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No Brasil, a palavra “espiritualidade”, muitas
vezes confundida com espiritismo, é cercada de preconceitos que dificultam a
compreensão do sentido e da riqueza antropológica do que a palavra representa. A
espiritualidade é anterior às religiões. Os povos primitivos acreditavam que
vários elementos da natureza como sol, lua, rios, chuva ou ventos, teriam poder
de interferir nos acontecimentos humanos.
Espiritualidade envolve valores que têm a ver com a
totalidade cósmica, onde o passado e o futuro se estendem pela eternidade.
Acreditando na existência de uma força ou de uma
energia superior para explicar o desconhecido, mesmo que essa energia esteja
dentro de cada criatura, a humanidade busca, por meio da espiritualidade, entender
o universo, aceitar as adversidades, consolar as dores da vida e o medo da
morte.
As religiões traduzem a espiritualidade existente
nos seres humanos. A busca de explicações para os mistérios do universo, para
os acontecimentos sobrenaturais, para o sentido da própria existência humana e
para a incapacidade dos homens em dominar o encadeamento dos fatos, deu origem
às diferentes crenças.
Apesar das origens distintas, as doutrinas religiosas e os valores éticos
estão absolutamente alinhados, já que praticamente todas as crenças religiosas,
místicas e esotéricas, exceto aquelas que reverenciam o diabo, pregam a
necessidade de fazer o bem.
É
essa a característica comum entre a espiritualidade e a ética: a orientação
para o bem. A opção pelo comportamento ético é alicerçada pelo senso de
justiça, do agir corretamente para manter a própria integridade de caráter.
A ética está afinada com o
divino e com o sagrado, uma vez que está voltada para o bem do ser humano.
Interessante perceber que, ao
compararmos as crenças e verdades de cada uma das muitas religiões, mesmo entre
aquelas seguidas por culturas muito diferentes, que seguem deuses próprios em
rituais particulares, verificamos que todas elas pregam que fazer o bem é o
caminho para a salvação do homem e/ou de seu espírito.
Extremismos à parte, quando a fé fundamentalista,
muitas vezes manipulada, dá origem a atos violentos que provocam destruição e morte,
e excluindo ainda as pseudo-igrejas, criadas unicamente com base em interesses
financeiros, as maiores demonstrações de fé estão associadas a iniciativas que
incentivam a prática do bem.
Ações humanitárias como a compaixão, o trabalho
voluntário destinado a levar orientação educacional, alimento, ajuda
financeira, atendimento médico, alento e doações diversas às camadas mais pobres
e carentes da população, são atividades realizadas pela grande maioria das igrejas.
A civilização ocidental foi moldada pela tradição
cristã, que tem nos mandamentos divinos sua base ética. Durante séculos, o
temor a Deus e a consciência de dever para com seus mandamentos moldaram o
caráter não só dos cristãos, mas de toda a sociedade.
A rejeição moderna a esses mandamentos tem suas
raízes no materialismo e narcisismo contemporâneos. O individualismo exacerbado
e a busca pela autorealização levam as pessoas a viverem em mundos exclusivos
em que o sentir-se bem é o valor supremo.
O respeito às liberdades individuais faz com que as
sociedades fiquem cada vez mais tolerantes com a desonestidade e a injustiça,
uma vez que os interesses pessoais se sobrepõem aos mandamentos divinos. (*)
Não obstante, com diferentes maneiras de expressão,
as diversas religiões defendem que é preciso fazer o bem para receber as
bênçãos divinas e alcançar a própria felicidade. Em outras palavras, as
principais teorias religiosas oferecem motivos que justificam a adoção da
conduta ética.
Para
o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma força perene e
indestrutível. A trajetória desse espírito depende das ações do indivíduo, pois
a toda ação corresponde uma reação - Lei do Carma. Assim,
o espírito da pessoa que age mal segue reencarnando para sofrer as consequências
dos seus erros até que aprenda a forma correta de se comportar.
Segundo o Espiritismo, a evolução do espírito
precisa de muitas vidas para alcançar a plenitude. A exemplo dos hinduístas
eles também crêem na reencarnação e na Lei do Carma. A vida é uma
oportunidade concedida por Deus para a evolução do espírito, e cada um é
responsável pelo seu destino, que é definido pela soma das atitudes presentes.
Se a pessoa utilizar seu livre arbítrio para a prática do mal, ela não estará
evoluindo e terá que retornar à vida em outro corpo. Cada espírito tem seu
próprio ritmo de evolução. Dependendo da qualidade das ações praticadas em cada
uma das vidas, a evolução pode ser mais rápida ou mais lenta.
O
Judaísmo é uma religião que supervaloriza a moralidade, grande parte de seus
preceitos baseia-se na recomendação de costumes e comportamentos
"retos".
A
prática do Budismo consiste no ensinamento de como superar o sofrimento e
atingir o nirvana (estado total de paz e plenitude) por
meio da disciplina mental e de uma forma correta de vida. Também crêem na Lei
do Carma, segundo a qual, as ações de uma pessoa determinam sua condição na
vida futura.
Católicos classificam os erros como pecados, que só
serão perdoados se houver o legítimo arrependimento e o constrangimento da
confissão, que consiste em assumir os erros diante de um padre, sendo que ele
tem o poder de perdoar ou não. O castigo dos pecadores é o inferno, ou o
purgatório, onde as almas sofrem para pagar suas dívidas.
