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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Vale a Pena ser Ético?

Aproveito a onda e a polêmica criada a partir da publicação do artigo de Gustavo Ioschpe na edição da Veja.com de 14/09/2013, onde ele questiona se deve insistir em educar seus filhos para serem éticos já que terão que viver num mundo onde a maioria não compartilha desses mesmos valores. 

http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/o-dilema-da-criacao-dos-filhos-a-etica-compensa
Esta semana, Veja.com voltou ao tema com a publicação de matéria de Gabriela Loureiro cujo título é: 
O dilema da criação de filhos no Brasil: a ética compensa?



O texto abaixo é um resumo de um dos capítulos de meu novo livro, ainda não publicado.
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Depois e tentar descrever o que é “ser ético” e supondo que a tentativa tenha sido bem sucedida, podemos passar a pensar na questão: “Qual é a vantagem de ser ético?”.

Trata-se de uma pergunta capciosa! Entretanto, já que ainda existem muitas pessoas que gostam de agir com esperteza, sempre levando vantagem em cima dos outros, quem sabe se, sendo possível demonstrar as vantagens de agir com correção, algumas se vejam tentadas a experimentar a sensação de “ser ético”? Aliás, já dizia Jorge Ben Jor na música Galileu da Galiléia, “se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”.

Somos humanos, muito longe da perfeição divina. Estamos, portanto, sujeitos a erros de avaliação, julgamento ou incapazes de resistir a algumas tentações que se apresentam tão mais vantajosas.

Uma mentirinha boba aqui, uma pequena vantagem em algum negócio ali, algum lucro mais interessante acolá... Isso significa que seremos pessoas más, condenadas ao inferno ou seja lá pra que lugar vão as almas que pecaram ou agiram de forma contrária ao que seria bom e correto?

Em se tratando de seres humanos, jamais estaremos livres dos erros. Já diz o velhíssimo ditado....”errar é humano!”. Uma verdade inquestionável. Erramos mesmo quando tentamos acertar.

Outro ditado diz que “de pessoas com boas intenções o inferno está cheio”.

Não obstante, a maior batalha na defesa da conduta ética é a de evitar o erro consciente, muitas vezes arquitetado por quem sabe que está agindo mal e, ainda assim, assume o risco inerente às atitudes condenáveis ou desonestas.

Todos nós sabemos que roubar é uma atitude errada, ou melhor, criminosa. Então, por que tanta gente rouba? Certamente, na maioria das vezes, os ladrões não estão sendo motivados pela fome. Da mesma maneira, todos os motoristas sabem que ultrapassar no meio de uma curva, sem ter a menor idéia do que pode estar vindo na direção oposta, é muito perigoso. Ainda assim, muitos aceleram e ultrapassam, arriscando inclusive a própria vida! As duas atitudes – ser antiético e ultrapassar em local proibido, têm em comum o risco dos acidentes de percurso.

Claro que quem respeita as regras não está livre de um acidente, mas o risco é muito menor. Além disso, se não podemos controlar o destino, podemos, pelo menos, tentar minimizar riscos, certo?

Quem nunca viu alguém ultrapassando perigosamente nas estradas? A impaciência e a pressa fazem com que muitos se arrisquem não apenas a perder suas vidas, mas a acabar com outras vidas inocentes. É possível que a maioria dessas pessoas não tenha pensado antes de decidir ultrapassar, apenas imaginou que, por alguma proteção divina, estaria livre de encarar um caminhão pela frente. Arrisca-se e, às vezes, dá errado....

Optar por não ser ético é mais ou menos a mesma coisa.

Por que será que tantas empresas, de uma hora para outra, começaram a se preocupar com a ética nos negócios? Será que elas optaram por reduzir lucros apenas para melhorar a imagem e conquistar a admiração pública? Uma mera questão de correção de princípios e vaidade corporativa?

Com certeza não!

O que fez o mercado internacional começar a mudar foi a tomada de consciência do risco inerente aos negócios realizados sem comprometimento ético. Grandes empresas sucumbiram por causa de um único negócio mal trabalhado.

Evidentemente que, no curto prazo, não agir com ética traz muitas vantagens. Mas se o foco está no futuro, na manutenção da reputação e da própria permanência no mercado ao longo do tempo, é muito mais vantajoso e seguro agir com ética.

Quem não age com ética consegue muitas coisas rapidamente, seja dinheiro, reconhecimento e, até mesmo, prestígio.

A conduta baseada na falta de ética tem como agravante algo em comum com as drogas: o perigo do primeiro contato. Se a pessoa age de maneira errada, consegue alguma vantagem, não é descoberta e convive em paz com sua consciência, ela deverá ter muito mais dificuldade em resistir a agir errado em situações futuras.

Ser ético exige reduzir lucros com negócios escusos, envolve perder oportunidades tentadoras e abrir mão de interesses próprios em benefício de interesses nobres e coletivos.

