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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ética nos relacionamentos românticos

No programa de Ana Maria Braga que foi ao ar hoje, o colunista social Bruno Astuto comentava sobre as notícias de casamentos de celebridades que chegaram ao fim neste primeiro semestre de 2012. Em meio aos comentários que lamentavam a separação desses casais, ele falou que a falta de ética no casamento pode acabar com a relação.
Taí um assunto que há tempos venho observando.
Entretanto, para minha surpresa, entra um vídeo com uma charge de Maurício Ricardo falando que a falta de ética no casamento é:

  • Jamais cortar as unhas ou limpar sobrancelha ou outros pelos do rosto na frente do cônjuge; 
  • Não aparecer com bobes no cabelo;
  • Não usar descolorante para os pelos na frente do cônjuge;
  • Preservar a maior privacidade possível sobre o que se faz no banheiro.
Fiquei surpresa demais com essas observações!
Não que ele esteja errado quanto a esses conselhos. Concordo que o excesso de intimidade atrapalha a sensualidade e o romantismo. O que me surpreendeu, foi ele se referir a essas condutas como sendo condutas antiéticas!!
Em meu artigo anterior, falo do conceito pessoal de ética, mas uma coisa é avaliar a correção ética de nossas atitudes, outra coisa é preservar a intimidade no momento em que fazemos coisas relativas a nossa higiene pessoal! Ser higiênico não é antiético! Muito pelo contrário, cuidar da higiene é uma forma primária de prevenir doenças em nós mesmos e nos outros.
Que espécie de confusão é essa que banaliza o significado de ética? Ainda mais quando acontece numa emissora campeã de audiência, partindo de uma pessoa de bom nível cultural e apoiada pela produção de um programa que alcança altos índices de audiência!
Falta de ética no casamento e nos relacionamentos amorosos de uma maneira geral tem a ver com o costume amplamente adotado de mentir, enganar, trapacear e até mesmo roubar ou esconder assuntos relativos à dinheiro.
Não é raro vemos pessoas de excelente reputação, que agem com honestidade e verdade em vários campos de suas vidas profissional e pessoal, serem pegas em atitudes antiéticas que envolvem justamente o cônjuge - que, pelo menos na teoria, deveria ser a pessoa mais querida e, portanto, respeitada e preservada para que a relação permaneça saudável e feliz.
Teoricamente, quando amamos uma pessoa, não queremos perdê-la. Quem ama verdadeiramente, quer manter a relação. Entretanto, é amplamente praticado por pessoas que se consideram e agem como alguém de bom caráter em todos os demais aspectos da vida o costume de trair, mentir, omitir e enganar justamente a pessoa que escolheu para compartilhar a vida. 
Agem sorrateiramente com medo de serem descobertos, mas não deixam de conseguir mentir olhando nos olhos de quem estão enganando. 
Não estou aqui para crucificar ninguém! Não me coloco acima de ninguém e não afirmo que nunca traí e nunca enganei ou que jamais agirei assim. 
Também é questionável a conduta de quem aceita se envolver com alguém que já é casado, apesar de não precisar mentir nem enganar ninguém.
Só penso como é curiosa essa característica humana.
Muitos, ao serem descobertos, mentem ainda mais para tentar limpar a sujeira e preservar a relação.
