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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O conceito pessoal de Ética

A definição do significado de ética é uma tarefa muito difícil. Desde a Grécia Antiga que os filósofos tentam encontrar uma explicação consensual, uma definição que atenda às exigências de todos, e até hoje isso não aconteceu.
Ética é algo que todos sabem o que é, mas não conseguem explicar.
Para facilitar, costuma-se dizer que ética é o que diferencia o que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto. Mas esses conceitos podem variar de pessoa para pessoa. A realidade é que o bem para uma pessoa pode também ser o mal para outra pessoa.
A explicação que adotei em minhas palestras é: "agir com ética é ter a certeza de que não vai sentir-se constrangida se essa atitude vier a ser amplamente divulgada". Mesmo que uma atitude tida como correta venha a ser mal interpretada, a pessoa que agiu com base em valores éticos terá uma explicação lógica, mesmo que nem todos concordem com os argumentos apresentados.
Entretanto, é curioso perceber que pessoas bem intencionadas são capazes de descobrir explicações lógicas absurdas para justificar seus atos antiéticos e/ou criminosos.
Soube de um estelionatário que aplicava golpes utilizando cartões de crédito clonados que dizia não sentir qualquer culpa por seus atos porque não estava lesando os titulares dos cartões já que as empresas costumam ressarcir seus clientes quando da comprovação da utilização fraudulenta. As verdadeiras vítimas seriam os bancos e as grandes operadoras, como Visa e Mastercard. Segundo seu conceito de ética, essas empresas alcançam lucros extraordinários com a cobrança de juros abusivos e não se importam com o transtorno que causam na vida daqueles que se endividam.
Não podemos deixar de reconhecer essa lógica "hobbin hoodiana" para justificar um crime que beneficia apenas um grupo de estelionatários.
Parte da taxa de juros cobrada pelos bancos e operadoras é para cobrir eventuais prejuízos com inadimplência e fraudes.
É comum o noticiário estampar matérias de corrupção, fraudes e tantos outros crimes cometidos por pessoas de alto nível educacional e excelente reputação que provocam a ruína de milhares famílias honestas.
Sem abordar os crimes praticados com dinheiro público, vemos alguns exemplos de como a falta de ética pode prejudicar diretamente a um grande número de pessoas.
Em janeiro deste ano a Polícia Federal fechou a empresa Piladelphia Empréstimos Consignados, com sede em Lagoa Santa - MG, que era comandada por um pastor da Igreja Evangélica Filadelphia. Apesar dos alertas emitidos pela CVM quanto às irregularidades verificadas na atuação da empresa, que pagava juros acima do mercado para seus investidores, a reputação e a credibilidade do pastor naquela região, associada à tentação do ganho fácil, fez com que inúmeras pessoas mantivessem suas aplicações. As notícias eram encaradas como boatos maldosos espalhados por desafetos políticos já que o pastor pretendia também concorrer a cargo político. 
Com o fechamento da financeira, milhares de chefes de famílias perderam suas economias e ainda se viram endividadas porque pegaram empréstimos com juros menores para aplicar na Filadelphia recebendo juros maiores.
Nos Estados Unidos, vimos o caso Madoff, detido em dezembro de 2008 pelo FBI depois de provocar um rombo estimado em 50 bilhões de dólares no mercado financeiro e que o tornou autor da maior fraude financeira de todos os tempos.
Madoff, com fama de filantropo, não só enganou entidades bancárias e grupos de investimento de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, como também são vítimas da sua fraude fundações e organizações de caridade. A página da internet da empresa exibia uma espécie de slogan: “O nome do proprietário está na porta.” A mensagem era clara. Quem não confiaria em alguém que empresta o próprio nome a uma companhia de investimentos?
Ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq, Bernard Madoff ressuscitou um velho esquema de investimentos conhecido como “pirâmide de Ponzi”, numa referência ao estelionatário Charles Ponzi, famoso na década de 20 do século passado por lesar 30 mil pequenos investidores americanos. A diferença é que Madoff enganou gente graúda e movimentou muito mais dinheiro. O esquema de Madoff era executado por meio de uma assessoria a fundos de hedge (equivalentes no Brasil aos fundos multimercados), instituições financeiras e investidores individuais. Ele oferecia retornos constantes, mesmo em épocas de queda nas ações. Para isso, usava o dinheiro de novos clientes, em vez de utilizar a receita obtida com as aplicações dos recursos. O modelo depende essencialmente do fluxo constante de novos investimentos. Se alguém interrompe a corrente, o que pode acontecer com a retirada em peso de grande volume de dinheiro, o esquema desmorona sobre seu próprio peso. Com a crise bancária a partir de outubro de 2008, Madoff teve pedidos de resgates de US$ 7 bilhões e a pirâmide desmoronou. 
Foto copiada da internet - vários sites e blogs
O episódio clama por uma pergunta inevitável: como um investidor consegue enganar tanta gente por dezenove anos? A resposta está numa única palavra: confiança. Madoff ganhou o respeito de bilionários e grandes corporações ao assegurar rendimentos entre 10% e 12%, independentemente das condições de mercado. As contas administradas pela Bernard L. Madoff Investment registraram ganhos de 1% ao mês com a pontualidade de um relógio. Por mais surpreendente que possa parecer, esse retorno absurdamente estável não despertou desconfiança
Madoff foi condenado a 150 anos de prisão por um tribunal de New York.
Em comum entre os casos mencionados temos a cegueira provocada em pessoas e até em grandes instituições que buscam atuar com ética e honestidade quando a possibilidade de ganhos fáceis bate à porta.
É mais do que sabido que dinheiro não brota do chão e que não existe mágica para fazer surgir dinheiro. Se uma aplicação oferece rendimentos tão acima dos concorrentes, alguma coisa deve estar errada. 
Nessa hora, a preocupação com a ética desaparece e o cifrão cega pessoas que economizam duramente para realizar sonhos e no fim acabam perdendo tudo.
A diferença é que nos Estados Unidos os culpados são condenados a muitos anos de prisão e cumprem suas penas na cadeia. 
Já no Brasil, a história nos mostra que depois de um rápida temporada na prisão, eles conseguem usufruir dos valores que desviaram para o exterior ou que registraram em nomes de "laranjas" antes de serem pegos. 




Fonte: Revista Isto É Dinheiro - dezembro de 2008

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