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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Combate ao doping no esporte - Uma questão de justiça!

           Só agora me dei conta de quanto tempo passou desde minha última postagem.
           A vida, às vezes, acontece tão depressa que a gente nem percebe a passagem do tempo. 
           A vida de escritora e palestrante está agora em segundo plano. Um convite irrecusável para trabalhar na recém criada Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, motivou meu retorno à rotina diária de trabalho fora de casa e à Brasília.
           Como não se encantar em participar do esforço para tornar o esporte mais ético e justo?  
            O combate à dopagem é um desafio relativamente recente se comparado à longa história dos Jogos Olímpicos.
            Consagrada como uma prática cujo maior valor está na igualdade de condições para alcançar a vitória, dependendo tão somente da habilidade individual e do esforço pessoal na busca de resultados, o esporte era, e precisa continuar sendo, um caminho onde a oportunidade é oferecida de forma igualitária a todos.
            No entanto, desde que o esporte se revelou um novo e excelente canal de marketing, transformando atletas em ídolos nacionais e internacionais capazes de alcançar grande poder de empatia e convencimento junto a milhões de pessoas em todo o mundo, o valor da imagem daqueles que vencem campeonatos e provas olímpicas aumentou exponencialmente, atraindo grandes empresas dispostas a investir pesado para associar sua marca ao sucesso desses atletas – os patrocinadores.
            Assim, as gerações mais recentes passaram a sonhar e a buscar o esporte não apenas pelo prazer de alcançar resultados, mas também como meio de vida.
            Os altos valores financeiros que passaram a fazer parte da realidade dos campeões de várias modalidades mudaram o cenário do esporte.
            O admirável espírito esportivo, que valoriza o mérito e consagra o melhor resultado, que exige talento e dedicação nos treinamentos, premiando os que superam os adversários na força, na garra e na determinação, abriu espaço para oportunistas que procuram fabricar vencedores artificiais visando ganhos financeiros sem qualquer preocupação com os efeitos nefastos produzidos na saúde desses atletas.
            A continuidade de patrocínios exige a manutenção dos bons resultados ao longo do tempo, o que pode ser uma tortura para atletas que não se preparam para exercer outra carreira depois que a boa fase passa.
            Assim, em poucos anos, a prática da dopagem despertou o interesse de pessoas inescrupulosas que investem grandes quantias em pesquisas de alto nível técnico para buscar e criar substâncias ou métodos que ajudem a melhorar artificialmente o desempenho de atletas. Além de ganhar com a venda dessas substâncias, esses investidores podem lucrar com a participação nos ganhos com premiações e patrocínios dos atletas usuários de dopagem que aceitam o ajuda e acabam se tornando reféns de seus apoiadores.    
            A grande injustiça da dopagem é que, mesmo quando ela é descoberta, quase sempre após a competição, ela impede o verdadeiro vencedor de desfrutar do grande momento da premiação.



           A maior emoção do esportista é subir ao pódio, receber sua medalha ou troféu, ver a bandeira do seu clube/estado/país ser içada ao mastro mais alto, ouvir o hino e ver o olhar de felicidade e admiração dos familiares, amigos e do grande público. Essa grande, inesquecível e irrecuperável sensação, o prêmio maior de todo o seu esforço, lhe é subtraído em benefício de alguém que venceu de maneira desonesta.
            Mesmo que a dopagem venha a ser descoberta e que esse atleta seja reconhecido como vencedor, ele jamais terá a oportunidade de vivenciar aquele momento tão especial com o qual ele tanto sonhou.
           Por outro lado, o atleta que foi flagrado passa por uma das piores experiências de sua vida, pois sua reputação fica irremediavelmente associada ao que é desonesto e sujo.
            As mesmas pessoas que o incentivaram a utilizar dopagem certamente vão lhe virar as costas e afirmar que não sabiam de nada. Aquelas que o aplaudiram, passam a criticá-lo porque se sentem enganadas e repudiam a falta de honestidade. Seus ganhos financeiros, inflados com a falsa vitória, são abruptamente interrompidos e ele se vê em um ponto de onde não há retorno possível, pelo menos na área do esporte.
            E essas não são as únicas consequências negativas da dopagem.
          Existe outra mais abrangente e que prejudica a saúde de moças e rapazes dispostos a usar dessas substâncias não apenas para vencer competições regionais e/ou não oficiais, mas simplesmente para alcançar mais rapidamente um físico musculoso que vai proporcionar uma aparência valorizada pelos atuais padrões de beleza.
            A dopagem desvirtua os valores éticos do esporte e por isso precisa ser erradicada das competições oficiais.
            A criação da ABCD – Autoridade Brasileira do Controle de Dopagem é um importante passo do Governo Brasileiro na busca desse objetivo.
            Existe um longo caminho a ser percorrido que precisa da colaboração das entidades envolvidas, dos atletas já consagrados, das equipes de apoio aos atletas em atividade, dos meios de comunicação, dos clubes e escolas e de toda a sociedade disposta a defender a ética no esporte e em todas as áreas de relacionamento social.
            O valor econômico não pode sobrepor-se à beleza do esporte.
            O valor do esporte está na equivalência de condições que torna a vitória possível àqueles agraciados com o talento e que a buscam com verdadeira dedicação.
            Por isso, estou muito feliz de poder aplicar na prática as minhas convicções e teorias em uma área que me encanta desde os tempos de nadadora do América Futebol Clube, na Rua Campos Salles, na Tijuca - o esporte de competição!
                  O desafio é grande. Mudar a cultura deturpada e arraigada é difícil e sujeita a reações inimagináveis. Mas a vontade de ajudar a fazer o que é certo e permitir que o vencedor seja um verdadeiro campeão e não o resultado de manipulações químicas sorrateiras e prejudiciais à saúde é muito maior!