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Carioca, formada em jornalismo, Marcia Cristina iniciou a carreira na área de Comunicação Social do BNH e da Caixa Econômica Federal. Foi repórter de TV em Salvador e editora de reportagens em Curitiba. Em 1995 passou para a área de negócios e foi gerente geral de unidades de negócios da Caixa na Bahia. Pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM/SP (ministrado em Salvador) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica de Salvador em parceria com a UFRJ. Em 2009 lançou o livro “Ética no Ambiente de Trabalho, editora Campus/Elsevier. Entre 2013 e 2016 trabalhou na área de educação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, no Ministério do Esporte, exercendo também a Diretoria de Informação e Educação em defesa da Ética no Esporte. Em 2018 participou da coletânea, Criativos, Inovadores e Vencedores, editado pela Literare Books, São Paulo e lançou o segundo livro solo, Conduta Ética e Sustentabilidade Empresarial, pela editora Alta Books. Vive agora em Portugal.

sábado, 9 de julho de 2011

Para que desenvolver a consciência ética?

Entre tantas coisas que precisam ser tratada dentro de uma empresa, principalmente dentro das grandes empresas, por que perder tempo em trabalhar as questões éticas?
Nas maiores empresas do mundo as questões relativas à ética empresarial já estão “administradas”. Em muitas, a direção e os conselhos administrativos constituíram a comissão responsável pela criação do código de ética. Esses códigos foram impressos e distribuídos a todos os colaboradores, fornecedores, acionistas e demais stakeholders. Em muitas dessas empresas, foi desenvolvido um canal de denúncias e aprimoraram-se os sistemas de controle na execução de rotinas. As ocorrências estão sendo apuradas e resolvidas pela nova área de sustentabilidade, ou pela ouvidoria, ou ainda podem estar sob a responsabilidade da área de gestão de pessoas, auditoria, compliance, enfim, cada empresa estruturou seu organograma para cuidar dos assuntos relativos à ética.
Entretanto, ainda não foi claramente percebido que muitas das providências adotadas para dar à empresa a chancela de “empresa alinhada com os valores éticos”, com exceção ao código de conduta ética, são rotinas reativas, dedicadas a identificar, apurar e punir ocorrências já identificadas.
A maioria dessas ocorrências não chega a comprometer o resultado da empresa. Muitas são tão “insignificantes” que nem chegam ao conhecimento das demais áreas.
Entretanto, existe um volume considerável de ocorrências que não aparecem, e, portanto, não podem ser mensuradas. Passam despercebidas e vão somar-se ao custo invisível das empresas.
Um bom exemplo é o que aconteceu em 2010 com a Britsh Petroleum – BP, uma empresa de energia global com mais de 80.000 empregados e com operações em mais de 100 países.
Em abril de 2010, uma explosão na plataforma petrolífera "Deepwater Horizon", de propriedade da Transocean com concessão da BP, provocou o afundamento da plataforma e causou a morte de 11 trabalhadores. A explosão deu origem a derramamento de petróleo no Golfo do México em proporções jamais vista.
Entre muitas histórias especulativas, circularam da imprensa mundial as notícias de que alguém desligou o sistema de alarme da plataforma para que os petroleiros pudessem dormir melhor. Outra versão diz que o equipamento estava com defeito e que o concerto exigiria a suspensão dos trabalhos na plataforma, o que causaria um prejuízo de 500 mil dólares/dia.
O principal executivo da BP, Tony Hayward foi duramente criticado por aproveitar o tempo livre para passear de iate com seu filho poucos dias depois do acidente.
O mais extraordinário é que antes do ocorrido no Golfo do México, a BP era uma das empresas de maior credibilidade e respeitabilidade do mercado internacional por suas ações referentes à sustentabilidade.
A British Petroleum gastou bilhões de dólares nas operações para combater o vazamento de petróleo no Golfo do México, que se tornou o maior desastre ambiental dos Estados Unidos, sem contar os gastos para resolver o problema do petróleo que ficou no fundo do oceano.
Os investidores começaram a bater em retirada. A empresa foi excluída do Dow Jones Sustainability Index, índice que reúne ações de empresas preocupadas com a sustentabilidade.
A venda acelerada das ações da BP fez com que o valor da empresa caísse em US 20 bilhões.
As conseqüências desse episódio ainda provocaram o aumento dos processos judiciais movidos por pessoas que tiveram seus negócios prejudicados.
Segundo Ricardo Voltolini, editor da revista Idéia Socioambiental, o episódio BP ensina algumas coisas para quem trabalha com sustentabilidade.
(1) As questões do universo da sustentabilidade se impõem como variáveis cada vez mais críticas no sucesso ou fracasso de um negócio. Escolhas erradas, falhas estruturais, decisões infelizes e deslizes em processos que promovam impactos sociais ou ambientais serão crescentemente punidos com perda de valor econômico.
O prejuízo será tanto maior quanto maior forem a comoção pública em torno do caso e o dano causado a um ecossistema ou a um grupo da sociedade.  
(2) Quando a sustentabilidade fica só no discurso, os riscos aumentam. O caso BP é típico. Dez anos antes, a empresa anunciou, por meio de uma milionária campanha de propaganda (estima-se algo como US$ 200 milhões), que passaria a ser chamada apenas pelas iniciais, usando, como recurso para fortalecer o novo posicionamento, o mote “Beyond Petroleum.”
Os números, no entanto, mostravam que a bandeira tinha ficado apenas no discurso. Em 2008, quando o Greenpeace tentou conferir um prêmio de greenwashing à BP, os borderôs revelavam um investimento pífio de pouco mais de 1% em energia solar. Óleo e gás continuaram recebendo 93% de financiamento.
O que se pode tirar do exemplo da BP?
A consciência ética determina que as decisões devem sempre ser analisadas sob aspecto da ética.
No caso da BP, a pessoa responsável por decidir quanto ao conserto do defeito no equipamento de segurança, ou quem optou por desligar o equipamento, certamente não considerou o risco ao qual estavam expondo não apenas o pessoal que trabalhava na plataforma, mas também a companhia e todo um ecossistema, além comprometer enormemente dos meios de sobrevivência de milhares de famílias.
Essa decisão implicava num Dilema Ético, já que considerava o não o custo do conserto em si, mas o quanto a BP perderia durante os dias de interrupção na operação de extração do petróleo.     Analisada sob todos os focos de análise do dilema ético, conseqüências, integridade ou princípios, a decisão não estava alinhada aos valores éticos.
Agora surge a pergunta que não quer calar: quanto custou à Britsh Petroleum ou a “Beyond Petroleum” a falta de preparo de um empregado para tomar decisões alinhadas com os valores éticos?
A ética é por natureza flexível, pois varia conforme o ponto de vista de cada pessoa. Um bom exemplo é quando duas os mais pessoas disputam uma promoção. O selecionado para assumir o cargo vai entender que sua escolha foi justa, mas os outros, certamente, não terão a mesma opinião a respeito aquele resultado.
Pessoas preparadas para identificar os dilemas éticos e avaliá-los corretamente têm mais chances de evitar as próprias condutas equivocadas e também de perceber, criticar e denunciar as condutas antiéticas de outras pessoas.
Não obstante, o retorno do investimento no desenvolvimento de pessoas contribui para criar novas gerações mais éticas, pois os conceitos aprendidos na empresa serão, certamente, utilizados nos demais grupos sociais freqüentados pelos empregados, como: família, amigos, igreja e condomínios.
As avaliações de condutas éticas deverão influenciar também as decisões referentes ao meio ambiente, ao convívio social e as relações humanas dentro e fora da empresa.

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