A dor da traição que parte do ser amado é uma das mais duras de serem enfrentadas. A dor é física! Como  não se importar com o sofrimento que se pode provocar na pessoa que amamos? 
(Imagem copiada da Internet - www.guiadicas.com)
Interessante também é perceber a reação dos familiares quando a traição é descoberta, especialmente se os traídos são os filhos. Mesmo que a traição seja perdoada, dificilmente o cônjuge traidor será perdoado pelos familiares de quem sofreu o golpe.
O pior da traição, que muitas vezes é perdoada, é a consequente perda da confiança. Essa, nunca mais terá a mesma integridade de antes. E esse pode ser o maior desafio dos infiéis: ter que conviver com alguém que não mais acredita em nada, até mesmo quando se fala a verdade. Além disso, dificilmente o ser traído vai conseguir agir com o mesmo carinho, o mesmo envolvimento e a mesma dedicação de antes. Muitos se tornam pessoas tristes e enchem os consultórios dos psicanalistas na esperança de resolver seus medos e desconfianças.
Haja amor incondicional para superar uma traição!
Entendo que o desejo sexual pode surgir a qualquer momento, quando menos esperamos. Mas se uma pessoa é forte o suficiente para não se deixar levar pela tentação de não devolver um objeto de valor que foi encontrado na rua, porque também não é forte o suficiente para resistir à tentação de um encontro amoroso que pode ferir a quem mais se ama? Ainda mais que é impossível prever o desenrolar daquela nova relação. Mesmo que seja uma relação com a pretensão de ser passageira e sem importância, ela existe e oferece o risco de se prolongar. Afinal, em termos de sentimento sexual ou amoroso, as pessoas sempre sabem como as relações começam, mas nunca sabemos como vai terminar.
Também é interessante perceber que pessoas éticas e honestas convivem com esse jogo de esconde-esconde durante anos! Quantos políticos e atletas norte-americanos viram suas carreiras despencarem por conta da divulgação de seus casos extra-conjugais? A cultura dos Estados Unidos é bem mais radical nesse assunto, embora haja um forte componente hipócrita entre os que condenam os cônjuges infiéis.  E isso serve também para padres pedófilos, pastores evangélicos que têm amantes e tantos outros casos de total incoerência entre o que se prega e a forma como se comporta.
Se o amor acabou, se o casamento não é mais motivo de alegria e felicidade, se encontramos outra pessoa capaz de despertar a paixão, não seria melhor dar fim a essa relação que não está bem antes de provocar tanto sofrimento? O final de um casamento é sempre muito doloroso, mas terminar com dignidade é bem mais correto e menos sofrido.
Sei que vou desagradar a muita gente com esse artigo, especialmente aquelas que costumam trair seus companheiros e companheiras, mas não abro mão do direito expressar minha opinião e ressalto que não as condeno. Considero até que, no mundo ideal, não deveria haver sentimentos como ciúme ou posse do ser amado. Portanto, não gostaria de que enxergassem minha opinião como sendo uma crítica. Apenas uma constatação da incompreensível conduta do ser humano.
Se ética nos relacionamentos fosse apenas a manutenção da intimidade, certamente haveria muito mais comemorações de bodas de ouro!