Já os protestantes, cristãos que se subdividem em
várias igrejas diferentes, com preceitos e regras que guardam algumas
características diferentes entre elas, de uma maneira geral acreditam que o
perdão das faltas cometidas é uma questão a ser resolvida diretamente com Deus
ou Jesus Cristo, sendo que algumas dessas igrejas aceitam “vender” o perdão
mediante o pagamento destinado a obras assistenciais.
No
islamismo, os pecados se dividem em menores e maiores. E a punição precisa ter o mesmo peso e a mesma
natureza. Pecados menores podem ser expiados em um ritual da lavagem de certas
partes do corpo antes de orar a Alá. Se não se lavarem antes, Alá não aceitará
as orações. O peso dos pecados pode ser diferente para homens e mulheres. Não
existe unanimidade quanto às diferentes maneiras pelas quais um muçulmano pode
receber o perdão para seus pecados. As mais comuns são baseadas nos versos do
Alcorão e do Hadith (ditos e ensinos de Maomé e dos Califas – seguidores de
Maomé). Para os islâmicos, suas obras serão julgadas por Alá, que usa uma
balança para comparar o peso das boas obras com o das más obras. Na tentativa
de aumentar o peso das boas obras, os muçulmanos acreditam que existem algumas ações
cujo peso Alá multiplica por dez. O jejum é uma dessas boas obras.
Como
podemos perceber, todas as principais religiões encaram as más ações como faltas
que precisam ser pagas.
Mudando para a área da ciência, a teoria da física
quântica estabelece que tudo no universo está interconectado. Um encadeamento
grandioso, mesmo que envolva um fato simples e sem importância aparente, acaba
por provocar mudanças profundas na totalidade. Assim, praticar ações que causam
dor, sofrimento, prejuízos ou diferentes perdas a outros, ou seja, fazer o mal,
gera energia negativa, que se expande e atrai mais energia negativa para quem
agiu incorretamente.
Da mesma forma, o bem realizado não se restringe ao
âmbito da pessoa ou do grupo em que está inserido, mas propaga-se pelo universo.
Tanto o positivo quanto o negativo se propagam e podem dar origem a outras
situações boas ou más.
A Lei da Atração, bastante difundida no livro “O
Segredo” de Rhonda Byrne, escritora e
produtora australiana, prega que nossas vidas resultam dos pensamentos e ações
que praticamos. Bons pensamentos, bons sentimentos e boas ações vibram como
energias positivas e atraem bons acontecimentos. Maus pensamentos, sentimentos
e ações trarão má sorte, estagnação, frustrações e doenças porque fazem
circular as energias negativas.
Como é possível perceber, da
mesma forma que grandes estrategistas empresariais defendem que as empresas
devem agir positivamente, sendo éticas e comprometidas com a sociedade, religiosos,
estudiosos místicos e teólogos pregam que a bondade é o caminho para a salvação,
e que para atrair bons acontecimentos é preciso pensar e agir positivamente.
Segundo essas teorias, inveja,
arrogância, vaidade, ganância, preconceito, irresponsabilidade, egoísmo e
descaso com a vida e os problemas dos outros são atitudes que, muitas vezes, mesmo
quando não são claramente percebidas, contribuem para construir um futuro desastroso.
Bons desejos, humildade, correção
nas atitudes, busca de justiça e igualdade de oportunidades são a chave para atrair
felicidade e sucesso.
O futuro pode não acontecer no
momento seguinte. Os acontecimentos vão se sucedendo, geralmente de forma
incontrolável e, no final da história, pode-se identificar a recompensa ou o
castigo.
As forças do universo agem
lentamente, mas implacavelmente, em resposta ao tipo de energia à qual
corresponde o conjunto de atitudes adotadas ao longo da vida. O futuro pode até
demorar muito a chegar (pelo menos no tempo percebido pela humanidade), mas
quem já passou dos 40 anos, provavelmente já viu acontecer ou já vivenciou
histórias que confirmam essas premissas.
Outras vezes não identificamos
o castigo de alguém que sabemos ter feito muita coisa errada, mas não temos como
saber como aquela pessoa se sente, se ela é feliz e realizada ou se a culpa e o
remorso estão presentes em sua consciência e funcionam como castigo. Para um
ser humano psicologicamente saudável, a consciência pode ser um fardo pesado
que só quem vivencia pode entender.
Afinal, a sábia cultura
popular diz: “aqui se faz, aqui se paga” ou “você colhe o que você plantou”.
A consciência ética espelhada
no cuidado com a conduta no dia-a-dia da empresa, da família e de todos os
núcleos sociais nos quais convivemos, tem o poder de construir não apenas a
credibilidade, mas também o de atrair boas energias, bons acontecimentos e, por
consequência, o sucesso e a prosperidade.
“Creio
na verdade fundamental de todas as grandes religiões do mundo. Creio que são
todas concebidas por Deus e creio que eram necessárias para os povos aos quais
essas religiões foram reveladas. E creio que se pudéssemos todos ler as
escrituras das diferentes fés, sob o ponto de vista de seus respectivos
seguidores, haveríamos de descobrir que, no fundo, são todas a mesma coisa e
sempre úteis umas às outras.” Mahatma
Gandhi