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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

quarta-feira, 17 de abril de 2019


Ações de ética e compliance esbarram na resistência das lideranças


Prevenir erros, desvios e outras inconformidades na execução das rotinas evita perdas, desgastes, ações judiciais, desrespeito às normas legais e regulamentos, acidentes e outros prejuízos. Esse é o objetivo das ações de compliance que vêm sendo adotadas por milhares de empresas em todo o mundo.
Nota-se a preocupação das organizações na prevenção das consequências danosas de erros, muitas vezes involuntários, cometidos por trabalhadores de todos os níveis hierárquicos. Um simples lapso na digitação de dados no momento da entrada de informações de um cliente pode comprometer a qualidade e a rentabilidade da operação. Por exemplo, a aprovação de valores indevidos para operações de crédito ou a impossibilidade de entregar uma venda ou ainda a venda de um produto diferente do efetivamente adquirido pelo cliente vai causar problemas e perdas diversas. Muitos desses “pequenos” erros provocam desgastes, incluindo o comprometimento da reputação e da credibilidade da empresa.
Podem ser pequenos prejuízos que nem aparecem na contabilidade. Entretanto, existem situações em que erros podem gerar danos incalculáveis, como por exemplo multas de grande monta, capazes de ameaçar a lucratividade e até mesmo a sobrevivência da empresa.
Diante dessa realidade, as ações de compliance tornaram-se indispensáveis para a boa gestão de empresas de todos os tamanhos.
Apesar disso, empresas que investiram fortemente em compliance, incluindo programas de ética, se viram envolvidas em situações que geraram enormes prejuízos. Só nos últimos tempos, para além dos escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro que envolveram relações entre os setores público e privado no Brasil, como Petrobras, JBS, Odebrecht, OAS e tantas outras, multinacionais respeitadas como Vale, Volkswagen, Nissan, United Airlines, Facebook, Zara e tantas outras marcas famosas apareceram em escândalos éticos variados.
Se todas essas empresas já haviam implantado programas de prevenção de riscos, por que tantos escândalos?
A responsabilidade quase sempre recai sobre a atitude antiética de profissionais que tinham poder de decisão, ou seja, um líder.
E quem são esses líderes? São pessoas que trabalhavam e conviviam na empresa por tempo suficiente para ter demonstrado o seu perfil egoísta. Pessoas capazes de tomar uma decisão eticamente incorreta, com potencial para provocar muitos prejuízos, certamente tinham plena consciência dos riscos envolvidos naquela opção.
Muito provavelmente estão entre as mesmas pessoas conhecidas pelo comportamento que demonstra ser alguém arrogante, ganancioso, mentiroso, vaidoso, tendencioso e bem mais ambicioso do que a maioria dos colegas.
Por esse motivo é possível afirmar que as condutas antiéticas percebidas nas empresas, e que compõem os riscos operacionais e são responsáveis por prejuízos imprevisíveis e incalculáveis, acontecem porque seus agentes não foram devidamente orientados/desestimulados desde quando começaram a trabalhar naquela organização.
De maneira geral, quando se pensa em trabalhar a ética nas empresas, o foco recai na prevenção de fraudes, corrupção, pagamento de propina e lavagem de dinheiro.
Os códigos de conduta, políticas de consequências e canais de denúncia são criados e divulgados, mas apesar de abordarem questões referentes ao relacionamento pessoal, discriminação, como assédio moral e sexual, a efetividade das ações coercitivas parece limitada a questões que envolvem apenas a honestidade dos colaboradores.
Quando as ocorrências estão relacionadas à conduta das lideranças, uma nuvem espessa parece encobrir a visão de quem deveria inibir comportamentos abusivos, ou seja, as chefias imediatas dos faltosos.
Nas reuniões estratégicas onde o assunto “ética” é abordado, as lideranças presentes são consideradas acima de qualquer suspeita ou não passíveis de terem seus comportamentos questionados. É como se a falta de ética na conduta pessoal estivesse longe dali e todos os presentes fossem exemplos a serem seguidos.
Outra informação capaz de imobilizar reações contrárias de gestores de todos os níveis é aquela que aponta para irregularidades cometidas na realização de negócios, especialmente se esses negócios somam para o alcance de metas estabelecidas. Desde que essas irregularidades não possam ser enquadradas como criminosas, dificilmente elas serão recriminadas e, muito menos, punidas.
Assim, diante da certeza da impunidade, vendedores abordam clientes de outros colegas, invadem áreas de terceiros, enganam clientes, roubam projetos e ideias, apresentam relatórios inconsistentes, mentem, sabotam e trapaceiam. E quem trabalhou corretamente, além de ter dificuldade de alcançar o mesmo resultado, ainda é convidado a aplaudir e parabenizar o desempenho e a promoção alcançada pelos colegas que adotam esses subterfúgios.
Quem não fica desmotivado diante dessa realidade?
