus mandamentos moldaram o caráter não só dos cristãos, mas de toda a sociedade.
A rejeição moderna a esses mandamentos tem suas raízes no materialismo e narcisismo contemporâneos. O individualismo exacerbado e a busca pela autorealização levam as pessoas a viverem em mundos exclusivos em que o sentir-se bem é o valor supremo.
O respeito às liberdades individuais faz com que as sociedades fiquem cada vez mais tolerantes com a desonestidade e a injustiça, uma vez que os interesses pessoais se sobrepõem aos mandamentos divinos. (*)
Não obstante, com diferentes maneiras de expressão, as diversas religiões defendem que é preciso fazer o bem para receber as bênçãos divinas e alcançar a própria felicidade. Em outras palavras, as principais teorias religiosas oferecem motivos que justificam a adoção da conduta ética.
Para o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma força perene e indestrutível. A trajetória desse espírito depende das ações do indivíduo, pois a toda ação corresponde uma reação - Lei do Carma. Assim, o espírito da pessoa que age mal segue reencarnando para sofrer as consequências dos seus erros até que aprenda a forma correta de se comportar.
Segundo o Espiritismo, a evolução do espírito precisa de muitas vidas para alcançar a plenitude. A exemplo dos hinduístas eles também crêem na reencarnação e na Lei do Carma. A vida é uma oportunidade concedida por Deus para a evolução do espírito, e cada um é responsável pelo seu destino, que é definido pela soma das atitudes presentes. Se a pessoa utilizar seu livre arbítrio para a prática do mal, ela não estará evoluindo e terá que retornar à vida em outro corpo. Cada espírito tem seu próprio ritmo de evolução. Dependendo da qualidade das ações praticadas em cada uma das vidas, a evolução pode ser mais rápida ou mais lenta.
O Judaísmo é uma religião que supervaloriza a moralidade, grande parte de seus preceitos baseia-se na recomendação de costumes e comportamentos "retos".
A prática do Budismo consiste no ensinamento de como superar o sofrimento e atingir o nirvana (estado total de paz e plenitude) por meio da disciplina mental e de uma forma correta de vida. Também crêem na Lei do Carma, segundo a qual, as ações de uma pessoa determinam sua condição na vida futura.
Católicos classificam os erros como pecados, que só serão perdoados se houver o legítimo arrependimento e o constrangimento da confissão, que consiste em assumir os erros diante de um padre, sendo que ele tem o poder de perdoar ou não. O castigo dos pecadores é o inferno, ou o purgatório, onde as almas sofrem para pagar suas dívidas.
Já os protestantes, cristãos que se subdividem em várias igrejas diferentes, com preceitos e regras que guardam algumas características diferentes entre elas, de uma maneira geral acreditam que o perdão das faltas cometidas é uma questão a ser resolvida diretamente com Deus ou Jesus Cristo, sendo que algumas dessas igrejas aceitam “vender” o perdão mediante o pagamento destinado a obras assistenciais.
No islamismo, os pecados se dividem em menores e maiores.  E a punição precisa ter o mesmo peso e a mesma natureza. Pecados menores podem ser expiados em um ritual da lavagem de certas partes do corpo antes de orar a Alá. Se não se lavarem antes, Alá não aceitará as orações. O peso dos pecados pode ser diferente para homens e mulheres. Não existe unanimidade quanto às diferentes maneiras pelas quais um muçulmano pode receber o perdão para seus pecados. As mais comuns são baseadas nos versos do Alcorão e do Hadith (ditos e ensinos de Maomé e dos Califas – seguidores de Maomé). Para os islâmicos, suas obras serão julgadas por Alá, que usa uma balança para comparar o peso das boas obras com o das más obras. Na tentativa de aumentar o peso das boas obras, os muçulmanos acreditam que existem algumas ações cujo peso Alá multiplica por dez. O jejum é uma dessas boas obras.
Como podemos perceber, todas as principais religiões encaram as más ações como faltas que precisam ser pagas.
Mudando para a área da ciência, a teoria da física quântica estabelece que tudo no universo está interconectado. Um encadeamento grandioso, mesmo que envolva um fato simples e sem importância aparente, acaba por provocar mudanças profundas na totalidade. Assim, praticar ações que causam dor, sofrimento, prejuízos ou diferentes perdas a outros, ou seja, fazer o mal, gera energia negativa, que se expande e atrai mais energia negativa para quem agiu incorretamente.
Da mesma forma, o bem realizado não se restringe ao âmbito da pessoa ou do grupo em que está inserido, mas propaga-se pelo universo. Tanto o positivo quanto o negativo se propagam e podem dar origem a outras situações boas ou más.
A Lei da Atração, bastante difundida no livro “O Segredo” de Rhonda Byrne, escritora e produtora australiana, prega que nossas vidas resultam dos pensamentos e ações que praticamos. Bons pensamentos, bons sentimentos e boas ações vibram como energias positivas e atraem bons acontecimentos. Maus pensamentos, sentimentos e ações trarão má sorte, estagnação, frustrações e doenças porque fazem circular as energias negativas.
Como é possível perceber, da mesma forma que grandes estrategistas empresariais defendem que as empresas devem agir positivamente, sendo éticas e comprometidas com a sociedade, religiosos, estudiosos místicos e teólogos pregam que a bondade é o caminho para a salvação, e que para atrair bons acontecimentos é preciso pensar e agir positivamente.
Segundo essas teorias, inveja, arrogância, vaidade, ganância, preconceito, irresponsabilidade, egoísmo e descaso com a vida e os problemas dos outros são atitudes que, muitas vezes, mesmo quando não são claramente percebidas, contribuem para construir um futuro desastroso.
Bons desejos, humildade, correção nas atitudes, busca de justiça e igualdade de oportunidades são a chave para atrair felicidade e sucesso.
O futuro pode não acontecer no momento seguinte. Os acontecimentos vão se sucedendo, geralmente de forma incontrolável e, no final da história, pode-se identificar a recompensa ou o castigo.
As forças do universo agem lentamente, mas implacavelmente, em resposta ao tipo de energia à qual corresponde o conjunto de atitudes adotadas ao longo da vida. O futuro pode até demorar muito a chegar (pelo menos no tempo percebido pela humanidade), mas quem já passou dos 40 anos, provavelmente já viu acontecer ou já vivenciou histórias que confirmam essas premissas.
Outras vezes não identificamos o castigo de alguém que sabemos ter feito muita coisa errada, mas não temos como saber como aquela pessoa se sente, se ela é feliz e realizada ou se a culpa e o remorso estão presentes em sua consciência e funcionam como castigo. Para um ser humano psicologicamente saudável, a consciência pode ser um fardo pesado que só quem vivencia pode entender.
Afinal, a sábia cultura popular diz: “aqui se faz, aqui se paga” ou “você colhe o que você plantou”.
A consciência ética espelhada no cuidado com a conduta no dia-a-dia da empresa, da família e de todos os núcleos sociais nos quais convivemos, tem o poder de construir não apenas a credibilidade, mas também o de atrair boas energias, bons acontecimentos e, por consequência, o sucesso e a prosperidade.

“Creio na verdade fundamental de todas as grandes religiões do mundo. Creio que são todas concebidas por Deus e creio que eram necessárias para os povos aos quais essas religiões foram reveladas. E creio que se pudéssemos todos ler as escrituras das diferentes fés, sob o ponto de vista de seus respectivos seguidores, haveríamos de descobrir que, no fundo, são todas a mesma coisa e sempre úteis umas às outras.” Mahatma Gandhi