terça-feira, 19 de junho de 2012

O conceito pessoal de Ética

A definição do significado de ética é uma tarefa muito difícil. Desde a Grécia Antiga que os filósofos tentam encontrar uma explicação consensual, uma definição que atenda às exigências de todos, e até hoje isso não aconteceu.
Ética é algo que todos sabem o que é, mas não conseguem explicar.
Para facilitar, costuma-se dizer que ética é o que diferencia o que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto. Mas esses conceitos podem variar de pessoa para pessoa. A realidade é que o bem para uma pessoa pode também ser o mal para outra pessoa.
A explicação que adotei em minhas palestras é: "agir com ética é ter a certeza de que não vai sentir-se constrangida se essa atitude vier a ser amplamente divulgada". Mesmo que uma atitude tida como correta venha a ser mal interpretada, a pessoa que agiu com base em valores éticos terá uma explicação lógica, mesmo que nem todos concordem com os argumentos apresentados.
Entretanto, é curioso perceber que pessoas bem intencionadas são capazes de descobrir explicações lógicas absurdas para justificar seus atos antiéticos e/ou criminosos.
Soube de um estelionatário que aplicava golpes utilizando cartões de crédito clonados que dizia não sentir qualquer culpa por seus atos porque não estava lesando os titulares dos cartões já que as empresas costumam ressarcir seus clientes quando da comprovação da utilização fraudulenta. As verdadeiras vítimas seriam os bancos e as grandes operadoras, como Visa e Mastercard. Segundo seu conceito de ética, essas empresas alcançam lucros extraordinários com a cobrança de juros abusivos e não se importam com o transtorno que causam na vida daqueles que se endividam.
Não podemos deixar de reconhecer essa lógica "hobbin hoodiana" para justificar um crime que beneficia apenas um grupo de estelionatários.
Parte da taxa de juros cobrada pelos bancos e operadoras é para cobrir eventuais prejuízos com inadimplência e fraudes.
É comum o noticiário estampar matérias de corrupção, fraudes e tantos outros crimes cometidos por pessoas de alto nível educacional e excelente reputação que provocam a ruína de milhares famílias honestas.
Sem abordar os crimes praticados com dinheiro público, vemos alguns exemplos de como a falta de ética pode prejudicar diretamente a um grande número de pessoas.
Em janeiro deste ano a Polícia Federal fechou a empresa Piladelphia Empréstimos Consignados, com sede em Lagoa Santa - MG, que era comandada por um pastor da Igreja Evangélica Filadelphia. Apesar dos alertas emitidos pela CVM quanto às irregularidades verificadas na atuação da empresa, que pagava juros acima do mercado para seus investidores, a reputação e a credibilidade do pastor naquela região, associada à tentação do ganho fácil, fez com que inúmeras pessoas mantivessem suas aplicações. As notícias eram encaradas como boatos maldosos espalhados por desafetos políticos já que o pastor pretendia também concorrer a cargo político. 
Com o fechamento da financeira, milhares de chefes de famílias perderam suas economias e ainda se viram endividadas porque pegaram empréstimos com juros menores para aplicar na Filadelphia recebendo juros maiores.
Nos Estados Unidos, vimos o caso Madoff, detido em dezembro de 2008 pelo FBI depois de provocar um rombo estimado em 50 bilhões de dólares no mercado financeiro e que o tornou autor da maior fraude financeira de todos os tempos.
Madoff, com fama de filantropo, não só enganou entidades bancárias e grupos de investimento de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, como também são vítimas da sua fraude fundações e organizações de caridade. A página da internet da empresa exibia uma espécie de slogan: “O nome do proprietário está na porta.” A mensagem era clara. Quem não confiaria em alguém que empresta o próprio nome a uma companhia de investimentos?
Ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq, Bernard Madoff ressuscitou um velho esquema de investimentos conhecido como “pirâmide de Ponzi”, numa referência ao estelionatário Charles Ponzi, famoso na década de 20 do século passado por lesar 30 mil pequenos investidores americanos. A diferença é que Madoff enganou gente graúda e movimentou muito mais dinheiro. O esquema de Madoff era executado por meio de uma assessoria a fundos de hedge (equivalentes no Brasil aos fundos multimercados), instituições financeiras e investidores individuais. Ele oferecia retornos constantes, mesmo em épocas de queda nas ações. Para isso, usava o dinheiro de novos clientes, em vez de utilizar a receita obtida com as aplicações dos recursos. O modelo depende essencialmente do fluxo constante de novos investimentos. Se alguém interrompe a corrente, o que pode acontecer com a retirada em peso de grande volume de dinheiro, o esquema desmorona sobre seu próprio peso. Com a crise bancária a partir de outubro de 2008, Madoff teve pedidos de resgates de US$ 7 bilhões e a pirâmide desmoronou. 
Foto copiada da internet - vários sites e blogs
O episódio clama por uma pergunta inevitável: como um investidor consegue enganar tanta gente por dezenove anos? A resposta está numa única palavra: confiança. Madoff ganhou o respeito de bilionários e grandes corporações ao assegurar rendimentos entre 10% e 12%, independentemente das condições de mercado. As contas administradas pela Bernard L. Madoff Investment registraram ganhos de 1% ao mês com a pontualidade de um relógio. Por mais surpreendente que possa parecer, esse retorno absurdamente estável não despertou desconfiança
Madoff foi condenado a 150 anos de prisão por um tribunal de New York.
Em comum entre os casos mencionados temos a cegueira provocada em pessoas e até em grandes instituições que buscam atuar com ética e honestidade quando a possibilidade de ganhos fáceis bate à porta.
É mais do que sabido que dinheiro não brota do chão e que não existe mágica para fazer surgir dinheiro. Se uma aplicação oferece rendimentos tão acima dos concorrentes, alguma coisa deve estar errada. 
Nessa hora, a preocupação com a ética desaparece e o cifrão cega pessoas que economizam duramente para realizar sonhos e no fim acabam perdendo tudo.
A diferença é que nos Estados Unidos os culpados são condenados a muitos anos de prisão e cumprem suas penas na cadeia. 
Já no Brasil, a história nos mostra que depois de um rápida temporada na prisão, eles conseguem usufruir dos valores que desviaram para o exterior ou que registraram em nomes de "laranjas" antes de serem pegos. 




Fonte: Revista Isto É Dinheiro - dezembro de 2008