Líderes antiéticos que alcançam resultados satisfatórios parecem ter um salvo-conduto para cometer assédio moral e/ou sexual. Dificilmente o gestor responsável pela manutenção dessa liderança deixa de ter conhecimento sobre o comportamento inadequado de seu subordinado. A “rádio corredor” costuma divulgar essas notícias de forma bastante eficiente. Então, sendo um líder de outros líderes, por que não toma a iniciativa de inibir condutas inadequadas, capazes de comprometer a qualidade do ambiente de trabalho e o bem-estar de outras pessoas?
A resposta é simples: o que ele vai ganhar com isso? Se esse líder é grosseiro, vaidoso, arrogante, egoísta, mas faz resultados, por que se desgastar envolvendo-se em cobranças que em nada vão acrescentar ao resultado dos negócios?
A decisão de não agir é extremamente egoísta e também antiética. Pessoas capazes de trapacear para alcançar resultados têm em comum o perfil de serem ambiciosas e querem sempre agradar a seus superiores hierárquicos. Para muitos desses profissionais, que são verdadeiros algozes de suas equipes, uma ou duas conversas sinceras, com críticas contundentes a respeito de sua forma de se relacionar com seus liderados, seriam suficientes para que buscassem melhorar sua conduta por receio de perder a posição ou o emprego.
Gestores que optam pela acomodação de não educar seus subordinados com relação à conduta ética não estão minimamente preocupados com o bem-estar das equipes. Não enxergam também que esse líder de má conduta inspira futuros líderes com seus maus exemplos.
A falta de proatividade das lideranças para inibir condutas antiéticas é também responsável pela ineficácia dos canais de denúncia e das pesquisas de avaliação de desempenho 360º. Isso porque, quando uma denúncia é registrada ou uma avaliação não agrada ao gestor avaliado, a primeira atitude do “ofendido” é buscar identificar quem denunciou ou quem fez a avaliação desfavorável a fim de poder retaliar.
A retaliação aos denunciantes é uma realidade em empresas do mundo ocidental, conforme aponta a pesquisa GBES, que periodicamente ouve empregados de empresas localizadas em 13 países, incluindo o Brasil, e que é realizada pela organização norte-americana ECI - Ethics & Compliance Initiative.
Esse quadro explica o porquê de tantos escândalos. Líderes antiéticos estão muito próximos de serem também desonestos, ou no mínimo condescendestes com irregularidades, pois a linha que separa essas duas características é muito tênue.
E é por isso que até mesmo organizações que já receberam a certificação de empresas comprometidas com a ética estão expostas a escândalos e prejuízos produzidos por decisões e atitudes inadequadas.
Para reduzir esse risco as empresas deveriam investir na educação para o desenvolvimento da consciência ética. E educar, além de ensinar e orientar, é também punir atitudes antiéticas. É exigir que as lideranças sejam educadoras, formadoras dos futuros profissionais e, portanto, exemplos de integridade moral.
A certeza de que os atuais líderes terão que rever seu comportamento, abrindo mão de algumas liberalidades eticamente questionáveis e buscando um maior controle de suas ações e reações, é o motivo pelo qual tantas empresas evitam investir na formação ética de seus colaboradores. Porque para cobrar vão precisar dar o exemplo, o que gera muito desconforto.
Enquanto as empresas não valorizarem as pessoas que privilegiam sua integridade e sua consciência ética para nortear suas decisões dos incontáveis dilemas éticos do dia a dia, o cenário não vai ser alterado.
Está claro que pessoas sem consciência ética e confiantes na impunidade vão continuar defendendo e decidindo conforme seus próprios interesses. Assim, os interesses da empresa nunca serão tratados como prioridade.
É preciso ter clareza de que a maioria das pessoas quer fazer o que é certo, quer fazer o melhor. Existem pessoas que sempre vão decidir para atender aos seus próprios interesses, enquanto outras sempre decidirão com base em sua integridade de princípios, fazendo o que é o certo. Contudo, a grande maioria das pessoas está posicionada em algum lugar entre esses dois extremos, ou seja, vão decidir conforme a cultura do local em que atuam. A maioria das pessoas que trabalham vai seguir a cultura da empresa e o exemplo de seus líderes, como também vai fazer tudo o que eles pedirem.
Isso demonstra a importância do investimento na educação para o desenvolvimento da consciência ética como forma de verdadeiramente inibir os riscos operacionais das empresas. E essa educação começa pelo real comprometimento das lideranças.
Enquanto os gestores insistirem em fechar os olhos para essa evidência, muitos escândalos vão continuar acontecendo. Escândalos que geram grandes prejuízos para essas mesmas empresas, mas que também provocam a perda de vidas em acidentes que destroem o meio-ambiente, encerram carreiras e contribuem para que a sociedade deixe de evoluir moralmente.
Além disso, lamentavelmente, os ambientes de trabalho vão continuar injustos e cada vez mais hostis, adoecendo emocional e fisicamente muitos trabalhadores a cada dia.