Ser ético só será vantajoso para aqueles que pretendem assegurar a sua própria reputação e a da empresa, é vantajoso para aqueles que pretendem crescer apoiados em seu próprio mérito, talento e autoconfiança com a segurança de quem pode ser absolutamente transparente quanto à sua conduta e aos meios utilizados para obter sucesso.

Ser ético é vantajoso para quem não suporta viver sob a ameaça de perder sua credibilidade, sua reputação e a admiração das outras pessoas, incluindo pais, cônjuge, filhos e amigos.

Ser ético tem a ver com permanência, com longo prazo, com sustentabilidade.

Claro que nada na vida pode ser considerado matematicamente seguro. As pessoas éticas estão sujeitas a sofrer injustiças e tornarem-se vítimas de atitudes antiéticas de outras pessoas. Podem ser taxadas de ingênuas ou "otárias". Podem também cometer erros involuntários e se torturarem com suas próprias culpas.

Existe ainda outro perigo que cerca as pessoas de bem: elas costumam incomodar muito. Isso acontece porque elas representam um risco para aqueles que agem sem compromisso com o que é correto e honesto. Assim, podem ser vítimas de “armações” para derrubá-las, neutralizando o poder de fogo de suas denúncias.

A questão maior envolvida na conduta ética é a consciência, pelo menos para pessoas mentalmente saudáveis que têm consciência, que pensam e analisam suas próprias atitudes. Para essas pessoas, a ética compensa porque traz a tranquilidade de não estar correndo o risco de ser descoberto, julgado e condenado.

Transformar uma pessoa habituada à prática de atitudes antiéticas, que já conhece todos os riscos e consequências aos quais está submetida, é tarefa quase impossível. Talvez, se for desmascarada e sentir o castigo na própria carne ou no próprio bolso, ela possa concluir que não valeu a pena.

Por outro lado, não é justo negar a qualquer pessoa, independente de sua origem e de sua história de vida, a oportunidade de receber informações que permitam a ela desenvolver sua consciência ética. Essa oportunidade pode ser determinante para construção de sua visão e decisão diante de situações futuras. Conhecendo e debatendo sobre o que é considerado certo ou errado, seja pela sociedade ou pela empresa, estando informadas dos riscos e penalidades previstas, todos poderão avaliar melhor as inúmeras variáveis das consequências de seus atos.

Por fim, é de fundamental importância para quem acredita que pode colaborar com a reforma de valores saber que seu comportamento está sendo observado e que vai servir de exemplo para seu círculo de relacionamento, em especial, filhos e colegas de trabalho.

Um bom exemplo fala mais que milhares de palavras. É com bons exemplos que se demonstra que é possível alcançar o sucesso perene sem transigir valores, compreendendo que a sociedade é a soma das atitudes de cada pessoa no seu dia-a-dia.

O consultor em gestão de pessoas, liderança e qualidade de vida, Carlos Legal, alerta que “conseguir ser ético no trabalho é um processo um pouco complicado e que, para algumas pessoas, leva um tempo para ser incorporado. “Há dois caminhos para desenvolver os valores: o primeiro é treinar, treinar e treinar tais comportamentos. O segundo é ter consciência do prejuízo da ausência da falta desses valores”. Legal também afirma que devemos mudar para mudar os outros. “Como disse Gandhi: ‘seja você próprio a mudança que quer ver no mundo’. Começa da célula, começa no indivíduo a mudança de qualquer organização a qual pertencemos. Se mesmo praticando o bem e seguindo a ética você não consegue realizar seus sonhos, talvez seja hora de repensar sua vida e suas prioridades. Ou procurar uma empresa na qual você se sinta mais confortável.” Carlos Legal afirma que existem muitas empresas que gostam de pessoas com bons valores. “As companhias apreciam comportamentos éticos e a ética é balizada por valores. A propósito, cerca de 70% dos executivos são demitidos mais por ausência de ética do que por não alcançar resultados. Se o salário for menor, reflita atentamente sobre o que é importante para você. Às “vezes, vale mais a pena ganhar menos e ser feliz” finalizou.

Para mudar, é necessário parar de esperar que o governo e os políticos façam o que é considerado certo, e passemos a fazer o certo que está ao nosso alcance. Assim, fazendo a nossa parte, estaremos agregando valor à sociedade.

É um processo lento? Sem dúvida! Mas talvez seja o único que podemos começar agora.

Se as maiores e melhores empresas, geridas pelas cabeças mais bem preparadas do mundo, que estudaram nas melhores universidades, chegaram à conclusão que ser ético é o melhor caminho e estão investindo pesado nesse objetivo, é melhor não duvidar disso.

Afinal, em qual carro você prefere viajar? Naquele que comete infrações e se arrisca em ultrapassagens perigosas, mas pode chegar mais rápido, ou naquele que é guiado por um motorista responsável, obediente às regras, que tem uma chance muito maior de chegar ao destino, mesmo que um pouco mais tarde?