Marcia Cristina Gonçalves de Souza
03 de abril de 2019

sexta-feira, 8 de março de 2019

Decisão ética. A escolha é você quem faz! A consequência é a vida que traz.
A pressão está presente no ambiente de trabalho. Todos se sentem pressionados a fazer, no mínimo, um bom trabalho. Um trabalho que mereça ser justamente remunerado. Para isso, o trabalho, seja ele qual for, precisa ser bem feito. Isso é normal, saudável e nos estimula a buscar o aperfeiçoamento contínuo. Ocorre que a pressão acaba ficando muito mais forte em razão da competitividade, da cobrança por prazos e qualidade e pela vontade de alçar voos cada vez mais altos, tanto na conquista de posições mais poderosas como também de maiores ganhos. E é aí que o estresse começa.
Pressão para cumprir prazos, para cumprir metas, para aumentar as vendas, para estar bem vestido e em boa forma física. Pressão para ser criativo, para aprender um novo processo, um novo idioma, para manter a equipe motivada, para fazer a pós-graduação e ainda ter tempo para ser bom pai/mãe, filho/filha, marido/esposa, amigo/amiga. Tem que estar up to date com as mídias sociais e, se possível, ter tempo para cuidar da espiritualidade e participar de atividades comunitárias/filantrópicas e reuniões sociais. Só de ler cansa... e não vamos esquecer que quase tudo custa dinheiro. Então, é preciso fazer mais dinheiro. A verdade é que estamos todos mergulhados em um mundo de obrigações, deveres e oportunidades que não podemos perder. E no meio de toda essa pressão, seu melhor cliente, ou seu chefe, ou qualquer outra pessoa pede para você fazer uma coisa simples, quase imperceptível, mas capaz de facilitar algumas dessas “metas”. Quem nunca precisou mentir porque o chefe pediu para dizer que não estava ou que não podia atender? Uma mentirinha simples... mas também pode ser que ele peça para alterar uma data em um documento porque o maior cliente da empresa precisa fazer de conta que fez o pedido na data em que o preço estava melhor. Você altera a data ou perde a venda? E se alguém denunciar a irregularidade? A última pesquisa GBES – Global Business Ethics Survey realizada pela organização Ethics & Compliance Initiative apontou que 63% dos entrevistados afirmaram ter conhecimento de ocorrências de pressão exercida pelas lideranças para descumprir normas internas.
O que parece ainda estar sob uma névoa é a percepção de que cada vez que alguém cede à pressão para descumprir normas, essa pessoa se coloca sob o risco de ter sua reputação comprometida, ou, ainda pior, ser enquadrada por fraudar uma cláusula legal ou prevista no código de ética da empresa.
As empresas estão investindo pesadamente nos controles. A consciência ética de alguns os leva a não hesitar denunciar irregularidade e também é importante lembrar que cada vez que se encontra um jeito de burlar alguma norma para ganhar alguma coisa, alguém vai perder ou, pelo menos, deixar de ganhar.
Empresas costumam lançar campanhas para estimular o aumento dos negócios e ninguém gosta de perder para quem não agiu da forma correta. Daí para a denúncia, é um passo. Para quem tem um mínimo de consciência ética, conviver com o medo é um grande castigo. Nada compensa a perda da paz. Para quem passa pelo dissabor de ser descoberto e responder por suas decisões inadequadas, certamente vai chegar à conclusão de que não valeu a pena porque as consequências costumam ser pesadas. Como recuperar a credibilidade e a confiança das pessoas que acreditavam na sua integridade? Claro que, por mais que estejamos atentos, podemos errar e ser punidos por isso. No entanto, a punição é muito mais dolorosa quando percebemos que sabíamos que estávamos errando. Quando percebemos que optamos pelo caminho que pareceu ser mais fácil naquele momento, mas que agora se mostra tão equivocado. É quando o sentimento de culpa se instala. A gente cresce, estuda, investe na formação e procura fazer tudo certo. Gostamos de provocar orgulho nos nossos país, admiração nos nossos filhos, sermos respeitadas (os) pelos nossos amigos. Como, de repente, estamos sendo acusados, julgados e condenados por uma decisão errada que tomamos em um único momento de descuido? Por isso, pensem, pensem muito se vale a pena o risco de perder seu emprego, perder o respeito e a admiração das pessoas que realmente são importante para você apenas para conseguir manter um cliente, cumprir uma meta, ter um aumento de salário, ganhar um prêmio numa campanha motivacional ou porque preferiu obedecer às ordens da chefia sem questionar a correção da ordem recebida.
A escolha é você quem faz! A consequência é a vida que traz.
Ilustração copiada do blog da alfaconcursos.com.br